A proposta de redução da jornada de trabalho e o possível fim da escala 6×1 — em debate no Congresso Nacional — pode impactar fortemente a economia brasileira. É o que aponta estudo elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), que revela um cenário de aumento de custos para as empresas, perda de competitividade, elevação da informalidade e um potencial fechamento de até 18 milhões de postos de trabalho no país.
O estudo foi apresentado nesta quarta-feira (16/04), durante o evento Jornada 6×1 e os Impactos nas Relações de Trabalho, promovido pela FIEMG e outras entidades representativas do setor produtivo mineiro, que reuniu empresários para discutir os impactos da proposta nas relações de trabalho.
De acordo com o levantamento, a redução da jornada sem o correspondente aumento da produtividade pode comprometer até 16% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, com uma queda de até R$ 2,9 trilhões no faturamento dos setores produtivos.
“Antes de discutir a redução da jornada de trabalho, o Brasil precisa enfrentar o seu maior desafio: a baixa produtividade. O trabalhador brasileiro produz, em média, apenas 23% do que um trabalhador dos Estados Unidos. Reduzir o tempo de trabalho sem elevar a produtividade é uma conta que não fecha e coloca em risco milhões de empregos”, explicou o economista-chefe da FIEMG, João Gabriel Pio.
Segundo o estudo, no cenário hipotético analisado — que considera a redução da carga horária contratada para até 40 horas semanais, sem ganhos de produtividade — o país poderá perder até 18 milhões de empregos e ter uma redução de até R$ 480 bilhões na massa salarial. A análise parte do princípio de que a diminuição das horas de trabalho impacta diretamente a produção e, consequentemente, o número de postos de trabalho disponíveis.
Já em um cenário moderado, com aumento de 1% na produtividade, as perdas de empregos podem chegar a 16 milhões, com impacto negativo de R$ 428 bilhões na renda dos trabalhadores.
O presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, destaca ainda que o aumento do custo do trabalho tende a ser repassado para os consumidores, pressionando a inflação e atingindo especialmente os pequenos negócios. “Imagine um restaurante que funciona com dois garçons. Se a jornada for reduzida, o dono do estabelecimento precisará contratar mais um garçom para manter o funcionamento. Esse custo a mais inevitavelmente será repassado para o preço da comida que chega à mesa do cliente”, exemplifica o presidente da FIEMG.
O estudo também aponta que o fim da escala 6×1 pode estimular o aumento da informalidade no mercado de trabalho, que hoje já atinge 38,3% dos trabalhadores brasileiros. Segundo a análise, muitas empresas — principalmente as pequenas e médias — terão dificuldades para arcar com o aumento dos custos trabalhistas, o que pode levá-las a recorrer a contratações informais ou até mesmo reduzir suas operações.
A medida ainda impacta a competitividade do Brasil no cenário internacional. Países como México, China, Índia e Vietnã mantêm jornadas de trabalho mais extensas e custos mais baixos, o que pode atrair investimentos e produção industrial, prejudicando a geração de emprego e renda no Brasil.
“A experiência internacional mostra que a redução da jornada precisa ser acompanhada de ganhos reais de produtividade. Mesmo em países ricos, como a França, a redução da carga horária de 39 para 35 horas não trouxe os resultados esperados e gerou perda de competitividade”, alerta Roscoe.
O estudo elaborado pela FIEMG ainda destaca que o caminho para o desenvolvimento do país passa necessariamente pelo aumento da produtividade, com investimentos em educação, qualificação profissional, inovação e melhoria do ambiente de negócios — e não pela simples redução da jornada de trabalho.
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Jornada 6×1 e os Impactos nas Relações de Trabalho
O evento Jornada 6×1 e os Impactos nas Relações de Trabalho, realizado nesta quarta-feira, teve o apoio da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas); da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL BH); da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL); da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG); da Fecomércio; da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais (Federaminas); da Federação das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Estado de Minas Gerais (Fetcemg); do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg); e do Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais (CIEMG).