MOTORISTA NOTA 10: A RESILIÊNCIA DE QUEM TINHA MEDO DE DIRIGIR
“Pai, quando crescer quero ser carreteiro”, conta o menino que nasceu e cresceu em uma fazenda. Hoje, aos 35 anos de idade, Gilmar Souza dos Santos, narra os percalços que já viveu junto com a família. Quando criança, trabalhou com o pai nos roçados e cuidava das vacas leiteiras em uma fazenda em Carlos Chagas, depois em Paraopeba, ambas cidades de Minas Gerais.
A quarta reportagem especial da série Motorista Nota 10 traz a história sensível e humilde de uma pessoa que já sentiu frio e fome na boleia de um caminhão apenas para ter mais experiência e, assim, poder ser contratado. Um relato de resiliência que mostra que os sonhos nunca envelhecem e que sempre é tempo de começar e recomeçar.
Sincero e simples na maneira de conversar, Gilmar atendeu a ligação ansioso para contar um pouco de si. Estava contente por ser indicado por seus pares da Transportadora Andrade como Motorista Nota 10. “Ter dedicação pelo trabalho, honestidade, ser verdadeiro e transparente…”, reflete um pouco e volta a elencar. “Humildade, dedicação, postura correta, honestidade. Acho que esses são os itens de qualidade que eu tenho e que todas as pessoas devem ter. Aprendi com meu pai”, afirma o caminhoneiro.
Mas quem vê tanta segurança e tranquilidade da maneira de falar não imagina que, no passado, quando ainda era um jovem inexperiente, Gilmar passou por alguns incidentes. Nada grave, é claro. “Eu suava frio ao pegar o caminhão. Eu não tinha experiência para puxar gaiola de carvão”, revela. Seu primeiro emprego como caminhoneiro foi numa empresa de carvão localizada em Paraopeba. Ele conta que no início cometeu várias “bobeiras” com o veículo, entre eles raspar o para-choque e pequenas colisões ao manobrar. “Eu ia logo ao meu chefe e contava tudo para ele. Sempre contava”, conta. Gilmar é de uma transparência e humildade franca. Ao recordar desses episódios, não ri e nem faz troça, apenas narra momentos da sua vida que lhe trouxeram amadurecimento e grandeza.
Caminhoneiro há 9 anos e funcionário da Transportadora Andrade desde 2012, Gilmar demorou, nas palavras dele, a entrar para o setor. Isso porque, trabalhou em fazenda até o início da fase adulta. E o espírito daquele rapazinho que um dia queria ser carreteiro nunca adormeceu dentro dele. E foi correr atrás desses sonhos por saber que nem o pai ou a mãe tinham condições suficientes em ajudá-lo, nem mesmo para o estudos. “Eram muito simples e humildes”, rememora.
Mesmo desempregado, aos 23 anos voltou para sala de aula para concluir o ensino médio. Estudava a noite e, num intervalo e outro, conheceu sua atual esposa. “Fomos nos conhecendo e alimentando aquele amor à primeira vista”, fala em tom romântico. Casado há 10 anos com Josiane da Silva Carvalho, possuem um filho de quatro anos e meio. Atualmente moram em Betim, cidade em que moam há nove anos.
Ainda na época dos estudos, contou com a ajuda da namorada da tia para conseguir emprego numa fábrica de tecidos. Durante quatro anos, juntou R$200,00 por mês para só então poder tirar carteira de motorista. E assim fez. Tirou habilitação B, D e E.
Decido a ser caminhoneiro, pediu demissão do emprego. Mudou para a casa da irmã em Belo Horizonte e ingressou nos curso de formação de motorista do Sest/Senat. Fez curso do mopp e para dirigir coletivos. As formações eram gratuitas para desempregados. “Gostei muito, aprendi como operava carretas”.
Sobre a sua primeira vez ao volante, ele não esconde. “Fiquei com medo”, ri. Talvez este receio lhe trouxera prudência na estrada. Saiu do curso de formação direto para trabalhar transportando carvão. Inexperiente, viajava com os colegas para ganhar confiança na estrada e com o veículo. “Já passei fome e já senti frio. Mas meus colegas me ajudavam muito. A todos eles sou muito grato”, revela.
Não ficou muito tempo no emprego. Demitido, fez vários tipos de bico. Entre eles, dirigia carro-propaganda de som automotivo. Indicado por colegas, em 2011 passou a trabalhar para uma transportadora de combustíveis da cidade de Betim. “Foi quando eu conheci Belo Horizonte de verdade. Eu entregava combustível nos postos de gasolina de BH. Foi ali, naquela cidade grande, que eu realmente cresci e amadureci”, revela.
Em 2012 ingressou para o quadro de funcionários da Transportadora Andrade onde dirige um Volvo 370. Como quem se sente realizado e grato, afirma. “Comprei meu carro, meu apartamento, tive meu primeiro filho depois que entrei para esta empresa”.