Setor produtivo mineiro sabatina candidatos


Fernando Pimentel (PT), Pimenta da Veiga (PSDB) e Tarcísio Delgado (PSB) falaram com representantes da classe

Diante do cenário adverso na economia brasileira, o setor produtivo de Minas Gerais promoveu uma sabatina com os candidatos ao governo do Estado. O objetivo era conhecer as propostas voltadas para o desenvolvimento econômico regional e apresentar aos pretendentes ao cargo de governador os princípios defendidos pelas entidades de classe.

O evento ocorreu na Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL/BH) e foi fruto da união da entidade com a Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais (Federaminas), Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais (Ciemg), Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Minas Gerais (FCDL-MG), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas) e Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg).

"Estamos a poucos dias das eleições. Vivemos um cenário de mudanças, pressão inflacionária e taxa de juros altas. Os brasileiros começam a sentir o peso do cenário econômico. Temos que reverter esse quadro. Por isso, é preciso conhecer o plano dos candidatos para escolhermos uma liderança que esteja comprometida em projetos que tragam desenvolvimento econômico para o Estado", afirmou o presidente da CDL, Bruno Falci.

Para o economista da Fiemg Guilherme Veloso Leão, "mais do que conhecer os projetos dos candidatos, é importante saber a forma como eles pretendem viabilizar as ideias apresentadas, já que existe uma limitação orçamentária que deve ser levada em consideração."

A priorização de políticas de desenvolvimento como base para o desenvolvimento social sustentável, segurança jurídica, desburocratização, equilíbrio fiscal e melhor infraestrutura são alguns dos pedidos do setor produtivo para os candidatos.

Além disso, os empresários apontaram uma necessidade de fomento às parcerias público-privadas (PPPs), assim como a melhoria dos aeroportos regionais e a expansão da rede de distribuição do gás natural no Estado, dentre outras políticas esperadas pelo setor produtivo local.

Pimentel quer descentralização

O candidato do PT ao governo do Estado, Fernando Pimentel, pretende implantar uma política de descentralização em Minas Gerais. Na prática, cada região teria uma gestão diferenciada de modo a estimular os potenciais de cada uma delas e promover a diversificação econômica. Dessa forma, os Arranjos Produtivos Locais (APLs) já existentes serão fortalecidos e outros criados ao longo dos quatro anos de governo.

Conforme lembra o candidato, na área da saúde já existe essa descentralização. Agora, ele espera utilizar a mesma política para as mais variadas áreas. "Em um Estado tão grande e diversificado é preciso regionalizar", afirma. Esse trabalho seria feito com a criação de conselhos regionais com gestores autônomos para levantarem as prioridades de cada região em todas as áreas.

Para Pimentel, é preciso dar mais um passo rumo ao desenvolvimento econômico. "Minas Gerais se caracteriza por uma industrialização tardia e inconclusa, além de uma dependência extraordinária da mineração e do café", afirma. Ele acredita que essa dependência de poucos setores gere uma concentração do Produto Interno Bruto (PIB) na região Central.

Esse cenário, pondera o candidato, é o mesmo desde a década de 1950. De lá para cá, algumas empresas se instalaram no Estado, mas o perfil econômico permanece o mesmo. O motivo dessa dificuldade de diversificação da economia, segundo Pimentel, seria a falta de um projeto de desenvolvimento econômico e social no Estado. "Os APLs hoje existentes surgiram quase que espontaneamente, sem um planejamento por parte do governo. O projeto que pretendo colocar em prática no Estado torna Minas Gerais um território, um eixo de desenvolvimento", afirma. Nesse sentido, a ideia é fortalecer os APLs existentes e fomentar a criação de outros.

O setor de turismo também deverá receber uma atenção especial do candidato, caso eleito. Ele acredita que alguns circuitos importantes, como o das Águas, no Sul de Minas, e o da Serra da Mantiqueira, estejam "abandonados" pelo atual governo. Por isso, faz parte do projeto do candidato apoiar o turismo e a cadeia de serviços que o envolve, o que inclui os bares, restaurantes e hotéis, por exemplo.

E, no caso da energia elétrica, há uma intenção de reduzir o ICMS. "Quero que me expliquem porque Minas tem que cobrar 30% de ICMS na conta de luz e São Paulo só 18%. Vamos gradualmente reduzir essa tributação pesada com calma e com cautela", afirma.

Veiga pretende proteger águas

Os recursos hídricos e a localização estratégica de Minas Gerais são dois aspectos a serem explorados pelo governo do Estado, caso o candidato da situação, Pimenta da Veiga (PSDB), saia vencedor. "As águas do Sudeste são mineiras. Até hoje isso não foi tratado estrategicamente. Precisamos saber usar melhor nossa água", afirma.

O candidato pretende fazer um levantamento das águas para fazer um uso mais racional em se tratando de geração energética, abastecimento industrial e utilização humana. Porém, os detalhes desse novo programa de governo ainda não estão totalmente detalhadas, o que impediu que o candidato desse mais detalhes.

No que se refere à localização do Estado, Veiga destacou que Minas Gerais é hoje um local de passagem. "As riquezas de todo o país são escoadas pelas estradas mineiras. Devemos tentar tirar proveito disso também", afirma. O primeiro passo seria a busca do capital privado para duplicar importantes estradas estaduais.

Ainda no quesito infraestrutura, o projeto do candidato inclui a continuidade da formação da chamada "Aerotrópolis", em torno do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, Região Metropolitana de Belo Horizonte. "Nós não temos portos, o que é uma penalização para nós. Então vamos ter que apostar na aerotrópolis para facilitar a entrada de insumos e a saída de produtos. Essa é uma forma de melhorar a competitividade da nossa indústria", afirma.

Ainda para estimular os negócios no Estado, o candidato pretende reduzir a burocracia e diminuir a tributação sobre alguns setores. O estímulo à inovação é outra promessa de governo. E para alcançar essa inovação, o primeiro passo seria o estímulo à educação. "Precisamos ter um ambiente em que a criatividade apareça", afirma.

Logo no início do governo, a ideia é criar um núcleo estratégico no Estado. O objetivo é fazer um diagnóstico das potencialidades e dificuldades nas diferentes regiões do Estado visando o desenvolvimento.

O candidato, porém, ressaltou a importância de um apoio do governo federal para que grande parte dos projetos se torne realidade. " revoltante o que o governo do PT fez com Minas Gerais. A questão do metrô, por exemplo, é revoltante. Se eu for eleito, a primeira coisa que vou fazer é propor uma forma de entendimento com o governo eleito", afirma.

Delgado defende royalties maiores

Ao mesmo tempo em que pretende reduzir o peso da carga tributária sobre alguns setores, o candidato ao governo do Estado, Tarcísio Delgado (PSB), pretende aumentar o percentual de 2% cobrado de royalties pela exploração mineral em Minas Gerais. O objetivo é pelo menos igualar aos 10% cobrados sobre o petróleo extraído no país e criar a "Mineriobras", aos moldes da atual Petrobras.

"Não temos que acabar com a atividade, mas fazer sobrar mais para o Estado. Acho que se passarmos de 2% para 10%, como é com o petróleo, ainda estaremos cobrando pouco", afirma o candidato que diz ainda ser cedo para definir percentuais exatos de aumento.

Segundo Delgado, o plano para os outros setores, ao contrário da mineração, é reduzir o peso dos tributos. "Não adianta queremos arrecadar muito sobre poucos contribuintes. Isso não permite que as empresas se implantem aqui. O melhor é cobrar pouco de muitos", afirma. Para ele, apesar de demandar muita coragem, uma reforma tributária é uma medida a ser tomada imediatamente como forma de estimular a cadeia produtiva local.

Outra proposta do candidato que agrada aos empresários é a redução do ICMS sobre a energia. O objetivo é reduzir os custos do insumo para aumentar a competitividade do setor. Ainda para tornar a produção no Estado mais barata, Delgado prometeu agilizar o processo de liberação de licenças ambientais que, na concepção dele, não podem ser um entrave para a realização de investimentos. A desburocratização, tão esperada pelos empresários, também está presente nas metas do candidato.

Um maior investimento na educação, principalmente no ensino médio, é também uma bandeira levantada por ele. Essa é uma preocupação apontada como prioritária, já que pode aumentar a produtividade. "A educação média está péssima no Estado", criticou o candidato. Em Juiz de Fora, onde foi prefeito, ele disse ter criado um plano de cargos e salários para os professores municipais, como forma de estimular a classe profissional.

Apesar das propostas, Delgado não acredita sair vencedor da disputa, e vê sua candidatura apenas como uma possibilidade de debater temas importantes para o Estado. "Eu não tenho outro canal para falar o que penso. Essa á uma ótima oportunidade, mas não sou candidato de ganhar essa eleição não", disse.

Fonte: Diário do Comércio

Foto: Banco de Imagens