Setor aponta reversão de expectativa
O pessimismo vigente no início do ano, em relação à demanda por condomínios logísticos, não se confirmou. Os empresários do setor mostravam-se apreensivos com o cenário de baixo crescimento econômico, juros e inflação em alta. A previsão de que a Copa do Mundo iria parar o país se confirmou. Mas a movimentação que antecedeu os jogos injetou uma dose de ânimo no setor. "A procura por estudos de viabilidade aumentou 20% no primeiro semestre em relação a 2013, contratos envolvendo 342 mil metros quadrados, foram fechados e três já tiveram as obras iniciadas em São Paulo e Minas Gerais", diz Daniela Lacerda, gerente de negócios e marketing da Libercon Engenharia.
A boa performance do setor foi detectada pela Cushman & Wakefield (C&W). A taxa de vacância caiu de uma média de 18,5% no final de 2013 para 16,8% no primeiro semestre. "É um bom sinal, apesar das previsões pessimistas, por mostrar que o mercado absorveu aproximadamente 500 mil metros quadrados dos 610 mil metros quadrados entregues. E, historicamente, o segundo semestre é melhor do que o primeiro", comenta Mário Sérgio Gurgueira, diretor de representação de proprietários da C&W. Os preços dos aluguéis no país estão estabilizados na média de R$ 20 reais por metro quadrado para os empreendimentos classe A - que oferecem pé direito de pelo menos 11 metros, piso nivelado a laser e com capacidade para aguentar 5 toneladas por metro quadrado e sistemas de segurança, entre outras características.
Levantamento da Colliers International mostra que estão em construção 2,1 milhões de metros quadrados, evidenciando a confiança do mercado na consolidação da tendência de migração das empresas para os condomínios logísticos, em busca de ganhos de eficiência e redução de custos das operações logísticas. A maior parte deles, 76%, estão na região Sudeste.
Os percalços da economia não assustam os investidores. "Como nossa visão é de longo prazo, os planos da empresa não sofrem grandes alterações em função da economia", comenta Mauro Dias, presidente da Global Logistic Properties (GLP). A companhia encerrou em março o ano fiscal de 2014 com uma receita de US$ 7,3 bilhões na operação brasileira, 234% a mais do que a de 2013.
Também foi concluída a primeira parte da compra dos 26 ativos da BR Properties, com 800 mil metros quadrados, um investimento de R$ 2,4 bilhões. Agora, a meta é construir 400 mil metros quadrados, nos quais serão investidos R$ 880 mil. Deste total, 200 mil metros quadrados referem-se à segunda fase do condomínio de Guarulhos (SP) e o restante, a empreendimentos em Gravataí (RS), Rio de Janeiro (RJ), Embu das Artes e São Bernardo do Campo (SP), ambos em São Paulo.
A Hine está prestes a entregar seu primeiro centro logístico desenvolvido para obter a certificação LEED, o Distribution Park Embu II. Localizado estrategicamente nas proximidades do Rodoanel, o empreendimento tem 52,3 mil metros quadrados de área locável, distribuídos em oito módulos. O grande diferencial do equipamento é oferecer um pé direito de 12 metros em toda a extensão dos galpões. A empresa opera 610 mil metros quadrados em São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus.
"O potencial do mercado brasileiro é muito grande, mesmo porque ainda existe uma obsolescência muito grande", comenta Benny Finzi, diretor da Hines. O executivo destaca que a demanda por galpões classe A é muito grande em cidades como o Rio de Janeiro e Manaus, onde a companhia vai lançar ainda neste ano o Manaus III, com 130 mil metros quadrados de área locável. Além disso, entrega em fevereiro de 2015 outro condomínio em Xérem, distrito de Duque de Caxias (RJ), com 70 mil metros quadrados para locação.
Embora a procura continue em franco crescimento, muitas empresas, como o Grupo Boticário, preferem construir centros de distribuição (CDs) próprios. Dono das marcas O Boticário, a maior rede de franquias do Brasil, Eudora, Quem disse, Berenice? e The Beauty Box, a companhia tem hoje 3.837 lojas em todo o país. "Como a logística de distribuição é fundamental, optamos por operar toda a cadeia, uma vez que não existem empresas especializadas para atender às necessidades do Grupo", explica Miguel Letenski Neto, diretor de supply chain.
Há três anos, o Grupo Boticário decidiu erguer um novo CD em São Gonçalo dos Campos (BA) para ancorar o crescimento da companhia. Também instalou fábrica em Camaçari (BA), com investimento de R$ 155 milhões e capacidade de expedir 1.800 caixas e aproximadamente 70 mil itens por hora. "A intenção do Grupo Boticário é conseguir uma operação 20% mais eficiente do que a do CD de Registro (SP), com custo 20% menor, para que possamos atender rapidamente às demandas do mercado", diz Neto.
Fonte: Valor Econômico