Assessor de segurança da Fetcemg fala sobre roubo de cargas no estado
Tentativa de assalto na BR-040 resultou em acidente com a morte de um dos motoristas. Em 10 meses de 2018, Minas registrou quase três roubos de carga por dia
Um problema que se tornou rotina nas estradas que cortam Minas Gerais terminou em morte ontem na BR-040, em Itabirito, na Região Central de Minas. Em tentativa de roubo a um carregamento de bebidas, um dos alvos mais visados por criminosos, os bandidos causaram acidente e provocaram a morte de um caminhoneiro. Levantamento da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg) feito entre janeiro e outubro do ano passado mostra quase três roubos e furtos por dia nas estradas que cortam Minas. Além da 040, trechos de outras três rodovias – BRs 381, 262 e 135 – têm pontos considerados críticos.
No caso de ontem, os veículos colidiram por volta das 5h30 no Km 580, perto da chamada Curva do Sabão. O motorista Leandro Ferreira Lamach, de 31 anos, conduzia o caminhão placa HML-8847, de Belo Horizonte, carregado com cerveja para entrega em Barbacena, também na Região Central. Ele contou que trafegava na pista sentido Rio de Janeiro, quando um Ford Ka prata emparelhou com o caminhão e os ocupantes gritaram para ele parar. Em seguida, ouviu um tiro. O automóvel tem, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), placa clonada de BH (QNB-9392).
Lamach acredita que o disparo tenha assustado o motorista do caminhão placa GZY-6394, de Itaúna, que vinha no sentido oposto. O condutor perdeu o controle e bateu na lateral do caminhão de cerveja. Outras testemunhas que passavam no local no momento da colisão disseram que o veículo que ia em direção ao Rio tentou se desvencilhar do carro dos assaltantes e a carreta formou um L com a carroceria, invadindo a contramão e sendo atingida na lateral traseira pelo caminhão de minério. Segundo representantes da empresa dona do caminhão, o condutor estava a caminho de mina em Itabirito para buscar carga de minério.
Com o impacto, a cabine do caminhão de minério foi arrancada e o motorista morreu preso às ferragens. O motor se desprendeu da cabine, que também se soltou da carroceria. O outro caminhão teve eixos arrancados, que ficaram às margens da pista a mais de 50 metros de distância. A carga de cerveja ficou espalhada por vários metros da rodovia. O Ford Ka foi atingido na lateral sem muitos danos e parou fora da pista. Em fuga, os bandidos levaram um i30, que estava ocupado por um grupo de quatro estudantes de medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a caminho do litoral do Espírito Santo, e abandonaram o veículo às margens da estrada.
ROUBO DE CARGA Cigarros, combustíveis, eletroeletrônicos, bebida, medicamentos e gêneros alimentícios estão entre as 10 mercadorias mais visadas por ladrões de cargas, segundo a Fetsemg. Ano passado, foram registrados em Minas 842 roubos e furtos de cargas nos 10 primeiros meses do ano – média de 2,8 por dia. Houve queda de 28% em relação ao ano anterior, quando as ocorrências somaram 1.169 no mesmo período.
Na BR-040, no sentido Rio, o trecho entre Nova Lima e Carandaí registra a maior parte das ocorrências. No sentido Brasília, é o percurso entre Sete Lagoas e Paraopeba e na altura de Felixlândia. Na BR-135, sentido Montes Claros, o trajeto com mais riscos vai da entrada da 040, em Curvelo, até Corinto. A BR-381 também tem seus pontos perigosos: no sentido Espírito Santo, entre Caeté e João Monlevade; e na direção de São Paulo, de Itatiaiuçu a Carmópolis e, depois, de Campanha até Extrema.
“Esses pontos são cheios de rotas de fuga. Os criminosos aproveitam horários da madrugada, de troca de plantões da Polícia Rodoviária ou até mesmo quando ela está atendendo algum acidente”, afirma o assessor de segurança da Fetcemg, Ivanildo dos Santos. Segundo ele, o investimento em tecnologia de monitoramento e segurança chega hoje a 20% do faturamento das transportadoras. “Isso tudo sem contar o prejuízo humano. O motorista que passa por situação dessa tem que fazer, muitas vezes, tratamento psicológico. Mas o maior prejuízo é perder a vida. Isso não tem volta.”
Foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press
Fonte: Jornal Estado de Minas