Empresas já admitem que vão demitir funcionários


As expectativas de resultados negativos ou de pequeno crescimento nos próximos meses têm levado empresas mineiras de vários setores a reverem a quantidade de funcionários contratados. E a conseqüência tem sido demissões, férias coletivas prolongadas e desistência do plano de ampliação do quadro de pessoal. Os empresários mais otimistas projetam apenas manter a mesma equipe para evitar prejuízos futuros.

Para o professor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, Fernando de Holanda Barbosa Filho, é natural que as companhias utilizem o início de ano para repensarem seus planos de negócio. Como 2012 frustrou as expectativas de muitos empresários, a tendência é mesmo a de cortar custos. E a mão de obra é um dos maiores gastos para alguns setores, que dependem de qualificação. Ainda não foi divulgada nenhuma pesquisa de emprego com os dados de janeiro, mas em dezembro já podia ser percebida uma tendência de redução das vagas. Somente no último mês do ano passado foram cortados cerca de 57 mil postos de trabalho em Minas Gerais, conforme dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O maior tombo foi na indústria de transformação, com retração de 22.268 empregos. Benefícios - Porém, todos os outros segmentos, com exceção do comércio, seguiram a tendência. O que já era mostrado nos números, agora faz parte também do discurso e das intenções até mesmo de empresários que atuam em ramos beneficiados por alguma medida governamental, como é o caso, por exemplo, do setor moveleiro. O polo de Ubá, na Zona da Mata, mesmo com a redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), já está à beira da demissão. As empresas, que costumavam entrar em férias coletivas apenas nas duas últimas semanas de dezembro, manterão os empregados em casa até depois do Carnaval. E, segundo o presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá (Intersind), Michel Henrique Pires, a expectativa é de uma demissão de 15% do quadro de 30 mil trabalhadores do polo ainda neste ano. No final de 2012, já havia uma projeção de corte, mas da ordem de 10%. "Tivemos um 2012 muito abaixo das expectativas e já iniciamos o ano com o pé esquerdo. Acho que dificilmente teremos um crescimento considerável", lamenta. O diretor regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Veneroso, também não faz as melhores previsões. Ele adianta que tudo indica que o quadro de demissões, já iniciado no ano passado, deverá permanecer neste ano. Mas, segundo ele, ainda é cedo para saber em qual proporção. No mercado de locação de equipamentos o nível de emprego deverá ficar estagnado em um momento em que se projetava crescimento. Segundo o presidente do Sindicato das Empresas Locadoras de Equipamentos, Máquinas, Ferramentas e Serviços Afins do Estado de Minas Gerais (Sindileq-MG), Marco Aurélio de Cerqueira, levando-se em conta a proximidade da Copa do Mundo, o mercado mineiro já havia projetado uma alta de aproximadamente 20% no número de funcionários. Como a economia não tem respondido como esperado, deverão ser mantidos os 15 mil postos atuais no Estado. E o mesmo problema se repete em outros setores. Segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setecemg), Vander Costa, mesmo com as mudanças na legislação, que obriga os motoristas a pararem mais para descansar e aumenta a necessidade de contratação, não haverá novas admissões, pelo menos no primeiro semestre. Mas, o principal motivo de temor por parte dos empregados do setor não é o de ser demitido, mas o de não ter um bom aumento de salário. "Vai ser difícil ter ganho real. Vamos iniciar as negociações tendo isso em vista", afirma. Nas concessionárias de veículos o ano também não será de contratações, segundo o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), Mauro Pinto de Moraes Filho. E o aumento salarial para os trabalhadores também não deverá ser na mesma proporção que no ano passado.

Fonte: Jornal Diário do Comércio