Radares desligados na Fernão Dias estimulam altas velocidades e explicam aumento de acidentes


A inoperância de radares tem transformado 90 quilômetros da Fernão Dias em uma perigosa rodovia. Instalados há quase um ano, os cinco dispositivos de fiscalização que existem no trecho de Contagem a Itaguara, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, registram a velocidade dos veículos que passam no local, mas não emitem multas porque ainda funcionam em caráter experimental. A presença dos equipamentos (do tipo pardal), dispostos em pontos que representam maior perigo da rodovia, parecem não intimidar os motoristas, que aproveitam as boas condições da pista para pisar forte no acelerador. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a situação dos equipamentos de fiscalização da Fernão Dias é a mesma de todos os aparelhos implantados em estradas federais que estão sob concessão. Sem entrar em detalhes, a assessoria de imprensa do órgão informou que, no momento, é preciso aguardar “até que algumas questões técnicas sejam definidas”. A previsão é a de que, a partir do próximo mês, as punições comecem a valer. Enquanto isso, acidentes e mortes continuam sendo rotina na região. Na última sexta-feira, uma carreta tombou sobre um carro, em Betim, matando uma criança de 5 anos e ferindo duas pessoas. O episódio engrossa as estatísticas da Autopista Fernão Dias, responsável por administrar 562 quilômetros da rodovia entre Contagem e São Paulo. A concessionária informou que, em 2014, 2.236 acidentes foram registrados apenas no trecho que vai de Betim a Igarapé – média de seis ocorrências ao dia. O número de mortes também é alto. No ano passado, 24 pessoas perderam a vida nos 15 quilômetros compreendidos entre os dois municípios. Outras 890 ficaram feridas. Rotina de acidentes Quem mora ou trabalha próximo à estrada conhece bem os riscos e até perdeu as contas de quantas vezes presenciou acidentes graves. “Batidas menores acontecem praticamente todos os dias. Casos mais graves, pelo menos uma vez na semana”, afirma Célio Horácio Silva, dono de um comércio na altura do Km 490, em Betim. Morador de São Joaquim de Bicas, José Lourenço da Silva Filho tem medo de colocar o pé na estrada por onde passa todos os dias para trabalhar. O motivo: ele já perdeu amigos próximos que se envolveram em acidentes na rodovia. “Há mais de 30 anos tenho que passar pela Fernão Dias. Lembro quando a estrada tinha apenas uma faixa por sentido. Apesar das condições estarem muito melhor, os acidentes continuam acontecendo”, lamenta. Para ele, apenas radares e multas pesadas conseguirão intimidar a imprudência. ‘Já cansei de ver caminhão ultrapassando a 120 km/h’ Motoristas de carretas e caminhões são acusados de potencializar o perigo na rodovia Fernão Dias. Segundo moradores vizinhos à estrada, a regra é extrapolar os limites de velocidade. “Já cansei de ver caminhão me ultrapassando a mais de 120 km/h, em trechos bastante perigosos”, reclama a consultora Aline Ohashia, moradora de Igarapé e que sempre vai a BH dirigindo. Segundo ela, motoristas pegam embalo nas descidas mais fortes, sem imaginar que logo abaixo pode haver uma curva traiçoeira. “Eles se assustam, tentam frear, mas nem sempre conseguem”. O engenheiro Michel Vilas Boas passou recentemente por uma situação de risco. No último domingo, quando voltava de São Paulo para a capital, um caminhoneiro jogou o veículo para cima dele, duas vezes seguidas. “Ele estava na pista da direita, e eu passava pela esquerda. Quando estávamos lado a lado, veio para cima do meu carro. Achei que tivesse dormido ao volante, mas, como isso ocorreu novamente, percebi que estava sendo imprudente e tentava me assustar”, conta. De posse da placa do veículo, o episódio foi denunciado à empresa responsável pelo caminhão. nesta terça-feira (13), Michel foi informado de que o condutor prestará esclarecimentos. Outro lado Na profissão há mais de três décadas, os caminhoneiros Sandro Antonio Alves e Aguinaldo Rangel se defendem. “Infelizmente, há muita gente nova trabalhando nesse ramo. Alguns são inexperientes, outros imaturos”, diz Sandro. Aguinaldo acrescenta que motoristas de carros também costumam dirigir com irresponsabilidade. “No entanto, acidentes entre automóveis não ganham tanta repercussão porque, geralmente, são menos graves”.

  Foto: Lucas Prates/Jornal Hoje em Dia Fonte: Jornal Hoje em Dia