Nota de repúdio à continuidade da greve da Receita Federal


A Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI) manifesta sua profunda indignação diante da continuidade da greve dos auditores fiscais da Receita Federal, que já se estende há três meses, trazendo consequências gravíssimas para o transporte rodoviário internacional de cargas, o comércio exterior e a economia do país.

A paralisação, motivada por demandas salariais, tem imposto prejuízos bilionários ao Brasil. Segundo levantamento da Frente Parlamentar pelo Livre Mercado, a mobilização já causou a retenção de cerca de 75 mil remessas de mercadorias para exportação e importação nos terminais alfandegários do Brasil, provocando um colapso logístico cujo impacto se estende a empresas e consumidores. Além disso, no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), processos que somam R$ 51 bilhões deixaram de ser julgados devido à adesão de conselheiros representantes da Fazenda à greve. O aumento nos custos operacionais resultante desses entraves inevitavelmente será repassado à população, encarecendo produtos e serviços e reduzindo a competitividade do país no mercado internacional.

A falta de articulação entre os servidores e o governo federal escancara um descaso inaceitável com setores estratégicos da economia. A intransigência e desarticulação agravam os impactos internos e mancham a credibilidade do Brasil no cenário internacional. Parceiros comerciais já questionam a incapacidade do país em garantir a previsibilidade das operações, prejudicando investimentos e acordos fundamentais para nosso desenvolvimento econômico.

No Mercosul, a paralisação desorganiza um dos principais pilares da política de integração regional, comprometendo a fluidez das relações comerciais e gerando incertezas nos negócios transfronteiriços. Em Uruguaiana, o maior passo fronteiriço do Brasil com a Argentina em movimentação de cargas, a retenção deliberada de caminhões em janeiro, por ação dos auditores, ilustra de forma alarmante o colapso logístico que se instala. Liberações que em média levavam duas horas para serem processadas, chegaram a demoras de quatro dias ou mais, elevando custos operacionais que afetam não só transportadores, mas consumidores e indústrias que dependem dos insumos carregados.

É inadmissível que o setor continue refém da falta de gestão e da ausência de um acordo que ponha fim a tal situação que periodicamente vemos ressurgir, junto de todo seu impacto negativo. O transporte rodoviário internacional, responsável por 70% das exportações brasileiras, assim como outros operadores do setor privado, não podem continuar penalizados pela falta de negociação e diálogo sério e eficaz entre servidores e governo. Toda a sociedade brasileira se vê obrigada a pagar essa conta, seja pelos atrasos, pelo aumento dos custos ou pela perda da competitividade nacional.

Assim como solicitado recentemente pela Associação em ofício ao Presidente da República, reiteramos o pedido de intervenção das autoridades e órgãos competentes pela resolução dos impasses o mais rápido possível e por maior compromisso com a logística e o comércio exterior.