Tragédia em rodovia


Carreta de combustível atinge carros na BR-116, em Leopoldina, na Zona da Mata, explode e pelo menos nove pessoas morrem carbonizadas. Segundo testemunhas, bitrem estava em alta velocidade

O motorista de uma carreta bitrem tanque provocou um acidente em que pelo menos nove pessoas morreram, ontem à tarde, na Zona da Mata. O veículo, com 40 mil litros de óleo diesel e gasolina, tombou depois que o carreteiro entrou na curva do km 781,5 da BR-116 (Rio-Bahia), trecho entre as cidades de Leopoldina e Além Paraíba. Nove pessoas ficaram feridas, três em estado grave, algumas delas com queimaduras. A carreta atingiu cinco carros de passeio depois de tombar na contramão e explodir. Três automóveis foram destruídos pelas chamas. No trecho, a velocidade máxima permitida é de 40 km/h, mas testemunhas garantem que o condutor da bitrem trafegava acima do limite. O acidente foi às 14h55, de acordo com a empresária Flávia Fabri, de 38 anos, que viajava com seu marido, um filho adolescente e uma amiga em direção a Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Eles escaparam por pouco. “Seguíamos num trecho conhecido como serrinha, uma descida depois da Serra Vileta, em São Domingos, Distrito de Além Paraíba. Nosso carro era o quarto de uma fila que vinha contornando uma sequência de curvas, quando a carreta tombou e atingiu os três que seguiam à frente. Foi um milagre meu marido conseguir parar a tempo. Ficamos a poucos metros da frente da carreta”, contou emocionada.

De acordo com Flávia, o carreteiro saiu em alta velocidade de uma curva para a direita e não conseguiu controlar a bitrem. “Meu marido viu quando as rodas da carreta levantaram e freou. Quando o último carro atingido pela carreta foi prensado contra um rochedo, teve início o fogo. Nós fomos em socorro de quatro pessoas, dois homens, uma mulher idosa e uma adolescente que saíram correndo dos veículos em chamas. As roupas deles pegavam fogo e um homem rolou na grama, mas a vegetação pegou fogo, já que o combustível do tanque se espalhou. Meu marido usou extintor de incêndio, mas não foi possível conter as chamas.” O soldado Fernando Nunes, do Corpo de Bombeiros de Muriaé, explicou que, inicialmente foram resgatados oito corpos no local, todos carbonizados. Entre os mortos estavam Celina Aparecida Mateus e sua filha recém-nascida, Helena Fernandes Mateus, de Simonésia, cidade próxima a Manhuaçu, na Zona da Mata. No meio da noite, depois que as chamas foram contidas, foram encontrados os restos mortais de uma pessoa na cabine da carreta. Na Casa de Caridade Leopoldinense, deram entrada oito feridos, três em estado grave, com queimaduras por todo o corpo. No fim da noite, uma mulher estava internada no CTI do hospital e dois pacientes graves aguardavam para serem transferidos para o Rio de Janeiro. Uma pessoa foi levada para Juiz de Fora e os demais continuavam em observação. Uma criança foi levada para um hospital em Além Paraíba.

RESGATE A BR-116 foi totalmente fechada nos dois sentidos, o que causou engarrafamento de cerca de 20 quilômetros. Como houve vazamento de combustível, que atingiu um riacho, bombeiros de Muriaé tiveram dificuldades para conter as chamas e liberar a rodovia. Somente no fim da noite uma pista foi liberada. “A cena era do tipo daqueles filmes apocalípticos. Fogo nos veículos, na estrada, na vegetação às margens e no riacho para onde escorreu o combustível”, contou Flávia Fabri. Pelos primeiros levantamentos policiais, a carreta trafegava no sentido Leopoldina. O motorista, segundo a polícia, aproveitou um trecho de descida para pegar embalo antes de uma subida. Porém, ao entrar na curva para a direita o veículo tombou e invadiu a contramão. Uma perua Fiat Elba foi atingida na lateral antes mesmo de a carreta tombar, assim como um Ford EcoSport, que depois do choque também virou. Em seguida vinha um Corsa Classic, um Hyundai e um Focus, que pegaram fogo. TRÊS PERGUNTAS PARA...MARCOS FABRI, DE 41 ANOS, EMPRESÁRIO QUE ESCAPOU DO ACIDENTE1) Quando percebeu o acidente? Viajo com frequência no trecho e, por ser perigoso, fico sempre atento no sentido oposto. Assim que peguei a descida, vi a carreta saindo da curva já com as rodas do lado direito para o alto. Como o local é de pista simples, não tive muito a fazer. Pisei no freio, joguei para a direita e assisti assustado aos três carros à frente tentando escapar, sem sucesso. 2) O que dificultou o socorro? Logo que o tanque da carreta atingiu os carros, o incêndio começou. Virei minha caminhonete e parei do outro lado para escapar das chamas. Então desci correndo para ajudar as pessoas e suas roupas pegavam fogo. Tentei conter o fogo com o extintor do meu veículo e meu filho pegou os de outros carros. Mas era muito combustível no chão e não tinha como chegar até as pessoas que estavam ainda dentro dos carros. É lamentável assistir a toda essa tragédia sem poder fazer nada. Parecia o fim do mundo. 3) Que sentimento ficou depois de escapar da morte? Há 13 anos passei por situação semelhante, na Serra de Petrópolis (RJ), quando uma carreta não conseguiu fazer a curva e bateu num caminhão à minha frente. O caminhoneiro morreu e escapei por sorte. Agora foi diferente, com todo esse fogo e explosões. É mais um acidente causado pelo abuso de um motorista que, em alta velocidade, entrou com uma carreta bitrem na curva. Vou dirigir ainda mais atento.

Foto: Gabriel B. Meneghite /Jornal Leopoldinense Fonte: Jornal Estado de Minas