Artigo: A Renovação de Frotas e a Transição para Veículos de Baixa Emissão no Brasil


O transporte rodoviário brasileiro vive um paradoxo: é essencial à economia, mas ao mesmo tempo representa um desafio ambiental devido à idade avançada de sua frota e à emissão de poluentes.

Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT, 2024), 55% dos caminhões em circulação no país têm mais de 14 anos de uso. Além disso, os veículos fabricados antes de 1989 ainda somam mais de 150 mil unidades. Essa realidade compromete a eficiência, a segurança e eleva os custos operacionais. Caminhões mais antigos consomem até 30% mais combustível, geram maior índice de falhas mecânicas e contribuem significativamente para a emissão de material particulado e CO2.

A renovação de frotas com foco em veículos de baixa emissão, como os elétricos, híbridos e movidos a GNV ou biometano, representa uma oportunidade não apenas ambiental, mas também econômica. Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) mostram que as vendas de veículos eletrificados no Brasil cresceram 89% em 2024. Grandes operadoras logísticas, como a DHL e a JSL, já projetam migrar 70% de suas frotas para elétricos até 2030.

“A transição para energias sustentáveis é inevitável”, afirma Elon Musk, CEO da Tesla. A substituição de caminhões antigos por modelos de 2022 em diante poderia reduzir em até 86% as emissões do setor, segundo levantamento publicado pela Folha de S.Paulo (2024). A Fundação Dom Cabral também aponta que a adoção de veículos Euro 6 pode economizar até R$ 28 bilhões por ano em custos com saúde pública e perdas econômicas devido à poluição.

O programa Renovar, lançado pelo Governo Federal em 2023, busca acelerar essa modernização com incentivos fiscais, subsídios e linhas de crédito específicas. O projeto prevê o sucateamento de 100 mil veículos até 2030, priorizando motoristas autônomos e pequenas transportadoras. A parceria com o BNDES tem disponibilizado crédito com taxas subsidiadas, porém a adesão ainda é baixa: apenas 18% das metas foram atingidas até abril de 2025.

Além da questão ambiental, renovar a frota traz ganhos operacionais. Veículos modernos consomem até 20% menos combustível e oferecem maior confiabilidade, impactando diretamente a produtividade e a competitividade do setor. Um estudo da McKinsey & Company mostra que empresas que investiram na eletrificação de suas frotas reduziram seus custos logísticos em 25% em três anos.

Portanto, a transição para frotas de baixa emissão é uma pauta urgente, que une produtividade, sustentabilidade e compromisso com as futuras gerações. Como declarou Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU: “Nosso desafio é garantir que o crescimento econômico seja acompanhado por progresso ambiental.”

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Janaina Aparecida Silva Moreira 
Vice-Coordenadora COMJOVEM Centro-Oeste Mineiro


REFERÊNCIAS

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE (CNT). Transporte Rodoviário de Cargas no Brasil. Relatório CNT 2024. Disponível em: https://www.cnt.org.br. Acesso em: 10 mai. 2025.

FUNDAÇÃO DOM CABRAL. Sustentabilidade no Transporte de Cargas. Estudo Técnico, 2024.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO VEÍCULO ELÉTRICO (ABVE). Mercado de veículos elétricos no Brasil. Relatório Anual 2024. Disponível em: https://abve.org.br/. Acesso em: 10 mai. 2025.

DRUCKER, Peter. The Effective Executive. HarperBusiness, 2006.

FOLHA DE S.PAULO. Caminhões novos podem reduzir em até 86% as emissões de poluentes. São Paulo, abr. 2024

 

*ARTIGO PUBLICADO TAMBÉM NO JORNAL "O FOLHA"