O volume de caminhões financiados no Brasil recuou 6,3% no primeiro quadrimestre de 2025, reflexo da cautela dos transportadores diante do cenário macroeconômico desafiador. De janeiro a abril, foram registradas 79.416 operações de crédito para aquisição de caminhões, contra 84.731 no mesmo período do ano passado, segundo dados da B3 divulgados nesta segunda-feira (12) e analisados por Transporte Moderno.
Em abril, o número de financiamentos ficou praticamente estável em relação ao mês anterior: 20.681 unidades contra 20.634 em março, uma leve alta de 0,2%. Em relação ao mesmo mês de 2024, no entanto, houve queda de 9%, quando 22.710 caminhões foram financiados.
No recorte por tipo de veículo, os caminhões novos somaram 36.970 unidades financiadas nos quatro primeiros meses do ano — retração de 10,1% frente às 41.123 registradas em igual período de 2024. Apenas em abril, foram 9.701 operações, recuo de 6,8% em relação a março (10.408) e de 11,8% na comparação com abril do ano passado (10.994).
Os caminhões usados somaram 42.446 unidades financiadas no quadrimestre, 3,5% a menos que as 43.968 do ano anterior. Em abril, foram 10.286 veículos, abaixo das 10.980 operações de março e 12,2% a menos que os 11.716 financiamentos de abril de 2024.
Crédito e confiança travam decisões
Para o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Arcelio Junior, a demanda existe, mas os transportadores preferem esperar por melhores condições de crédito. “Há demanda, mas os transportadores estão cautelosos e aguardam condições melhores de financiamento”, afirmou.
A avaliação da entidade é de que as taxas de juros ainda elevadas e a instabilidade nos preços do diesel seguem como obstáculos importantes ao avanço mais consistente das vendas. Em abril, o setor de caminhões teve 9.345 unidades emplacadas, queda de 0,3% frente a março (9.372) e retração de 13,1% em relação a abril de 2024 (10.758). No acumulado do ano, as vendas somaram 37.094 unidades, 0,4% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado.
Entre as modalidades de crédito, o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) manteve a liderança, com 64.236 contratos no quadrimestre, sendo 16.900 apenas em abril. O consórcio aparece na sequência, com 11.480 cotas comercializadas no ano e 2.860 no último mês.
Mercado de usados se destaca nas vendas
Apesar da queda nos financiamentos, o mercado de vendas de caminhões usados registrou desempenho expressivo em abril. Foram 37.391 unidades vendidas, alta de 26,6% na comparação anual e de 9,8% em relação a março, segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
No acumulado de 2025, as vendas de caminhões usados alcançaram 124.787 unidades, avanço de 17,8% sobre o mesmo período de 2024. O resultado acompanha a tendência de alta em todo o setor de veículos usados, que teve crescimento de 13,1% na mesma base de comparação.
Para o presidente da Fenauto, Enilson Sales, o desempenho é reflexo de um efeito em cadeia estimulado pela renovação de frotas no segmento de novos, especialmente após a realização da Agrishow, feira agrícola de grande porte encerrada no fim de abril. “A feira movimenta intensamente o mercado de veículos zero quilômetro. E quando esse mercado é aquecido, o de usados segue no mesmo ritmo. Se alguma empresa troca seus veículos usados por novos, a cadeia de negócios do setor se beneficia disso”, afirma.
Juros pesam mais nos novos
Sales avalia que o impacto da taxa básica de juros no mercado de usados é menor do que no de veículos novos. “As pequenas oscilações para cima ou para baixo têm baixíssimo impacto no setor de usados, porque o mesmo trabalha com uma mecânica diferente. Quem opta pela compra de um veículo usado tem por hábito colocar em primeira perspectiva o quanto pode pagar na parcela de financiamento”, disse.
Enquanto isso, no mercado de novos, a taxa de juros se mantém como um dos principais freios à retomada mais robusta das vendas. “É preciso que as condições de financiamento melhorem para que esse segmento volte a crescer de forma consistente”, reforçou Arcelio Junior.