Mercado de caminhões novos em BH atravessa grave crise


No primeiro trimestre deste ano, queda nas vendas chegou a até 50%

Luciane Lisboa

O mercado de caminhões zero quilômetro enfrenta uma das piores crises dos últimos anos no país. Com os pátios lotados, as montadoras promoveram uma queda drástica na produção e concederam férias coletivas para a maioria dos funcionários. E a situação das concessionárias não é diferente. As revendas de caminhões instaladas na Região Metropolitana de Belo Horizonte vêm registrando reduções consecutivas nas vendas desde o fim do ano passado. No primeiro trimestre deste exercício, o recuo nos negócios chegou a até 50% em relação ao mesmo período de 2013. E em abril as coisas não melhoraram.

Segundo o gerente de Vendas da Cardiesel, de bandeira Mercedes-Benz, Carlos Alberto Gonçalves, o mercado de veículos pesados está praticamente parado e os negócios na revendedora caíram cerca de 30% somente no mês passado. "As montadoras estão concedendo férias coletivas não é à toa", justifica.

Segundo ele, além da queda na demanda, um dos principais problemas enfrentados pelo setor é a dificuldade de crédito. Nem mesmo a última mudança nas regras das linhas de financiamento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e Procaminhoneiro, que depois de quase quatro meses operando na modalidade convencional, voltou a adotar o modelo simplificado, na tentativa de agilizar a liberação do crédito, surtiram efeito. "Não houve melhora. O crédito continua difícil e a demanda inexistente", diz.

O gerente de Vendas da Deva, concessionária Iveco em Belo Horizonte, Alexandre Bruno Nunes, concorda com o concorrente. Apesar de avaliar que os negócios em abril foram um pouco melhores em relação aos três meses anteriores, quando as vendas chegaram a cair 50%, ele afirma que a situação continua "muito ruim".

"Hoje, nosso maior problema é o financiamento. Os bancos estão muito restritivos em função das incertezas do mercado. As taxas do PSI são baixas e pouco atrativas para os bancos que assumem todo o risco da inadimplência. Com isso, eles (as nstituições financeiras) não aprovam praticamente nenhuma operação", explica.

Ele ressalta que compradores até existem, mas não possuem condições de conseguir o crédito. "Esses são os clientes de grande porte, como construtoras e mineradoras, que não estão comprando. Isso reflete a situação do país, já que a economia pisou no freio", lamenta.

Comprometido - A situação é mesmo preocupante. Para o gerente de Vendas da Forlan Caminhões, revenda da marca Ford, Flávio Martins, o resultado de 2014 já está comprometido. "Haverá uma reunião no próximo sábado com as distribuidoras da nossa regional, que abrange as lojas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Vamos ver o que pode ser feito, não posso dizer que o ano está perdido, mas não estou otimista em relação aos próximos meses", diz.

Na opinião de Martins, o que falta é investimento, principalmente em obras de infraestrutura, motor para o crescimento da economia brasileira. "O país precisa crescer. As promessas de aportes para a Copa do Mundo não se concretizaram. E, com isso, a demanda do setor produtivo caiu", ressalta.

O gerente de vendas da Forlan lembra que nunca trabalhou com um estoque tão alto na concessionária. "Fui obrigado a bloquear o faturamento da fábrica nesse final de mês. Estamos com um estoque que me dá sustentabilidade para 60 dias. O normal é na faixa de 30 a 40 dias.

Na Minasmáquinas, também revendedora de caminhões da Mercedes-Benz na Grande Belo Horizonte, embora os números de abril ainda não tenham sido fechados, é possível perceber que houve queda no ritmo das vendas ante os meses anteriores.

No entanto, o supervisor de Vendas da concessionária, Alan Belfort Calixto, espera que a situação melhore nos próximos meses. "Estamos aguardando a Copa, porque agora nada mais acontece no país até lá. Quem sabe depois do evento o mercado volte a aquecer", disse, tentando manter a esperança.

Preocupação também no setor de cargas

Leonardo Francia

O desaquecimento da economia nacional e, conseqüentemente, da atividade industrial, está impactando negativamente os negócios das transportadoras de carga de Minas Gerais, que perderam a capacidade de investir na renovação ou ampliação da frota. Já aquelas que compraram novos caminhões estão enfrentando dificuldades para pagar os financiamentos.

Conforme o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa, o clima é de apreensão. "Estamos preocupados porque a expectativa no começo do ano era de que a economia estivesse aquecida, até mesmo em função da Copa do Mundo, mas não estamos vendo isso. Pelo contrário, ela está desacelerando", diz.

Segundo ele, os negócios do setor de transporte de carga em Minas Gerais estão cada vez piores, pressionados pelo fraco desempenho da economia e pela forte dependência em relação à mineração e siderurgia. "Quem está conseguindo manter os negócios no mesmo nível do ano passado está comemorando. Já quem investiu em frota enfrenta dificuldades para pagar o aporte", afirma.

Nem mesmo a indústria automotiva, que tradicionalmente demanda grande volume de serviço, está ajudando as transportadoras mineiras, uma vez que as vendas do setor têm registrado quedas consecutivas e o nível de estoque nos pátios das montadoras está elevado.

Prova disso é a situação das montadoras de caminhões instaladas no Estado.Em Sete Lagoas, na região Central, a Iveco Latin America, subsidiária do grupo Fiat no segmento de veículos pesados, por exemplo, irá conceder férias coletivas de 15 dias para funcionários em duas linhas no início deste mês, conforme informado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Sete Lagoas. A medida atingirá a produção dos modelos Ducato e Daily.

Ainda segundo o sindicato, no último dia 22, outro grupo de trabalhadores entrou em férias pelo período de 30 dias. Apesar de a empresa não ter revelado quantos funcionários serão atingidos pela medida, a entidade estima que o número pode chegar a 2,5 mil trabalhadores. Na ocasião, a Iveco informou, por meio de sua assessoria, que as férias coletivas são "um instrumento usual para administrar o equilíbrio entre pessoas disponíveis e produção necessária" e negou a possibilidade de demissões.

A Mercedes-Benz também já havia anunciado férias coletivas de 20 dias em sua planta em Juiz de Fora, na Zona da Mata. A paralisação na linha de caminhões também estava marcada para começar no último dia 22 e tinha como objetivo "adequar a produção na cidade à realidade dos mercados brasileiro e argentino", um dos principais destinos dos veículos pesados da marca.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Sérgio Pedrosa, também afirma que "não está havendo crescimento" no setor neste ano. "Em termos gerais, é uma ano de estabilidade para queda", completa.

Pedrosa explica que os empresários do segmento estão cautelosos, não só porque a economia está "andando de lado", mas também em função da Copa do Mundo e das eleições presidenciais, que, segundo ele, criam uma "fumaça" de incertezas para o restante do ano.

Fonte: Diário do Comércio