Obras na BR-381 já turbinam economia de cidades vizinhas


A expectativa de que até R$ 12 bilhões em negócios sejam gerados em função da duplicação da BR-381 Norte já começa a se tornar realidade para empresários de algumas cidades ao longo da rodovia que corta o Leste de Minas. Pelo menos 20 empresas locais já fecharam contratos com as empreiteiras que iniciaram, em março, as obras dos primeiros lotes.

No total são 303 quilômetros de rodovia duplicada, divididos em 11 lotes e oito trechos. Já foram iniciadas as obras nos lotes 1, 2 , 3.2 e 7. Hoje, uma das principais contratantes é a J.Dantas, empreiteira responsável pelo lote 3.2, no qual serão construídos dois túneis.

O canteiro de obras começou a ser montado em novembro do ano passado, e as obras tiveram início em março. Nesse período, de acordo com o gerente geral da obra, Francisco Fonseca, pelo menos R$ 5 milhões foram gastos com insumos e serviços locais. “Estamos aproveitando a mão de obra local. Dos 350 funcionários que temos, cerca de 60% é da região. Além disso, servimos 700 refeições por dia, mais o café da manhã. Estamos alugando máquinas na região, alugamos oito casas em Antônio Dias e um sítio para abrigar 200 pessoas. Também compramos serviços locais de telefonia, de tecnologia da informação e de segurança patrimonial”, explica.

Mas, como a construção demanda alguns materiais muito específicos, Francisco afirma que nem tudo pode ser adquirido na região. “Trabalhamos com um cimento de alta resistência, assim como uma fibra de aço que não encontramos por aqui. São coisas que poucos fornecedores têm. Mas estamos comprando dentro de Minas Gerais. Já a brita e a areia estamos buscando num raio de até 50 quilômetros”, afirma.

De acordo com o consultor da Fiemg para o projeto Nova 381, Cláudio Veras, em média, as empreiteiras levam para os canteiros de obras 30% de sua mão de obra, e o restante é contratado no local. A previsão é a de que, no total, sejam gerados 5.700 empregos com a duplicação.

Plano master

O projeto “Nova 381”, encabeçado pela Fiemg, prevê que, nos próximos quatro anos de intervenções, a realidade econômica dos municípios que margeiam a rodovia se transforme completamente, e que os benefícios econômicos não cessem após o término da duplicação.

“Vamos traçar um plano de desenvolvimento para a região até 2020. Devemos concluí-lo até dezembro próximo. Estamos chamando os prefeitos para que criem condições para que tenhamos esse desenvolvimento, e já contamos com a adesão dos principais candidatos ao governo estadual e federal”, disse o presidente da regional da Fiemg no Vale do Aço e coordenador do movimento Nova 381, Luciano José de Araújo.

Obra movimenta economia da pequena Antônio Dias

Em Antônio Dias, pequena cidade histórica do Vale do Aço, com 308 anos e pouco mais de 9 mil habitantes, a duplicação daBR-381 já é sinônimo de desenvolvimento. As obras começaram na cidade, onde pistas e túneis estão sendo abertos. A grande oferta de trabalho e a chegada de técnicos e engenheiros de fora aqueceu o comércio, que por sua vez passou também a contratar.

Os preços dos aluguéis não param de subir e o pequeno hotel da cidade nunca esteve tão movimentado. Novos restaurantes e lojas estão sendo inaugurados. E, com isso, a roda da economia municipal, estagnada há anos, voltou a girar.

O trecho da BR-381 que corta Antônio Dias está dentro do lote 3.2 das obras de duplicação, sob a responsabilidade da empreiteira J.Dantas, que nesta fase inicial já contratou 250 operários.

Pressão de demanda

José de Sá Isaías, dono do único hotel da cidade, comemora há dois meses ocupação superior a 70%. O hotel, de 68 leitos, é ocupado em sua maioria por funcionários trazidos para a cidade pela empreiteira. No restaurante do hotel, o movimento aumentou 50%. “Estávamos estagnados, sem esperanças, mas agora fazemos planos para o futuro. Outros lotes e empresas virão”, diz Isaías, revelando que até o início das obras, representantes comerciais de passagem por Antônio Dias é que davam movimento ao seu negócio.

A comerciante Vera Lúcia Miranda também está esperançosa e pensa em ampliar a loja. Segundo ela, além dos novos clientes, os antigos, antes desempregados, reapareceram. “A capacidade de endividamento do povo aumentou, podem fazer prestações”, diz, revelando que antes das obras pensava em fechar as portas. “Agora o que quero é ampliar”, revela.

Falta imóvel

Outro setor aquecido é o imobiliário. Com a demanda aquecida, aluguéis que antes custavam R$ 700, passaram para R$ 1.500. “E mesmo assim não estamos encontrando casas disponíveis”, conta o sergipano Célio Roberto dos Santos, de 38 anos, que chegou há 15 dias. Ele presta serviços a uma outra empreiteira que vai se instalar na cidade e procura por três casas. “Só conseguimos alugar duas”, conta. Não existem imobiliárias em Antônio Dias.

Faltam profissionais capacitados

O secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento de Antônio Dias, Nazareno de Oliveira Barros, diz que a atual preocupação da prefeitura é capacitar a mão de obra disponível para não deixar a oportunidade de desenvolvimento econômico escapar. Já como resultado desse boom econômico, ele revela que mais duas empresas vão se instalar na cidade neste ano.

Uma seria de mineração, e a outra para dar continuidade à obra de duplicação da BR-381. “Estamos buscando parcerias para oferecer cursos profissionalizantes a quem se interessar”, avisa.

A Prefeitura ainda não faz projeção do impacto das obras na arrecadação do município, mas segundo o secretário de Obras, Tássio Mascarenhas, sua equipe já trabalha na elaboração de projetos de pavimentação, abastecimento de água, manutenção de estradas vicinais e revitalização do centro comercial, que seriam financiados com os novos recursos.

“O desenvolvimento de Antônio Dias está, hoje, atrelado à duplicação. Receberemos uma injeção de recursos e vamos aplicá-los bem”, promete Mascarenhas.

O secretário avalia que a duplicação da BR-381 vai favorecer o escoamento da produção de eucalipto, que hoje ocupa 46% dos 853 quilômetros quadrados do município.

Margeados

Se dentro de Antônio Dias as expectativas são boas, às margens da rodovia não é diferente. O gerente da Churrascaria Nova Bréscia, Valdiney Severino Barroso, de 33 anos, contabiliza aumento de 20% nas vendas, e acredita que manterá o movimento após o término das obras.

“É uma estrada muito perigosa e, por isso, evitada por muitos. Depois que for duplicada, o fluxo vai aumentar e o negócio melhorar”, aposta.

Já Fernando Ventura Costa, que há dois meses arrendou um restaurante próximo às obras, está frustrado. Pensou que conseguiria atrair funcionários da J.Dantas, mas a empreiteira montou uma cozinha industrial em um hotel fazenda alugado nas imediações e serve marmitex aos contratados.

“Vou ficar mais quatro meses aqui. Se não der movimento, vou fechar. Não posso esperar a duplicação ficar pronta para colher resultados”, diz.

Fonte: Hoje em Dia

Foto: Leonardo Morais