Rodovia Duplicada, defeitos multiplicados


Empreiteira promete começar hoje os reparos na BR-262, que teve pistas ampliadas há menos de dois anos, mas já está sem asfalto e cheia de buracos e rachaduras em muitos trechos

HÁ TRECHOS DA ESTRADA, PERTO DE IGARATINGA, NO CENTRO-OESTE DO ESTADO, EM QUE O ASFALTO SIMPLISMENTE DESAPARECEU

No trecho duplicado da BR-262, entre Betim, na região metropolitana, e Nova Serrana, no Centro-Oeste de Minas, algumas placas avisam: “Devagar, pista com defeito”. E quantos defeitos! No trevo de acesso a Igaratinga, vários buracos obrigam carros e caminhões a reduzir bastante a velocidade e passar pelo acostamento. O mesmo problema ocorre no trevo de acesso ao distrito de Limas, ainda no município. Nos dois locais, as falhas surgiram meses depois de concluída a duplicação dos 84 quilômetros, em julho de 2011. E se agravaram desde então, já que a construtora responsável pela obra ainda não fez os reparos exigidos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A empresa assume as falhas, mas culpa a autarquia federal. A reforma está marcada para começar hoje e deve durar cerca de 20 dias.

No trevo de Igaratinga, nas duas pistas no sentido Triângulo Mineiro, o chão tem rachaduras e cinco buracos fundos. Os veículos passam pelo acostamento, junto ao meio-fio, onde há pedaços de asfalto que se desprenderam. Nas faixas no sentido Belo Horizonte, a situação é pior. No ponto mais problemático, a maior parte do pavimento despedaçado virou uma mistura de terra e brita. Motoristas desaceleram bruscamente até quase parar, porque não conseguem se desviar das grandes crateras. Peças de carros, como calotas quebradas, denunciam os acidentes no trecho, confirmados por caminhoneiros.

“Quase sempre vejo um acidente. Como o motorista tem que frear muito, é comum que outro venha sem muita atenção e bata atrás. Isto aqui piorou muito nos últimos meses”, conta Gilmar Silva Castro, que passa no local ao menos dois dias por semana, transportando açúcar de Frutal, no Triângulo, para BH.

O cenário é semelhante ao do trevo do distrito de Limas, no km 423 da rodovia. No sentido Triângulo, um buraco toma quase toda a faixa da direita, o que faz a maioria dos veículos, inclusive caminhões, passar pela da esquerda. O problema é que, poucos metros adiante, outro buraco engole toda a largura da via e os motoristas acabam desviando pelo acostamento, em um arriscado zigue-zague. Para piorar, esse espaço destinado à parada de veículos, ao ser pressionado pelo uso indevido, ganhou rachaduras e já cedeu alguns centímetros abaixo do nível original. No local, também há peças de carro, como um para-choque quebrado, e até um cone de sinalização aos pedaços, o que sugere que deve ter havido acidentes.

A duplicação custou R$ 400 milhões, obra rodoviária mais cara do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Minas Gerais. Os problemas começaram menos de um ano depois da conclusão, como mostrou reportagem do Estado de Minas em 7 de abril de 2012. O Dnit, por meio da assessoria de imprensa, afirma que exigiu os reparos à construtora responsável pelos trechos e a notificou mais de uma vez.

Segundo a autarquia, a princípio, a Empresa Industrial Técnica (EIT) se recusou a fazer a reforma, alegando que havia apenas executado a obra conforme as especificações do projeto. Depois, “o Dnit conseguiu provar que houve falha” e a construtora assumiu a responsabilidade. As falhas na rodovia teriam sido causadas por erros “na execução da sub-base”, uma das camadas de solo existentes sob o asfalto. O órgão garante que “todo o pavimento será refeito nos trechos que apresentaram o problema”.

EMPRESA ADMITE FALHAS

O superintendente comercial da EIT, João Henrique Campos, admite que a empresa falhou na execução da obra, mas também aponta erros do Dnit. Ele explica que, ao coletar o solo que preencheria a sub-base de parte do trecho duplicado, o operador do equipamento de escavação recolheu material contaminado com tipos errados de solo. Apesar disso, “a empresa aplicou o solo de acordo com o projeto” e foram aprovados “os ensaios feitos para comprovar que a estrada havia sido executada corretamente”, acrescenta.

Os defeitos começaram no ano passado e a autarquia notificou a construtora. “O Dnit percebeu que a água da chuva não estava sendo drenada como devia, o que estava fazendo o asfalto não ficar firme. Só que a drenagem foi executada de acordo com o projeto, que não estava correto. A culpa não era da EIT”, diz Campos.

O órgão federal tentou fazer as correções necessárias, mas os problemas no asfalto persistiram. O equívoco da EIT foi descoberto e a construtora foi notificada pela segunda vez. “Concordamos em refazer o pavimento, mas deixamos passar o período chuvoso”, explica.

Campos garante que a reforma começa hoje e deve durar de 15 a 20 dias. O trecho defeituoso se estende por cerca de 300 metros, nos dois trevos em Igaratinga. “O pavimento contaminado será removido para implantação de pavimento novo. Haverá interdição parcial da estrada, mas não terá problema para os motoristas. Não vai haver restrição de tráfego. O objetivo da empresa é entregar exatamente o que foi contratado”, diz.

Fonte: Jornal Estado de Minas - BH