Infraestrutura precária prejudica desenvolvimento do transporte, apontam especialistas


Congresso da ABTC reúne, em Brasília, transportadores de cargas de diferentes modais do transporte. O Brasil enfrenta graves problemas de infraestrutura que impedem o progresso de setores importantes da economia – entre eles, o transporte -, cujas soluções, a médio e longo prazos, precisam ser discutidas com urgência. Este foi um consenso entre os especialistas presentes ao XIV Congresso Nacional Intermodal dos Transportadores de Cargas, realizado na sede da Confederação Nacional do Transporte (CNT) nesta quarta-feira (4). O presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga, Newton Gibson (foto), afirmou que o evento é importante para direcionar o olhar dos transportadores aos problemas estruturais brasileiros. “Estes gargalos aumentam os custos dos produtos e diminuem a nossa competitividade. Os desafios e decisões que o Brasil precisa não estão no futuro, eles começam agora”, avaliou. O Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, concordou que os gargalos em infraestrutura são os principais “nós” que travam o desenvolvimento da economia brasileira. “Seja em portos, rodovias, aeroportos, este tema merece reflexão dos empresários e da sociedade”, afirmou, elogiando a iniciativa da ABTC em promover o Congresso. A coordenadora de Economia da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Priscila Santiago, destacou que o transporte é um agente indutor da integração nacional. No entanto, salientou que a área registra um histórico de baixos investimentos em infraestrutura. Como os gargalos dificultam a integração entre os modais, por exemplo, ela pontuou que a maior parte do transporte de cargas, em longas distâncias, é feito pelo modal rodoviário, o que nem sempre é o mais eficiente. Priscila apresentou dados da Pesquisa CNT de Rodovias 2012 e informou que apenas 11,9% da malha rodoviária do país é pavimentada, enquanto 62% das rodovias registram problemas graves de infraestrutura – geometria, pavimento e sinalização. “Isso demonstra falta de planejamento e significa menos dinheiro no bolso dos transportadores, agricultores e representantes da indústria”, disse.  
De acordo com Priscila, os problemas de infraestrutura aumentam em 23% o curso do transporte no país, que gasta com mais combustível, pneus e emite mais gases poluentes, além de perder competitividade na produção e enfrentar um maior risco de acidentes. A economista da CNT também comentou as deficiências nas áreas de ferrovias – faixas de domínio que reduzem a velocidade dos trens, passagens em nível e falta de uniformidade entre as bitolas – e portos – acessos precários, problemas de dragagem nos terminais, burocracia excessiva e alta tributação. No caso dos aeroportos, faltam investimentos e a infraestrutura precária gera custos adicionais e perda na qualidade dos serviços. Priscila criticou o atraso de quatro anos, em média, na conclusão das obras do PAC. “Os projeto executivos são deficientes, falta articulação com o setor produtivo para definir intervenções prioritárias”, explicou. No caso do Programa de Investimento em Logística (PIL), lançado em agosto do ano passado, ela acrescentou que a maioria dos trabalhos ainda não saiu do papel, em razão de editais que foram anulados ou cancelados para reformulação. Agronegócios e Indústria Os gargalos também prejudicam o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. O consultor em Logística e Infraestrutura da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Luiz Antônio Fayet, destacou que o país tem um excelente desempenho da “porteira para dentro”, ou seja, nas fazendas. No entanto, é preciso buscar soluções para escoar e exportar a produção com mais eficiência. “O apagão portuário é uma grande preocupação nacional, representa um prejuízo incalculável para o agronegócio. No Brasil, o custo para escoar a produção da lavoura até o porto de embarque é quatro vezes maior que nos Estados Unidos e na Argentina”, projeta Fayet. Segundo o consultor, o país precisa resolver estas questões para aproveitar o seu potencial de exportação de grãos e ganhar mais espaço no mercado mundial – norte-americanos e argentinos já operam no limite da capacidade de produção. A analista de Política e Indústria da Gerência Executiva de Infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ilana Dalva Ferreira, afirmou que o Brasil enfrenta uma crise sem precedentes no transporte de cargas. “Temos estradas de má qualidade, portos ineficientes e uma série de desafios que limitam a nossa competitividade”, destacou. Segundo uma pesquisa da CNI, os empresários da indústria indicam a falta de infraestrutura como um dos principais fatores que atravancam o progresso do país. Integração entre modais O diretor da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) Hedeverton Andrade dos Santos, disse que uma das soluções mais viáveis é trabalhar pela integração dos modais. “A EPL foi criada para atender uma necessidade do mercado e do Estado. Foi fundada com o objetivo de empreender, monitorar e planejar projetos e empreendimentos”, explicou. Ele apresentou ações do órgão cujo objetivo é destravar gargalos logísticos no país. A curto prazo, a EPL realiza diagnósticos para mapear a atual infraestrutura de transportes, além de estudar as oportunidades de investimentos. A longo prazo, as ações previstas são as do Plano Nacional de Logística Integrada (PNLI), cujo objetivo é oferecer serviços eficientes de logística, no Brasil, a partir de 2016. Fonte: Agência CNT de Notícias / Rosalvo Streit [caption id="attachment_5628" align="aligncenter" width="300"] Foto: Júlio Fernandes/Full Time[/caption]