Piora a malha rodoviária do Brasil e transportadoras absorvem os custos dessa esburacada e tortuosa realidade
Desde a década de 20 as rodovias brasileiras constituem o principal sistema logístico do país tanto para o transporte de passageiro quanto para o transporte de mercadorias. Os principais investimentos na infraestrutura rodoviária deram-se no mesmo período, durante o governo de Washington Luís, o que foi estendido até a década de 60 durante a administração de Juscelino Kubitschek. A grande questão do histórico desse modal no Brasil está aí, nos investimentos que ele deixou de receber da administração pública. Para o diretor executivo de Desenvolvimento e Pós-Graduação da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende, a demanda por transportes de cargas no Brasil aumenta, de forma significativa, a necessidade de ativos e processos para responder a essa demanda. “A infraestrutura brasileira não contribui para que tal resposta seja eficiente, principalmente pelas condições precárias do modal rodoviário”, disse ele durante palestra ministrada em comemoração aos 60 anos do Setcemg. Nesta quarta-feira, 6 de novembro, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou o relatório Rodovias 2013 e apontou que piorou a condição das rodovias brasileiras no último ano. Segundo o levantamento 63,8% da extensão avaliada apresenta problemas ligados a três itens considerados fundamentais: pavimento, sinalização e geometria da via. Em 2012, o percentual era de 62,7%. A CNT percorreu 96.714 km de rodovias, o equivalente a toda a malha federal pavimentada e às principais rodovias estaduais. O caminhão que fica muito tempo parado em congestionamentos e trafega em condições estremas consome mais combustível e tem maior desgaste dos seus componentes, elevando os gastos de manutenção. De acordo com o levantamento da CNT, as condições do pavimento geram um aumento médio de 25% no custo operacional do transportador brasileiro. A região que apresenta o maior incremento nestes valores é a Norte (39,5%), seguida pelo Centro-oeste (26,8%), Nordeste (25,5%), Sudeste (21,5%) e Sul (19%). Isso explica a diferença do índice do custo operacional sobre o faturamento das transportadoras brasileiras, que é de 12%, e das empresas norte-americanas, que é de 8%. De acordo com a CNT o prejuízo das transportadoras brasileiras com a má condição das estradas chega a R$ 21 bilhões por ano. Com rodovias bem pavimentadas a realidade seria diferente, os caminhões teriam uma economia de R$ 41,86 a cada 100 quilômetros, além de reduzir em 4,5% as emissões de gás carbônico na atmosfera, de acordo com uma tese de doutorado da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). Paulo Resende destaca que o capital perdido pelas transportadoras com estradas ruins poderia ser melhor empregado se investido em centros de armazenagem e na modernização da frota de caminhões com tecnologia mais avançada e motores menos poluentes. Os ganhos com a eficiente infraestrutura viária também têm efeito na economia de modo geral, com aumento de produção, culminando na maior geração de emprego, maior arrecadação dos municípios, além da melhor mobilidade urbana. Esses dados mostram que é cada vez mais urgente unir forças entre empresários, entidades de representação e sociedade para pleitear junto aos administradores públicos a alocação satisfatória de recursos nas estradas.