O Brasil insiste em restringir trafego de caminhões enquanto países desenvolvidos priorizam a mobilidade das pessoas com a mobilidade das cargas
No anseio de sanar o problema do trânsito das grandes cidades o governo federal e alguns municípios brasileiros têm ampliado a restrição do trafego de caminhões em algumas rodovias. Os pontos de restrição podem parecer isolados se visualizarmos o mapa das principais rodovias do país, no entanto, se pensarmos sob o ponto de vista da inteligência logística, as restrições são responsáveis por travar entregas e profissionais do transporte na base da cadeia produtiva e impedindo o abastecimento dos extremos do país de acordo com a demanda.
Pesquisas já apontam que as medidas restritivas não têm alcançado o resultado esperado, pelo contrário, além de causar prejuízos econômicos, sociais e ambientais aumentam os engarrafamentos. Estudo feito pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) comparou o tamanho dos congestionamentos 14 meses antes e 14 meses depois da restrição de caminhões na Marginal Tietê, iniciado no dia 5 de março de 2012. Para os técnicos da CET não houve nenhum indicador que apontasse uma melhora nos congestionamentos.
Considerando que fluxo de caminhões nas cidades é em média 5% do total de veículos em circulação, a contribuição deles na formação de engarrafamentos é mínima, sendo assim restrição do tráfego não será a solução.
Enquanto as políticas públicas no Brasil insistem em restringir a circulação dos caminhões, vemos exemplos na Europa, Ásia e nos Estados Unidos que priorizam o abastecimento das cidades. Nesses casos desenvolvem planejamento urbano através de planos diretores de uso e ocupação do solo integrados com planos de mobilidade urbana, com inteligência logística, para a movimentação das pessoas e cargas.
Na Europa, por exemplo, já é vista nas ruas a aplicação de um sistema desenvolvido com ajuda da tecnologia de geolocalização. O sistema identifica o caminhão e altera automaticamente a programação semafórica priorizando a passagem desses veículos o mais rápido possível pela cidade, isso propicia a economia de diesel, por sua vez, minimiza a emissão de poluentes. O resultado é simples, como os veículos de grande porte não ficam parados é garantida a fluidez do trânsito.
As metrópoles não param de crescer e na mesma proporção está o consumo interno. Com isso são mais carros, motos, unidades coletivas de transporte e pedestres circulando. E todos têm o direito de utilizar os espaços que são públicos. Portanto, o caminho não é restringir, pois, essa ideia presume excluir certas partes do seu direito de uso. Assim, a alternativa viável para os agentes públicos é pensar e adotar estratégias que harmonizem a convivência de todas as parcelas da sociedade.
Caso as políticas públicas adotem essa perspectiva da inclusão e não da restrição, deixariam evidentes que a orientação é de organização e disciplinamento do trânsito para o abastecimento das cidades. Nesse sentido, seria válido utilizar o aporte da tecnologia intensiva, equipamentos urbanos especializados como armazéns descentralizados, práticas de intermodalidade e a integração da cadeia de suprimentos.
É o Transporte Rodoviário de Cargas que faz os produtos chegarem às mãos dos consumidores, afinal, são os caminhões que estabelecem a conexão entre o que é conduzido por meio de avião, trem e navio para as cidades. Portanto, o caminhão não pode ser impedido de cumprir o seu papel na sociedade.