Sem obras em vista, novas placas serão instaladas para conter acidentes no Anel Rodoviário


O ideal seria refazer o traçado, desarmando as armadilhas que se tornaram os estreitamentos de pista. Mas como as obras prometidas há tanto tempo no Anel Rodoviário de Belo Horizonte não saem do papel, a forma encontrada para tentar reduzir o trágico número de acidentes é alertar os motoristas dos veículos pesados de que eles colocam em risco a vida de todo mundo que passa pela rodovia ao trafegarem pela faixa da esquerda, irregularidade recorrente.

 

Por iniciativa da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), em parceria com aFederação das Empresas do Transporte de Cargas de Minas Gerais (), serão instaladas 45 novas placas com essa finalidade ao longo dos 27,5 quilômetros do Anel. “A imprudência dos motoristas é um dos fatores que tornam a rodovia perigosa. Por isso, criamos o projeto das novas placas com frases educativas de alerta”, informa o tenente Pedro Henrique Barreiros, comandante do policiamento no trecho.

 

Não há previsão de obras no Anel, informa o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit)

De acordo com o militar, a previsão é a de que as placas sejam instaladas em no máximo um mês, ou seja, até a segunda quinzena de setembro. “Elas estão sendo confeccionadas em Ubá (na Zona da Mata) e estamos aguardando a entrega”, diz o oficial.

 

Mais mortes

O objetivo é dar mais segurança a motoristas e passageiros e reduzir as estatísticas. De janeiro a julho deste ano, foram registrados 789 acidentes no Anel, queda de 26,9% em relação ao mesmo período de 2015 (1.080 registros). Porém, o número de feridos aumentou 10,4% (de 451 para 498) e o de mortos 50% (de 14 para 21), segundo a PMRv.

 

Cerco da fiscalização não inibe carretas pela pista da esquerda

Morador do Padre Eustáquio, na região Noroeste, um dos bairros de BH cortados pelo Anel Rodoviário, o representante comercial Silas Bento, de 52 anos, passa pela rodovia praticamente todos os dias. “Sempre que acontece uma tragédia com veículos de carga a fiscalização é reforçada e as carretas deixam de trafegar pela faixa da esquerda. Mas, passado algum tempo, volta tudo de novo. É assustador ver pelo retrovisor um caminhão em alta velocidade se aproximando”, queixa-se.

“O Anel tem mais de 50 anos. Sem obras de modernização, não suporta o número de veículos” (Tenente Barreiros, chefe do policiamento).

O motoboy Thalles Ponciano, de 26, também se sente inseguro no Anel. “Eu evito passar por ele, mas as vezes não tem jeito. Há desrespeito de toda natureza, mas o que mais me preocupa é veículo pesado descendo embalado pela esquerda. Se eles precisarem parar rápido por causa de uma retenção, fatalmente não vão conseguir e sairão arrastando quem estiver pela frente”, diz.

 

O risco se agrava em trechos com pontes e viadutos, onde há a redução de três para duas faixas, como destaca o engenheiro civil Márcio Aguiar, mestre em transportes e coordenador dos cursos de engenharia da Universidade Fumec. “Há um efeito funil e grande possibilidade de engavetamentos”.

 

Monitoramento

Comandante do policiamento no Anel Rodoviário, o tenente Pedro Henrique Barreiros reconhece os abusos cometidos por motoristas de veículos de carga. “Acontece, apesar da fiscalização. Todos os dias fazemos ações repressivas e preventivas. Mantemos um efetivo constante, com militares motivados e atendimento rápido em casos de acidentes”, afirma.

 

Ele ressalta que as multas para veículos de carga trafegando pela faixa da esquerda são aplicadas sem a necessidade da abordagem do motorista. “Basta o policial flagrar a irregularidade para que o infrator seja multado”.

 

De janeiro a julho deste ano, a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) aplicou 762 multas para esse tipo de infração no Anel, segundo o setor de estatísticas da corporação. A média é de quase 109 por mês, ou 3,5 todos os dias.

 

Radares com função específica para aumentar a segurança

Entre os especialistas em transportes e fiscalização de trânsito há o consenso de que o Anel Rodoviário de BH precisa de intervenções complexas, que exigem grandes investimentos, para aumentar a capacidade de absorção do fluxo e, consequentemente, a segurança de quem passa pela rodovia.

 

Planejamentos existem há mais de dez anos, como destaca o engenheiro civil Márcio Aguiar. Mas, diante da falta de previsão do início das obras, ele aponta uma alternativa: “Já tentaram de tudo. Colocaram mais radares para conter excesso de velocidade e tentaram criar áreas de escape para veículos pesados. Não adiantou muito. É preciso instalar equipamentos eletrônicos específicos para multar as carretas pela faixa da esquerda”, avalia o mestre em transportes.

 

Ele lamenta o engavetamento do projeto do Anel Viário do Contorno Norte, conhecido como Rodoanel. Com 67,5 quilômetros de extensão, a rodovia iria do km 436 da BR-381, em Ravena, distrito de Sabará, à junção da Fernão Dias (outra parte da BR-381) com a Via Expressa de Betim. “Tiraria cerca de 80% do tráfego pesado de veículos de carga do Anel”, destaca Aguiar.

 

Ultrapassado

O tenente Pedro Henrique Barreiros também critica a falta de obras no Anel Rodoviário. “Foi projetado para veículos de cinco décadas atrás”, diz o comandante do policiamento na via.

 

Para inibir o excesso de velocidade, além de um radar móvel montado em pontos críticos, a PMRv conta com 19 fixos. A corporação aguarda o início da operação de mais dez, ainda sem data prevista.

 

“Placa de advertência é importante, mas o ideal é instalar radar que multe carreta na faixa da esquerda” (Márcio Aguiar, mestre em transportes)

 

Últimos acidentes no Anel Rodoviário de BH:

18 de agosto: oito carros e duas motos se envolveram em um engavetamento no km 471, no bairro Padre Eustáquio (Noroeste), que deixou pelo menos quatro feridos

16 de agosto: de madrugada, pelo menos sete pessoas ficaram feridas no tombamento de um ônibus no Madre Gertrudes (Oeste)

16 de agosto: de noite, um caminhão tombou no Betânia (Oeste) e uma mulher ficou ferida

24 de julho: três pessoas morreram carbonizadas após um Renault Megane rodar na pista, bater em um poste e pegar fogo no bairro Universitário (Nordeste)

14 de julho: a batida entre uma carreta e um carro interditou o Anel no Ermelinda (Noroeste)

1º de julho: quatro carros e um caminhão se envolveram em uma batida na altura da praça São Vicente, no Padre Eustáquio (Noroeste). Não houve vítimas

17 de junho: o motorista de um New Beetle, de 41 anos, morreu ao perder o controle da direção e bater o veículo no Dom Cabral (Noroeste)

15 de junho: uma carreta passou por cima de um veículo de passeio no Califórnia (Noroeste), próximo ao viaduto da BR-040, deixando uma pessoa ferida.

 

Fonte: Hoje em Dia

Foto: Arquivo – Frederico Haikal/HD