“Profissão de ouro” movimenta mais da metade do que é consumido no país
Liberdade é palavra recorrente quando se conversa com quem optou pelo caminhão como ambiente de trabalho. E assim foi com o publicitário Fabrício Madeira Araújo, 33 anos, que largou o diploma pela estrada, paixão transmitida por um tio. E, apesar de alguns problemas enfrentados nas rodovias, nada o desanima ou o tira do caminho que escolheu. Os planos dele são casar e levar a esposa em suas viagens até terem um filho, quando pretende sair das rodovias para estar mais perto da família.
Fabrício e milhares de caminhoneiros são os responsáveis por transportar, em média, 60% das cargas do país, segundo dados do setor. Basicamente tudo o que chega aos brasileiros chegou graças ao transporte rodoviário de cargas. Isso sem falar no que chega a outros países por intermédio dos caminhões que fazem a carga chegar até os portos do país. “Profissão de ouro”, define Fabrício ao se dar conta da importância de sua profissão para a economia brasileira e da paixão que tem pelo meio de vida que escolheu.
Com mais experiência, o caminhoneiro Renê França Batista, 54 anos e há 34 na estrada, precisou um dia valorizar a profissão ao vê-la ser menosprezada. “Aí eu peguei e falei pra mulher: até a calcinha que você usa passa pela carga de um caminhão”, relembra de forma bem humorada. Com menos tempo na boleia de um caminhão, 15 anos, Fabrício sente-se honrado com o papel que cumpre: “vejo uma bela e maravilhosa profissão e é muito gratificante saber que posso contribuir um pouquinho nas casas e nas refeições do Brasil”. Hoje Fabrício transporta basicamente grãos e circula mais pelo estado de Minas Gerais.
O segundo modal mais utilizado no Brasil é o transporte ferroviário, com 20,7% do movimento das cargas do país. Em seguida, o aquaviário, com 13,6%, o dutoviário, 4,2%, e o aéreo, 0,4%. Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), Claudinei Pelegrini, o caminhoneiro tem consciência do valor que representa. “Ele sabe da importância da profissão para o mercado e para a economia do Brasil”, afirma. Mas ressalta que é preciso mais para o aperfeiçoamento e crescimento do setor. “Embora o Sest Senat tenha vários cursos e venha, ao longo dos anos, fazendo um trabalho de qualificação e requalificação do caminhoneiro, é necessário que outras entidades trabalhem em conjunto para alcançar a totalidade dos caminhoneiros, principalmente, os autônomos”, sugere.
Pelegrini conta que o caminhão faz parte da sua vida desde os oito anos de idade. Ele afirma que só parou em 2007, quando entrou para o sistema sindical e, então, ficou difícil conciliar a função administrativa com a estrada. Segundo ele, quando começou na carreira, há mais de 30 anos, as coisas eram bem diferentes do que são hoje. “A tecnologia embarcada, por exemplo, é completamente distinta. Hoje tem que ter conhecimento de princípios de informática para não cometer erros banais ao preencher, por exemplo, um formulário eletrônico”, justifica. Na sua visão, falta mais atenção do governo na capacitação desses profissionais, que são os verdadeiros condutores da riqueza e dos bens de consumo.
Investimentos E essa atenção inclui desde a qualificação dos profissionais até investimentos em logística e infraestrutura. Para Pelegrini, é preciso aplicar recursos em todos os portos brasileiros para que, assim, desafoguem o gargalo do modal rodoviário. Mas alerta que o transporte por rodovias também cumpre papel primordial no transporte fracionado, que faz com que o produto saia do porto e chegue a uma loja do comércio, por exemplo. E, para isso, é preciso investir, entre outros, na renovação da frota. Os dados mais recentes mostram que o Brasil tem hoje uma frota com 1,2 milhão de caminhões com idade média de 21 anos no caso dos autônomos e de 8,5 anos no caso das empresas.
Pelegrini confessa que é apaixonado por caminhão e que voltaria para a estrada se pudesse. Para ele, não tem dinheiro que pague o prazer de viajar pelo país e conhecer as peculiaridades de cada região. “Se você deixar um motorista 10 dias em casa, ele fica louco. Ele não consegue. Ele tem a paixão de voltar para a estrada. Quem tem isso no sangue, não perde nunca”, conta com um sorriso no rosto.
Leia as demais matérias da série: Vida na estrada: profissão de motorista dá a chance de conhecer novas culturasFonte: Agência CNT de Notícias