Roubos e devedores prejudicam o transporte
Para não perder ainda mais clientes e seguir operando, as empresas de transportes de cargas em Minas Gerais têm buscado flexibilizar as condições de pagamento. Com isso, o prazo de recebimento, que antes não ultrapassava 30 dias, agora pode chegar a 120. A saída encontrada pelo setor para se manter minimamente competitivo, no entanto, tem se mostrado uma “faca de dois gumes”.
Se por um lado a ação favorece a continuidade dos trabalhos na empresa, por outro, tem contribuído para comprometer o capital de giro, e, ainda assim, não tem sido garantia de resultados positivos. Prova disso é que, no primeiro bimestre deste ano, o faturamento das transportadoras permaneceu estável frente ao mesmo período de 2016.
Além do alongamento do prazo, a elevada taxa de inadimplência dos clientes e o aumento do roubo de cargas no Estado têm dificultado cada vez mais o desempenho favorável das transportadoras, segundo o consultor técnico do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Luciano Medrado. Hoje o percentual de devedores gira em torno de 12%.
“Nosso faturamento vem se mantendo como o do ano passado, com desempenho muito fraco. Se em 2016 houve crescimento negativo do Produto Interno Bruto (PIB), consequentemente, você tem crescimento negativo do transporte de cargas, lembrando que 64% da movimentação de cargas no Brasil são feitos através do transporte rodoviário”, afirma Medrado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que no ano passado o PIB fechou em queda de 3,6%.
De acordo com o consultor do Setcemg, em 2016 o roubo de cargas em Minas Gerais teve alta de 15%, gerando um prejuízo de R$ 245 milhões aos cofres dos transportadores. No Brasil, a estimativa é de que as perdas tenham alcançado a casa dos R$ 2 bilhões. Levantamento mais recente feito pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) mostra que, em 2015, esse tipo de crime cresceu 10%, causando rombo de R$ 1,12 bilhão.
“O roubo de cargas está aumentando e isso onera o custo das empresas, que são obrigadas a investir mais em segurança e a arcar com prejuízos do roubo da carga e, quando é o caso, do próprio caminhão”, reclama. Para piorar, o setor continua em dificuldades para repassar aos clientes os custos de operação. A defasagem de preço do frete, segundo o sindicato, já é, em média, de 17,9%.
Nova política - Desde outubro, a Petrobras vem adotando uma nova política de definição do valor de comercialização dos combustíveis, que é baseada no comportamento do mercado internacional. Apesar de anúncios de cortes nos preços do diesel nos últimos meses, Medrado pondera que, na prática, as despesas com o combustível continuam subindo.
Para 2017, o setor se mostra pessimista e não acredita que a retomada da economia ocorra nos moldes que vinha sendo projetada no ano passado. “Ninguém está trabalhando com essa perspectiva. Nós, do segmento de transporte, andamos no mesmo ritmo da cadeia produtiva, e a previsão de crescimento deste ano é de 0,5%, resultado que não cria nenhum entusiasmo. É um sintoma de melhora, apenas. Trabalhamos com a perspectiva de parar de cair”, completa.
Fonte: Diário do Comércio