Artigo: CNT completa 70 anos de atuação


A Confederação Nacional do Transporte (CNT) está completando 70 anos. Tenho o privilégio de conviver com os principais artífices dessa história. Uma verdadeira saga a criação de um locus voltado para a representação legítima de quem exerce a função. Dar voz direta das ofertas e demandas, direitos e deveres, das dores, das oportunidades, além da capacitação de um setor empresarial específico. Insisto com esses bandeirantes, todas as vezes que posso, que deveriam escrever e publicar um livro sobre os bastidores da criação da CNT. É um pouco da história do Brasil, um pedaço de nossa história, que pouco sabemos.

Como parte de sua história, a CNT, em 2007, criou o Programa Ambiental do Transporte, o Despoluir. Ocuparia todo o espaço aqui reservado se fosse citar as inúmeras contribuições e conquistas para a agenda ambiental gerada por esse setor, a partir desse Programa. A produção de informações técnicas é gigante, e de obrigatório conhecimento de toda liderança que queira tratar de políticas e projetos para área de logística, combustível e transporte, com base em fatos e dados, e, não, ao sabor de lobbies e interesses terceiros. A elas, o recado: visitem a página do Despoluir/CNT. Ficarão positivamente surpreendidas.

Essa chamada pode até parecer óbvia, mas, com 17 anos na representação do setor na agenda ambiental, testemunho o contrário.  Líderes públicos e privados, não raro, empunham bandeiras em defesa de técnicas, produtos e soluções operacionais e de gestão para o transporte nacional, sem conhecer o dia a dia do transportador, sem nada saber e entender da realidade dessa atividade empresarial tão peculiar e desafiadora.

Esse cenário me faz lembrar uma frase do escritor Salman Rushdie, em um de seus romances: “tudo que é corriqueiro acaba se tornando invisível”.

Recentemente, passei uns dias de férias, outro privilégio, em um dos vários paraísos do País com a maior biodiversidade do planeta, o Brasil. Mais especificamente, no interior do Nordeste (Ceará e Piauí). Foram passeios e mais passeios. Maravilhas.

O acesso aos locais, a partir do aeroporto, não é simples, embora deslumbrante. Quase sempre, sobre dunas e alagados. Chegando ao local, hotéis, restaurantes, comércio e serviços, abastecidos. Nada falta para os turistas e visitantes. Não sendo resultado do trabalho de fadas e nem magias, e, certamente, não caiu do céu, tudo chegou pelas mãos, mais especificamente, pelas rodas, do transportador. Tão corriqueiro acontecimento, por isso invisível.

De fato, em um paraíso assim, ninguém se lembra do esforço desses profissionais, os inúmeros obstáculos e os riscos daqueles que permitem, sem stress, que possamos usufruir de tanta beleza levando apenas coisas pessoais. Comemos, bebemos, adquirimos bens, consumimos, enfim, tudo para o prazer e a sobrevivência, sem qualquer esforço, além de comprar e pagar. Parem e pensem quantos e quantas vezes viveram essa situação, e, como são invisíveis, espantem-se em saber como tudo chegou e chega diariamente aos mais longínquos paraísos naturais. Especialmente quem foi de automóvel e reclamou, durante quase toda a viagem, das péssimas condições das estradas, deve ter um único pensamento: o que seria do Brasil sem os transportadores?

Obrigada ao empresário do transporte que arrisca seu capital em investimento de atividade tão invisível, se não desprestigiada. Obrigada ao transportador que arrisca a vida e transforma a solidão dos caminhos, terrestres, aéreos ou aquáticos em convívio confortável e feliz de muitos grupos e famílias.brigada e parabéns à CNT, diretoria e equipe técnica altamente qualificadas, pelo esforço de representar tão importante atividade. Corriqueira, sendo até invisível, porém, vital!

 

Patrícia Boson - Membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama)