Petrobras faz pressão para aumentar ainda mais a gasolina


Combustíveis.Impactos no lucro da empresa e endividamento são argumentos usados pela estatal Importação do produto neste ano será maior do que em 2012

Graça Foster disse que a Petrobras buscará paridade de preço com o mercado internacional

RIO DE JANEIRO. Diante da queda do lucro, a presidente da Petrobras, Graça Foster, disse ontem que a estatal manterá, em 2013, a "busca permanente pela paridade com os preços internacionais" do petróleo e derivados. Com reajustes inferiores à evolução das cotações internacionais e a necessidade de importar a preços maiores para suprir o mercado doméstico, a companhia viu seu lucro cair 36% no ano passado e fechar em R$ 21,182 bilhões, o menor desde 2004. Entre 2012 e janeiro deste ano, a companhia aumentou três vezes o preço do diesel (alta acumulada de 16,1%) e duas vezes a gasolina (alta de 14,9%). Os percentuais não corrigem, porém, a defasagem frente ao mercado externo e os reajustes foram contidos diante do receio do governo quanto à pressão inflacionária. "Com relação à política de preços, tivemos intensas discussões com o controlador (governo federal", disse. A executiva pleiteou os reajustes para injetar recursos em caixa na companhia para realizar seu plano de investimento e evitar a alta do endividamento - já observada no balanço de 2012. Segundo Foster, o "câmbio jogou contra a companhia" e resultou numa alta de 17% do preço do petróleo tipo brent (referência internacional) em reais. O diretor-financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, disse que o câmbio também levou a estatal a importar petróleo e derivados a um custo mais alto. O déficit da balança comercial da estatal subiu 96% em 2012, atingindo 231 mil barris/dia. Somente as importações de gasolina subiram 102% diante da necessidade de atender ao crescimento do consumo no mercado interno. Para 2013, a dificuldade tende a persistir, já que a companhia projeta um alta de 4% no consumo de combustíveis e os preços seguem defasados em relação ao mercado externo. A Petrobras vai importar mais gasolina em 2013 do que em 2012, informou ontem o diretor de abastecimento da estatal, José Carlos Cosenza. Foster se disse, porém, otimista com o desempenho da companhia a partir do segundo semestre, quando a produção deve voltar a crescer, com a entrada escalonada de sete novas plataformas neste ano e o aumento progressivo da extração de óleo dessas unidades. Barbassa informou ainda que a queda de 65% no valor do Imposto de Renda da companhia no último trimestre do ano se deveu ao pagamento maior de juros sobre capital próprio aos acionistas. Ele também disse que grande parte do aumento de endividamento da companhia se deveu aos investimentos realizados, mas ressaltou que o impacto cambial também contribuiu para que o endividamento subisse de R$ 103 bilhões em dezembro de 2011 para R$ 147,8 bilhões em dezembro do ano passado. Dividendos Ações caem e derrubam Bolsa SÃO PAULO. Após a queda no lucro líquido da Petrobras e o anúncio da nova política de dividendos da empresa, o movimento das ações da companhia pressionou para baixo o Ibovespa. O principal índice da Bolsa brasileira fechou ontem em queda de 0,22%, aos 59.444 pontos. Os papéis da companhia têm forte peso no Ibovespa. As ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras caíram 8,62% no dia, enquanto as preferenciais (as mais negociadas e sem direito a voto) registraram leve alta de 0,44%. O desempenho dos papéis foi influenciado pela mudança na política de dividendos da empresa. Pela primeira vez, o dividendo pago pela Petrobras aos donos de ações ON (ordinárias) será muito menor que aos proprietários de PN (preferenciais): R$ 0,47 e R$ 0,96 por ação, respectivamente. A mudança nos valores dos dividendos ocorre no momento em que a Petrobras guarda caixa para realizar investimentos, que subirão 10% neste ano na comparação com os de 2012. O diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa, admitiu que a decisão teve como pano de fundo a preservação do caixa da Petrobras. Preço na bomba Dilma disse que energia minimizará reajustes Brasília. Em entrevista concedida ontem para rádios do Paraná, a presidente Dilma Rousseff disse que o aumento no preço da gasolina é bem menor do que a redução da tarifa de energia elétrica. Questionada sobre se estava preocupada com a inflação, a presidente disse acreditar que a redução da conta de luz e as desonerações promovidas pelo governo vão baixar a inflação. "A inflação sofre efeitos também do aumento do preço da gasolina. Mas eu só queria dizer que o aumento é um valor bastante menor ao chegar à bomba do que os valores da redução das tarifas de energia", disse Dilma. O desconto na tarifa de energia para residências será de 20%, em média, para os consumidores. Para a indústria, a redução pode chegar a 32%. Já o aumento do combustível nas refinarias, por sua vez, foi de 6,6% no litro da gasolina e de 5,4% do diesel. Em Belo Horizonte, o preço médio da gasolina já subiu 4,4% após o anúncio do reajuste da Petrobras. Em alguns postos, a alta chegou a 10%. Efeito Dívida subirá mais com os investimentos Rio de Janeiro. A Petrobras anunciou a elevação de seu endividamento a "níveis preocupantes", nas palavras da presidente Graça Foster. E com possibilidade de piora neste ano. Serão investidos R$ 97,7 bilhões em 2013; em 2012 foram R$ 84,1 bilhões. O agravamento do endividamento da companhia pode levar agências de classificação de risco a rebaixarem a nota da companhia, o que acarretaria venda de ações e aumento do custo com empréstimos. "Ainda não temos certeza de como a Petrobras encontrou confiança em seu balanço para aumentar mais seu capex (investimentos), ou se nós estamos perdendo algo nesta equação", relataram, surpresos, os analistas Gustavo Gattass, Luiz Carvalho e Dario Valdizan, do banco BTG Pactual. A presidente quer manter os níveis de investimentos previstos.

Fonte: Jornal O Tempo