Plano para renovar frota chega ao governo
Com o objetivo de retirar 30 mil caminhões antigos das estradas a cada ano e ainda dar mais fôlego à recuperação do mercado de veículos comerciais, entidades da indústria e de setores ligados ao transporte rodoviário de carga levaram ontem ao governo uma proposta de renovação de frotas no país. A ideia inclui crédito fiscal e facilitação no acesso a linhas especiais de financiamento para compra de caminhões, inspirando-se em programas regionais do tipo já em vigor em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Na sequência, o plano nacional evolui para a modernização das frotas circulantes de ônibus e, numa terceira etapa, de automóveis de passeio. A proposta prevê a concessão de um crédito tributário de R$ 30 mil ao caminhoneiro autônomo que entregar seu caminhão com mais de 30 anos de uso a um centro de reciclagem, onde a carcaça do veículo será destinada a sucateamento para, posteriormente, ser aproveitada na produção de aço. Esse crédito poderá ser usado como entrada na aquisição de um caminhão novo, ou com, no máximo, dez anos de uso. Na transação, o caminhoneiro também terá direito a condições especiais de financiamento - com juros baixos e prazos longos - do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para ter acesso a esses benefícios, ele vai apresentar na concessionária uma certificação comprovando que seu caminhão antigo foi destruído, conforme informações da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que participou da elaboração do texto. Como pequenos caminhoneiros têm, muitas vezes, dificuldades em apresentar garantias para acessar as linhas mais baratas do BNDES, a solução passaria pela criação de um fundo para garantir o crédito liberado pelo banco de fomento, adianta Flavio Meneghetti, presidente da Fenabrave, que representa as revendas de veículos. "O Brasil é o quarto maior mercado automotivo do mundo, mas, por incrível que pareça, não tem política de reciclagem veicular. Os veículos aqui têm data de nascimento, mas não têm atestado de óbito", diz o executivo. "O objetivo é modernizar o país nesse aspecto", acrescenta o presidente da Fenabrave, outra entidade que participou do projeto. Diversas propostas envolvendo renovação de frotas foram elaboradas e apresentadas ao governo nos últimos anos, mas, desta vez, associações do setor privado chegaram a um consenso para a definição de um projeto unificado. O texto, entregue ontem, em Brasília, ao Ministério do Desenvolvimento e à Casa Civil, foi assinado por dez entidades representativas de setores como indústria automobilística, transportes, logística e siderurgia, além do sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista. Estima-se que um número superior a 200 mil caminhões com mais de 30 anos esteja rodando pelas estradas brasileiras, o que corresponde a mais de 7% da frota circulante no país. O objetivo do programa de renovação de frota é retirar 30 mil desses caminhões das rodovias a cada ano. A CNT ressalta, em nota, que, se a proposta for implementada pelo governo, a atual frota de caminhões dessa idade estará renovada em menos de dez anos. Meneghetti, da Fenabrave, diz que as conversas com o governo apenas começaram e ainda vão envolver o ministério da Fazenda. Outras duas reuniões sobre o tema devem acontecer "em breve". "Levamos o programa ´semi-pronto´ ao governo. Será preciso desenvolver mais o projeto, que é extremamente complexo", diz. Um texto enviado à imprensa e assinado em conjunto pelas entidades envolvidas na elaboração do programa destaca os benefícios ao meio ambiente, à segurança nas estradas e, até mesmo, à balança comercial do país a partir das alternativas propostas. Segundo essas associações, caminhões antigos estão envolvidos em cerca de 25% dos acidentes graves nas estradas brasileiras. As entidades ressaltam ainda que a troca de caminhões defasados por veículos novos mais eficientes geraria, em dez anos, uma economia de aproximadamente R$ 5 bilhões na balança comercial brasileira, ao diminuir a necessidade da importação de diesel. Foto: Site Brasil Caminhoneiro Fonte: Valor Econômico