Artigo: Os impactos do fim da escala 6×1
Cledorvino Belini – presidente da ACMinas – publicado O Tempo 09/04/2025
A proposta de extinção da escala 6×1, que prevê a redução da jornada semanal de trabalho sem compensação salarial, tem gerado debate entre empresários, economistas e representantes sindicais. Embora possa parecer benéfica para trabalhadores à primeira vista, sua implementação traz desafios que podem impactar negativamente a economia e a geração de empregos.
A adoção de uma jornada reduzida sem diminuição proporcional dos salários pode representar um aumento significativo nos custos para as empresas. Setores como comércio, indústria e serviços, que operam com equipes escalonadas, terão dificuldades para ajustar suas operações sem elevar os custos com mão de obra. Muitas empresas podem precisar contratar novos funcionários para cobrir as horas reduzidas, o que, em um cenário econômico desafiador, pode ser inviável.
Empresas brasileiras já enfrentam altos custos trabalhistas e carga tributária elevada. A imposição de uma nova estrutura de jornada pode reduzir ainda mais a competitividade das empresas nacionais em relação a concorrentes internacionais. Isso pode dificultar exportações, encarecer produtos e até limitar a capacidade de atração de investimentos estrangeiros.
Caso a medida seja implementada sem um planejamento adequado, muitas empresas poderão recorrer a demissões para equilibrar suas contas. O aumento dos custos operacionais sem um correspondente ganho de produtividade pode tornar insustentável a manutenção de grandes quadros de funcionários. Isso resultaria em um efeito contrário ao esperado: mais desemprego e menor oferta de vagas formais no mercado de trabalho.
Com custos mais elevados para manter produção e serviços, muitas empresas serão forçadas a repassar esses gastos para o consumidor final. Isso pode gerar um efeito inflacionário, diminuindo o poder de compra da população e impactando a economia de forma geral. Além disso, o aumento dos preços pode afetar principalmente as camadas mais vulneráveis da sociedade, que já sofrem com o alto custo de vida.
As pequenas e médias empresas, que representam a maior parte dos negócios no Brasil, podem ser as mais afetadas pela mudança na escala 6×1. Diferentemente das grandes corporações, que têm maior margem para absorver custos extras, os pequenos negócios podem encontrar dificuldades para arcar com as novas exigências e, em muitos casos, podem ser obrigados a reduzir suas operações ou até encerrar suas atividades.
A flexibilização da jornada de trabalho é um tema relevante, mas precisa ser discutida com cautela para evitar consequências econômicas adversas. É importante notar que, embora a escala 4×3 tenha mostrado resultados promissores em diversos contextos, sua implementação varia conforme as particularidades culturais, econômicas e legais de cada país. Além disso, a adoção desse modelo nem sempre ocorre de forma universal dentro das nações, sendo frequentemente limitada a setores específicos ou empresas que optam por experimentar a jornada reduzida.
O fim da escala 6×1, sem medidas compensatórias ou planejamento, pode gerar aumento de custos, perda de competitividade, desemprego e inflação. O ideal é que haja diálogo entre governo, empresários e trabalhadores para encontrar um equilíbrio que beneficie todas as partes, garantindo condições dignas de trabalho sem comprometer a sustentabilidade das empresas e a economia.