Greve dos caminhoneiros


Em momento de grandes manifestações cívicas com amplo apoio da população brasileira, falar da greve dos “caminhoneiros” é missão no mínimo arriscada, mas como presidente da Federação das Empresas de Transporte não podemos fugir de nossa obrigação de esclarecer o que de fato acontece.

O primeiro fato a esclarecer é que o Movimento União Brasil Caminhoneiros (MUBC) não representa os empresários e nem os trabalhadores que têm seus sindicatos, federações e Confederação legitimamente qualificadas para representar cada categoria e ninguém deu procuração ou delegação ao Nélio Botelho. Cabe ressaltar sua capacidade de persuasão aglutinando algumas pessoas inocentes que não percebem suas intenções. Não apoiamos o movimento de paralisação por entendermos que a negociação é o melhor caminho para resolver os problemas e suas reivindicações não se justificam conforme passamos a expor. O MUBC reivindica, em primeiro lugar, o pagamento do pedágio de forma antecipada e por conta das transportadoras. Isto é lei e é cumprida pela maior parte. Quem paga pedágio no Brasil é a transportadora que repassa aos embarcadores. O que querem do governo se já existe uma lei em vigor repassando integralmente os custos? Depois pedem a isenção dos pedágios para os caminhoneiros e não apoiamos por dois motivos: Em primeiro lugar, porque defendemos o cumprimento dos contratos e as licitações foram realizadas com a previsão de pagamento dos pedágios pelos caminhões. Romper com os contratos significa desestimular investimentos em novas privatizações que são necessárias para melhorar a infraestrutura de transportes no Brasil. Em segundo, porque como colocamos, não somos nós e nem os caminhoneiros quem paga os pedágios. Este raciocínio nos faz perguntar: afinal a quem interessa este movimento? Quem ganhará com a redução ou isenção dos pedágios? Os transportadores e os caminhoneiros não são. Outro ponto de reivindicação é a redução no preço do óleo diesel. Se o governo pode desonerar para o transporte de passageiros também poderia fazer para a carga, mas isto não é motivo de paralisação, é motivo de negociação. Observem que este movimento visou basicamente reduzir custos, quando o normal é fazer greve para aumentar receitas ou salários. Ao analisarmos as reivindicações, fica claro que o movimento não é patrocinado por transportador, mas por quem tem o interesse de reduzir o custo do frete e ganhar com isso. A sociedade não pode pagar para garantir a lucratividade de determinado setor. Defendemos o direito da população de se manifestar, mas todo direito individual deve ter como limite o direito do outro. Todo cidadão, inclusive os caminhoneiros podem manifestar e parar, mas não vemos como legítimo o direito de obrigar os outros a pararem. Não é correto a interdição de estradas, pois os cidadãos tem o direito de ir e vir. Nós transportadores sofremos grandes prejuízos com as paralisações, pois os dias parados reduziram as receitas e nossos custos fixos, dentre eles os salários dos motoristas, que devem ser pagos. Nossos clientes tiveram prejuízos ainda maiores com a falta de mercadorias que deverão ser absorvidos por eles. Devemos respeitar o direito de todos, inclusive o nosso de cumprir o dever de transportar mercadorias. Não apoiamos a paralisação impositiva e vamos buscar nossos objetivos por meio da ampla negociação.