Indústria brasileira está estagnada


A produção da indústria nacional ficou estagnada em outubro, na comparação com o mês anterior, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve variação nula em relação a setembro. Assim, o setor industrial acumula queda de 3% nos 10 meses do ano. No acumulado dos últimos 12 meses, o recuo é de 2,6%, o mais intenso desde setembro de 2012, quando a queda foi de 2,9%. Em relação a outubro de 2013, a queda é de 3,6%. Segundo André Luiz Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, o resultado estável de outubro não altera a tendência de queda do setor. “Embora haja estabilidade, já há claramente um predomínio de resultados negativos. Embora haja repetição do patamar que a indústria operava no mês anterior [-0,2% em setembro], já há um número evidente de segmentos mostrando algum tipo de recuo nessa produção”, diz Macedo.

Maioria dos ramos industriais está em queda

De acordo com o levantamento, 16 dos 24 ramos pesquisados registraram queda em outubro em relação a setembro. “Aqui [no resultado do mês de outubro] não há nenhum tipo de influência de efeito calendário. Esse é o oitavo mês consecutivo de queda para esse tipo de comparação para a indústria geral. Tenho todas as categorias econômicas com resultados negativos na comparação com outubro de 2013”, analisou o especialista. De acordo com ele, a soma de bens intermediários com bens de capital se refere a cerca de 70% do total da indústria. O especialista do IBGE acrescentou que, de março a junho, o total da indústria mostrou uma perda acumulada de 3,2%. No entanto, de junho a outubro, houve um ganho acumulado de 1%. “Mesmo com algum tipo de melhora, é insuficiente para repor as perdas concentradas de março ao mês de julho”, diz. “Claro que há redução da demanda doméstica, da demanda interna. E combinado com a questão dos estoques mais acentuados, justifica muito esse comportamento mais moderado que a indústria mostra nesses últimos meses setembro e outubro”, afirma.

Influências negativas

As principais influências negativas em outubro em relação a setembro partiram de produtos farmacêuticos e farmoquímicos (-9,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-2,2%), atividades de produtos de minerais não-metálicos (-2,1%), produtos de borracha e material plástico (-1,7%), couro, artigos de viagem e calçados (-3,2%), produtos do fumo (-6,2%) e bebidas (-1,3%). “Outro impacto negativo importante fica com setor de veículos automotores. Essa atividade mostra queda de 2,2%, lembrando que vinha de dois meses com resultados positivos. Tem resultado semelhante ao total da indústria. De março a junho houve queda acentuada (28,1%). Ou seja, mesmo com melhora recente de julho a outubro, ainda assim foi insuficiente para repor as perdas”, diz Macedo.

Influências positivas

Por outro lado, entre os seis ramos que ampliaram a produção no mês de outubro, o principal desempenho veio dos produtos alimentícios (2,5%). Os setores de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (4,7%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (0,9%) e outros equipamentos de transporte (5,0%) também exerceram impacto positivo. Na análise das categorias econômicas, bens intermediários (0,0%), como papel e vidro, e bens de capital (0,0%), como máquinas, acompanharam o resultado do total da indústria. Já os setores produtores de bens de consumo duráveis, como carros, e de bens de consumo semi e não-duráveis, como roupas e alimentos, tiveram queda de -0,8% e -0,6%, respectivamente.

Acumulado de 10 meses de 2014

No índice acumulado para os 10 meses do ano, a queda de 3% engloba três das quatro grandes categorias econômicas, 19 dos 26 ramos, 58 dos 79 grupos e 63% dos 805 produtos investigados. Entre os setores, o principal impacto negativo veio dos veículos automotores, reboques e carrocerias (-18,0%). Por outro lado, entre as sete atividades que ampliaram a produção, as principais influências partiram de indústrias extrativas (5,5%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,2%) e produtos farmacêuticos e farmoquímicos (5,4%). Entre as grandes categorias econômicas, o menor dinamismo veio de bens de consumo duráveis (-9,6%) e bens de capital (-8,8%), pressionadas pela redução na fabricação de automóveis (-16,7%), na primeira, e de bens de capital para equipamentos de transporte (-16,6%), na segunda. Por outro lado, o setor produtor de bens de consumo semi e não-duráveis (0,2%) foi o único que apontou taxa positiva.

O desempenho industrial visto pela CNI

O gerente de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, disse nessa terça-feira que a expectativa é que o setor encerre 2014 sem consolidar a recuperação na produção. “Acho que vai ficar para 2015”, disse Castelo Branco, em entrevista para comentar a pesquisa Indicadores Industriais, com dados de outubro, divulgada na segunda-feira. “A consolidação de uma recuperação, que poderia vir na esteira de uma melhora do faturamento [o indicador cresceu em outubro 3,1% pela quarta vez consecutiva], não se espraiou para a atividade produtiva, medida pelas horas trabalhadas, pelo uso da capacidade instalada e pelo emprego”, comentou, lembrando a queda desses indicadores, que sinalizam maior ou menor aquecimento do setor.

Esperança no ajuste fiscal anunciado

Além do faturamento, a pesquisa divulgada ontem mostrou elevação na massa salarial e no rendimento real, um dado que, do ponto de vista da CNI, não é tão bom. “Como não temos aumento da produtividade para acompanhar, isso acaba se materializando em aumento de custos”, disse Flávio Castelo Branco. O emprego, apesar de ter caído 0,1%, desacelerou a retração vista em outros meses. Para Castelo Branco, a previsão de um novo ciclo de elevação da taxa básica de juros, a Selic, e de maior controle fiscal, devem influir positivamente na indústria a partir do próximo ano. “O Copom tem outra reunião e o ciclo de alta de juros deve continuar. Tem também o pré-anúncio de maior rigor na política fiscal. São políticas macroeconômicas de controle, visando ajuste da inflação, mas que repercutem na demanda global e, portanto, na atividade da indústria”, destacou o gerente de Política Econômica da CNI.

Castelo Branco disse ainda que, embora exista “preocupação” quanto à possibilidade de um maior aperto fiscal influenciar nas desonerações até agora concedidas à indústria, a ideia é que isso seja contrabalançado por mudanças de caráter estrutural na carga tributária. “Algumas desonerações tinham caráter temporário. Outras foram tornadas permanentes, como a desoneração da folha de pagamento. Quando levantamos os principais problemas que afetam as empresas industriais, a carga tributária sempre é o maior: impacta a competitividade dos nossos produtos. Estamos discutindo para ver se aliviamos o ônus, a carga não explícita. Aquela que faz a empresa gastar com o departamento de contabilidade, o escritório”, declarou.

Fonte: Blog do PCO