Pesados e alcoolizados
Dos condutores detidos em BRs de Minas no primeiro mês da nova Lei Seca, mais rigorosa, 13% eram caminhoneiros. PRF aplicou 14.081 testes de bafômetro no período Não bastasse o risco de dirigir embriagado, as blitzes mais rigorosas que prendem motoristas alcoolizados nas estradas mineiras – sem depender exclusivamente dos bafômetros – revelam uma realidade ainda mais perigosa pelas curvas das Gerais: de cada três presos em flagrante pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), um era motorista de carreta ou caminhão ou pilotava uma motocicleta. O balanço leva em conta o primeiro mês da nova Lei Seca, que permite o uso de vídeos, testemunhos e exames clínicos para enquadrar quem dirige com sinais de embriaguez em crime de trânsito. Nesse período, foram 14.081 testes nas rodovias federais e 88 presos, 32,9% deles caminhoneiros e motociclistas. Os condutores de caminhões e carretas representaram 13% do total. Dados da PRF mostram ainda que 247 condutores foram autuados por infração de trânsito, com limite de 0,33 miligrama de álcool no sangue por litro de ar expelido. De acordo com a chefe de Comunicação da PRF de Minas, Fabrizia Nicolai, apesar dos novos recursos aceitos como prova, a maioria dos motoristas continua flagrada pelo bafômetro. “Como a multa está mais cara e a bebida atua diferentemente em cada organismo, eles preferem arriscar”, diz ela. A inspetora chama atenção para o teor alcoólico dos condutores presos, que, de acordo com os resultados, varia entre 0,40 mg/l e 0,70 mg/l. “Mas ainda encontramos gente que com índice de mais de 1.” Motociclistas e caminhoneiros são os dois extremos desse perigo. Do total de presos, 17 pilotavam motocicletas e 12, carretas. “Os motoristas de caminhões e carretas potencialmente causam mais danos do que os demais. Eles acabam em vantagem de força porque são muito maiores e mais pesados do que os carros de passeio. Quando se conduz um veículo assim embriagado, com sono, reflexos alterados e até excesso de confiança, o risco é maior para os outros. No caso dos motociclistas, ele põe em risco a própria vida. Como estão fragilizados, sem estrutura de proteção do veículo, a maioria dos acidentes por embriaguez são fatais”, afirma a inspetora. Especialista em trânsito, o advogado Carlos Cateb diz que a fiscalização deve ser maior, considerando o grande fluxo de caminhões e motocicletas nas estradas, além do número de acidentes em que se envolvem esses tipos de veículos. Cateb participou da elaboração do Código de Trânsito, representando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Minas, e considera o percentual um absurdo. Por isso, defende que o motorista profissional, ao ser preso por embriaguez, não tenha direito à fiança. “Dificilmente um motorista que está sobre oito ou 10 pneus tem consciência de que está correndo risco, porque para ele, ele passa por cima de todo mundo. Eu defendo que, para os transportadores, não deveria haver fiança, uma vez que esses motoristas precisam ser profissionais. As empresas, que têm obrigação, como contratante, de vigiar o trabalho do motorista e de escolher quem vai empregar, também deveriam responder criminalmente”, afirma. Ranking Segundo o ranking elaborado pela PRF nacional, Minas Gerais foi o terceiro de cinco estados com maior número de multas e prisões por embriaguez, durante as festas de fim de ano, mas o quarto em testes aplicados nas estradas, à frente apenas do Espírito Santo. Entre o Natal e o réveillon, foram 6.485 exames realizados nas rodovias mineiras, uma média de um exame a cada dois minutos. Ainda assim, o número representa pouco mais da metade do primeiro colocado, o Paraná, com 12.022 testes. Em segundo e terceiro lugares na lista estão Santa Catarina e Rio de Janeiro, com 7.513 e 7.013 testes, respectivamente. Vale lembrar, porém, que, dos cinco estados, Minas tem o maior número de bafômetros: 150. O Paraná tem 136 equipamentos e Santa Catarina, o segundo em testes, apenas 68. Rio de Janeiro, estado modelo no combate à embriaguez no trânsito, tem 133 bafômetros, e o Espírito Santo somente 30. “Nossa malha é a maior, mas deveríamos, justamente por isso, ter mais fiscalização, mais testes realizados, já que temos também o maior número de equipamentos. Ou o pessoal que rodou nas estradas nesse período estava “melhorzinho”, ou a PRF devia ter parado mais motoristas e feito mais exames”, opina o advogado Carlos Cateb. Fonte: Jornal Estado de Minas