Preço do frete não cobre os custos
Para contornar queda na receita, empresas demitem e cortam aportes na compra de caminhões
O setor de transporte de cargas vive um mau momento em Minas Gerais. Diante da redução da demanda por parte de importantes segmentos, como mineração, siderurgia e autopeças, o aumento no preço dos fretes não está acompanhando a alta dos custos. E o resultado é uma conta que não fecha, com queda no faturamento, demissões e menor investimento na compra de caminhões.
Segundo projeções do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg), a receita do setor deverá fechar este ano com queda média de 4% na comparação com o resultado de 2013. "O mercado está muito ruim neste ano. Como o volume de negócios diminuiu, sofremos maior pressão, que impede os reajustes dos fretes", afirma o consultor da área de relações com o mercado do sindicato, Luciano Medrado.
Em 12 meses, os fretes em Minas Gerais seguiram a média nacional e passaram por reajustes abaixo da inflação, que está em 6,5% para o período. Os transportes de carga única apresentaram uma alta aproximada na taxa de serviço de 2,8% e os de carga fracionada, de 4,9%.
Já na ponta dos custos, a elevação está na casa dos dois dígitos. Para se ter uma ideia, apenas a mão de obra foi reajustada em 8% na convenção coletiva de maio. O custo com o pagamento de trabalhadores equivale a cerca de 40% dos gastos das transportadoras. Ficaram mais altos ainda os gastos com alimentação dos motoristas, que é paga pelas empresas, o custo dos combustíveis, das peças dos veículos e da manutenção.
Porém, como a economia segue tendência de baixo crescimento, setores como mineração, siderurgia e autopeças, que são os maiores demandantes das transportadoras mineiras, estão vendendo menos do que nos anos anteriores. E, como conseqüência, necessitam bem menos de transporte. Dessa forma, não há espaço para repasse dos custos. "Neste ano, estamos com resultados piores do que em 2009, no pós-crise de 2008. Na época, alguns setores fecharam com resultados muito ruins, mas outros se mantiveram bem, com incentivos do governo", afirma.
Crise
E isso já é sentido na prática pelas transportadoras. "Nós estamos no mercado desde 1981 e enfrentamos vários momentos de crise. Mas, desde a época do governo Collor (1990-1992) não sentimos impactos tão fortes no nosso resultado", afirma a gerente-geral da Buscar Transportes, Elisa Garcia. A transportadora deverá fechar este ano com uma queda no faturamento da ordem de 30% comparado com o exercício passado.
Para evitar que a situação fique ainda pior, a empresa passou por uma redução de 40% no quadro de funcionários. Além disso, tem prospectado mais clientes para aumentar a carteira por meio de investimento em publicidade.
A Tora Logística vive a mesma situação. Segundo a diretora Comercial da transportadora, Janaína Araújo, este ano foi marcado por redução dos custos. A ação inclui demissões, renegociação com fornecedores, eliminação de alguns serviços e adiamento da compra de novos veículos. Essa estratégia deverá colaborar para que a empresa feche o ano com faturamento igual ao registrado no exercício passado, pior resultado desde a crise de 2008.
Já as perspectivas para o próximo ano são um pouco mais animadoras. "Nós entendemos que, apesar de 2015 ser um ano difícil, será também um período de oportunidades. Empresas que estiverem capitalizadas, que tiverem feito os ajustes que fizemos neste ano, poderão se aproveitar de alguns investimentos que deverão ser feitos em infraestrutura", afirma Janaína.
Fonte: Diário do Comércio
Foto: Arquivo/Estado de Minas