Alternativas para tornar o transporte rodoviário de cargas mais sustentável
O Transporte Rodoviário de Cargas, responsável por mais de 65% das movimentações no País, está buscando se adaptar às mudanças climáticas. As alternativas em consideração incluem a eletrificação, o uso de hidrogênio verde e outras fontes renováveis, inteligência artificial (IA), infraestrutura inteligente e treinamento da mão de obra.
De acordo com o Observatório do Clima (OC), o Brasil tem o potencial de reduzir aproximadamente 400 milhões de toneladas de dióxido de carbono no setor energético até o ano de 2050. Adicionalmente, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis pode resultar em emissões de 102 milhões de toneladas de CO₂, representando uma redução de cerca de 80% em comparação aos níveis atuais.
E o impacto das mudanças climáticas não se limita ao setor produtivo, mas reverbera em toda a economia, segundo Joyce Bessa, vice-presidente extraordinária para a Pauta ESG, da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística – NTC&Logística, e diretora da TransJordano. “No setor de transportes, as mudanças climáticas já afetam a operação de forma significativa, seja em termos de infraestrutura, logística e até mesmo segurança. Por isso, é fundamental que as empresas, incluindo as de Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), busquem adaptar suas práticas para minimizar esses impactos”, afirmou.

Joyce Bessa, vice-presidente extraordinária para a Pauta ESG, da NTC&Logística, e diretora da TransJordano – Foto: Divulgação
Desafios impostos pelas mudanças climáticas
Um aspecto positivo é o progresso das empresas de transporte de cargas no Brasil nas práticas de ESG. “Especialmente na redução das emissões de gases de efeito estufa. Isso se deve à necessidade de controlar o consumo de diesel para reduzir custos e impacto ambiental. A otimização da roteirização também é importante, pois busca eliminar os quilômetros improdutivos e melhorar a eficiência. No aspecto de governança, muitas empresas estão focadas em resultados e boa gestão, como na TransJordano, que investe na profissionalização da gestão, na diversidade e bem-estar. Embora já haja progressos, ainda há oportunidades para intensificar práticas sustentáveis e de governança”, comentou Joyce Bessa.
Ela também contou que está sendo estruturado um grupo de trabalho na NTC&Logística sobre ESG. “A criação da Vice-Presidência Extraordinária para a Pauta ESG é algo novo na NTC&Logística, criado em 2024, com a chegada do presidente Eduardo Rebuzzi à entidade. Por isso, estamos estruturando um grupo de trabalho que será capaz de acompanhar, com informações e estudos, a evolução das práticas ESG nas empresas do TRC”.
José Alberto Panzan, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Campinas e Região (Sindicamp) e diretor da Anacirema Transportes, destacou a resposta proativa do setor de transporte de carga aos desafios impostos pelas mudanças climáticas. “As empresas estão implementando estratégias abrangentes, que incluem gestão de riscos, adaptação da frota e inovação logística. Há um foco crescente em tecnologia, com investimentos em IA para otimização de recursos, monitoramento e rastreamento, possibilitando alternativas em casos de adversidades climáticas. O setor também está colaborando com órgãos governamentais para melhorar a infraestrutura rodoviária e desenvolver políticas de adaptação climática. Treinamento de pessoal e conscientização são prioridades, preparando profissionais para lidar com condições extremas”, especificou.

José Alberto Panzan, presidente do Sindicamp e diretor da Anacirema Transportes – Foto: Divulgação
“Apesar dos avanços, desafios persistem. Como os altos custos de adaptação e a infraestrutura deficiente. A sustentabilidade está se tornando uma estratégia central, com empresas buscando reduzir emissões e adotar práticas mais ecológicas. Esta abordagem multifacetada demonstra que o setor está não apenas avaliando, mas também agindo proativamente para enfrentar os impactos das mudanças climáticas, visando garantir a continuidade e eficiência de suas operações no longo prazo”, explicou Panzan.
Renovação da frota com fontes renováveis
Segundo Joyce Bessa, os principais desafios para a renovação da frota com fontes mais renováveis no Brasil são a infraestrutura e a viabilidade econômica.
“Um exemplo é o uso de gás ou biometano, cujas redes de abastecimento ainda são limitadas no país. Isso torna difícil a adoção em larga escala desses combustíveis, além da questão de como será feita a renovação dessa frota, visto que, atualmente, cerca de 98% dos caminhões vendidos no Brasil são movidos a diesel”, pontuou.
Outro desafio é eletrificar a frota. “Embora seja uma solução promissora, a infraestrutura necessária para carregamento, como transformadores e fontes de energia renovável, ainda é insuficiente. Se a eletrificação for realizada com energia proveniente da rede elétrica convencional, essa energia não será considerada renovável, o que pode comprometer a sustentabilidade da medida. Portanto, a falta de infraestrutura adequada e a necessidade de um planejamento estratégico para garantir fontes de energia renováveis são pontos cruciais a serem superados”, explicou Joyce Bessa.
Ainda de acordo com ela, “em nossas discussões, percebemos que, para caminhões e veículos pesados, a eletrificação completa ainda está distante. Uma realidade mais próxima são os combustíveis renováveis, como gás, diesel verde e até veículos híbridos para curtas e médias distâncias”.
Ações coordenadas
No Brasil, a idade média da frota de caminhões varia significativamente. Segundo levantamento realizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), com base em dados do Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC), a idade média dos caminhões é de 22,3 anos entre os autônomos e de 10,99 anos entre as empresas. Para promover uma renovação efetiva, Panzan disse que são necessárias ações coordenadas. “Para alcançar esse objetivo, são necessários movimentos em várias frentes: incentivos fiscais e financeiros, como a redução de impostos e linhas de crédito especiais; regulamentações mais rigorosas para veículos antigos; programas de educação e conscientização; parcerias público-privadas para facilitar a aquisição de novos veículos, e investimentos em desenvolvimento tecnológico e infraestrutura de apoio”.
Essas medidas, implementadas de forma integrada, segundo ele, não só contribuiriam para a redução de emissões e melhoria da eficiência energética, mas também aumentariam a segurança nas estradas e a competitividade do setor. “É fundamental que haja uma colaboração estreita entre governo, setor privado e associações de classe para enfrentar este desafio, considerando sempre o impacto social, especialmente para os caminhoneiros autônomos, e garantindo uma transição justa e gradual para uma frota mais moderna e sustentável”, complementou.
Tecnologia no setor de transporte de carga
Quando questionado sobre como a tecnologia tem sido e será uma aliada crescente para o setor de transporte de cargas diante das mudanças climáticas, Panzan foi enfático ao dizer que ela está se tornando uma aliada indispensável. “Atualmente, dados de telemetria e inteligência artificial já estão sendo amplamente utilizados para otimizar rotas, prever condições adversas e melhorar a eficiência operacional. No futuro, espera-se que veículos autônomos, drones, blockchain, realidade aumentada e análise preditiva baseada em big data desempenhem papéis ainda mais significativos”.
Tecnologias que, nas palavras de Panzan, prometem aumentar a resiliência do setor, melhorar a segurança, reduzir emissões e adaptar as operações às condições climáticas em constante mudança. “A adoção de veículos elétricos e híbridos, juntamente com materiais avançados, também contribuirá para a sustentabilidade do setor. Embora existam desafios, como altos investimentos iniciais e necessidade de treinamento contínuo, a integração tecnológica é crucial para que as empresas de transporte de cargas possam enfrentar eficazmente os desafios climáticos futuros, garantindo operações mais seguras, eficientes e ambientalmente responsáveis”, finalizou.
Fonte: Balcão Automotivo (27/02/2025) via NTC&Logística