Nas férias, estradas preocupam


Milhares de veículos de passeio tomarão conta das rodovias nas férias de dezembro e janeiro, por isso é preciso redobrar a cautela na direção. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil já ocupa o quarto lugar no ranking de onde mais ocorrem mortes no trânsito, ficando atrás somente da China, Índia e Nigéria.

Esse alarmante cenário é causado por um conjunto de fatores como falta de atenção, desrespeito às distâncias de segurança entre os veículos, velocidade além da permitida e ultrapassagens imprudentes, sobretudo a caminhões e a veículos de dimensões especiais. Lembrando que, desde novembro, as multas para motoristas flagrados em ultrapassagens forçadas ou em local proibido estão até 10 vezes mais caras, podendo chegar a R$ 3.830,80 e à suspensão do direito de dirigir.

As empresas de transporte rodoviário de cargas têm feito a sua parte e investido até 15% de suas receitas em tecnologias para preservar a segurança nas estradas. A telemetria, rastreamento e o gerenciamento do risco, aliados à Lei 12.619 —que regulamenta a jornada e o descanso do motorista –, contribuem para a redução dos acidentes nas estradas. Somado a isso, as entidades de representação do setor, como o Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg), oferecem todos os meses treinamentos sobre direção defensiva, manutenção preventiva dos veículos e controle de movimentação de carga.

Mas o cuidado maior do motorista ao dirigir não é a única questão necessária para solucionar esse cenário. Dados mostram que grande parte do problema está na falta de infraestrutura. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), hoje, 90% das mortes que ocorrem no trânsito são em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, que, em conjunto, têm menos da metade dos veículos do mundo. E, infelizmente, o Brasil ainda faz parte desse quadro.

A Confederação Nacional do Transporte (CNT) apontou em estudo de outubro de 2014 que 62% das principais rodovias federais e estaduais do país não estão em boa condição. A pesquisa revelou ainda que 70,7% das rodovias sob gestão pública foram consideradas regulares, ruins ou péssimas, contra apenas 25,9% daquelas sob concessão privada, nas mesmas categorias.

Ao mesmo tempo em que o governo mantém uma política tímida de concessão das vias ao setor privado, os investimentos de recursos públicos para o serviço estão cada vez menores. A CNT apontou que, apesar de os investimentos do governo federal em infraestrutura rodoviária terem crescido na última década, eles vêm apresentando desaceleração desde 2011. Segundo o documento, foram efetivamente aplicados R$ 11,2 bilhões naquele ano, R$ 9,3 bilhões em 2012, R$ 8,3 bilhões em 2013 e, neste ano, até setembro, foram R$ 7,5 bilhões.

A falta de investimentos está diretamente ligada aos prejuízos. Para se ter uma ideia, apenas em 2013, o custo com os 186.581 acidentes registrados nas rodovias avaliadas no estudo da CNT foi de R$ 17,7 bilhões. A economia do país, que é muito dependente do transporte rodoviário de cargas, também é afetada. Se todas as rodovias fossem boas ou ótimas, 737 milhões de litros de diesel, o equivalente a R$ 1,79 bilhão, seriam poupados de acordo com o estudo.

É urgente exigir que essa realidade de descuido se transforme. Além do potencial de gerar maior crescimento econômico, pode preservar milhares de vidas.

Luciano Medrado Consultor de mobilidade urbana do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg) Fonte: Jornal Estado de Minas Publicação: 24/12/2014

Foto: Blog do Caminhoneiro