Roubo de carga em Minas Gerais gerou prejuízo superior a R$ 50 milhões no primeiro bimestre
O roubo de carga é um problema grave em todo o território nacional que traz grandes prejuízos para sociedade e empresários. De acordo com estimativa do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg) e pelas ocorrências registradas, somente em mercadorias, os prejuízos nestes dois primeiros meses do ano com roubo de carga superam R$ 50 milhões em Minas Gerais.
De acordo com dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), nos dois primeiros meses de 2023, os furtos e roubos de carga registrados totalizaram 112 ocorrências, enquanto em 2024, no primeiro bimestre, foram 114 casos.
Levantamento feito pela Nstech, empresa que atua no ramo de software para supply chain, com dados do ano passado, aponta que mais da metade dos prejuízos com roubo no Estado envolve cargas fracionadas e a BR-381 é a rodovia que mais acontece as ocorrências.
Minas Gerais, que conta maior malha rodoviária do País, o roubo de carga normalmente acontece próximo aos grandes entroncamentos, afirmou o presidente do Setcemg, Antonio Luis da Silva Junior. “Contudo, estamos observando o aumento deste tipo de crime, que está se alastrando e ocorrendo em todo o Estado, de acordo com as especificidades de produção de cada região. São frequentes as ocorrências na BR-251 no Norte de Minas; BR-381 no Sul de Minas; Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH); BR-262 no Triangulo Mineiro; BR-050, BR-153, BR-116, BR-040 na Zona da Mata e na região do Alto Paranaíba com roubos de produtos agrícolas, principalmente café”, apontou.
Agrega-se ao roubo de cargas, os crimes por saques em casos de acidente nas rodovias, fato que acontece em qualquer localidade. Mas todo e qualquer produto de descarte rápido, preferencialmente as cargas fracionadas que englobam o e-commerce, café, produtos alimentícios, eletrônicos, cigarros, medicamentos, produtos siderúrgicos, combustíveis, produtos agrícolas e, ultimamente, até minério de ferro são alvos de furtos e roubos, salientou.
“O roubo das cargas traz um grande impacto nas operações das transportadoras, gerando insegurança, aumento de custos, que varia entre 15% e 18%, além de prejuízos que podem comprometer até mesmo a continuidade das empresas. Indiretamente os impactos são muitos, pois os produtos roubados não chegarão aos consumidores, onde as consequências são inúmeras. Ao final, com os aumentos dos fretes, custos complementares de segurança, quem acaba pagando a conta somos nós os consumidores”, avaliou o presidente do sindicato.
Prejuízos com o roubo de carga em Minas Gerais
Com essas situações que ocorrem nas estradas, o problema é grande para todo o setor. “Os prejuízos vão muito além dos valores das mercadorias roubadas, somam-se a eles os roubos de caminhões e dos equipamentos, os prejuízos com a nossa imagem e os decorrentes da não entrega dos produtos, aumento nos custos das apólices de seguro, gastos com tecnologia e controles, monitoramentos e gerenciamentos”, enumerou o presidente.
De acordo com Antonio Luis da Silva Junior, hoje as quadrilhas, além da abordagem, também estão investindo no aliciamento de motoristas em Minas Gerais para facilitar o roubo da carga para, posteriormente, entregar tanto o veículo quanto a carga para grupos criminosos em troca de uma quantia em dinheiro.
“Os criminosos atuam também clonando a divulgação de ofertas de cargas por empresas de transportes, para atrair motoristas por meio de aplicativos de frete oferecendo valores acima do mercado, atraindo-os muitas vezes para facilitar o roubo da carga e do seu veículo. Além disso, ainda utilizam equipamentos que anulam os sinais de rastreadores e iscas eletrônicas”, afirmou o dirigente.
Para o presidente, o momento é de tentar coibir esses crimes e o Setcemg reforça a necessidade do aumento dos equipamentos de monitoramento com redundância, o investimento em câmeras nos veículos, e reforço das escoltas quando as cargas têm valor expressivo, fazendo roteiros alternativos e às vezes totalmente diferentes da rota usual.
“Porém, as estratégias acabam por onerar mais os fretes e o custo para o consumidor final. Fazemos parcerias com órgãos de segurança, buscando melhores recursos e tecnologias para combater o crime. Mas, infelizmente, estamos sempre um passo atrás. Trabalhamos junto aos órgãos de governo e ao Poder Judiciário para imputar penas mais fortes aos receptadores de cargas e também para aparelhar melhor os órgãos de segurança com tecnologia, inteligência e recursos no combate ao crime organizado”, disse.
Na tentativa de mitigar o problema, o Setcemg mantém ativo um Grupo Técnico de Trabalho de Segurança que se reúne regularmente para definir estratégias em conjunto com os órgãos de segurança e passar recomendações para as empresas associadas. Integra este grupo os transportadores associados, representantes das polícias Civil, Militar de Minas Gerais, Rodoviária Federal, Militar Rodoviária de Minas Gerais, as polícias metropolitanas de Belo Horizonte e Contagem, além de representantes das empresas de gerenciamento de risco e seguradoras.
“Também mantemos ativo um grupo de WhatsApp fechado onde postamos informações relevantes sobre roubos e outros temas relativos à segurança. Quando ocorre algum evento em nosso Estado, imediatamente as polícias são acionadas e inicia-se o processo de verificação. Várias vezes obtivemos êxito em reaver mercadorias e veículos”, comemorou.
Alimentos e eletrônicos são os preferidos
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais permanecem liderando o ranking de roubos nas estradas, assim como em 2022. No Estado, mais da metade dos prejuízos com roubo de carga, em 2023, envolveram cargas fracionadas. Juntas, apenas a alimentícia e eletrônicos totalizaram 89,2% do montante. A BR-381 foi a campeã no ranking de Minas Gerais. Os roubos na rodovia representaram 28,7% do prejuízo total, segundo dados da “Análise de Roubo de Cargas”, da Nstech.
Ainda segundo o levantamento, 76,8% dos eventos ocorreram durante a noite e às madrugadas. Ao longo da semana, a sinistralidade foi elevada às quartas-feiras e aos sábados. Somados, esses dois dias representaram 48,5% dos prejuízos. De acordo com a empresa, as soluções da Nstech conseguiram evitar 74% dos sinistros relacionados a roubo de carga, preservando o equivalente a R$ 340 milhões.