Eleição abre debate sobre estagflação


Resultado do PIB no 2º trimestre dá espaço para especulações sobre fragilidade da economia

Carlos Plácido Teixeira

A divulgação, na sexta-feira, da queda de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, de contas deficitárias e das pesquisas eleitorais impôs mais tons de incerteza quanto ao rumo do ambiente de negócios. O repertório de sinais da fragilidade do cenário interno também deixou mais exposta a caixa de munições com críticas à condução da política econômica do país. Dados positivos terão pouco ou nenhum destaque. As expectativas estão no centro do jogo.

Sob o ponto de vista das oposições, agosto não poderia terminar de forma mais favorável, na corrida pela preferência do eleitorado brasileiro. E, em sentido oposto, os indicadores são negativos para o governo, diante da munição de informações que contribuem para formar o quadro de fragilidades. O acirramento da disputa política, com a ascensão de Marina Silva, candidata pelo PSB, eliminou a vantagem da presidente Dilma Rousseff (PT) nos resultados das pesquisas e vai tornar o clima mais tenso na reta final da campanha, que ainda pode apresentar muitas surpresas.

Dois temas tendem a ganhar força na queda de braço dos interesses políticos envolvidos no cenário de disputas de setembro e outubro. O primeiro item, já colocado logo em seguida à divulgação do PIB trimestral, é o debate sobre a definição conceitual dos problemas conjunturais. Ou seja: se o momento atravessado pelo sistema produtivo brasileiro, no retrato atual, configura uma recessão. Segundo, diante de alguns sinais de pressão sobre os empregos, pode ganhar força o debate sobre a tendência - ou não - de um quadro de estagflação, definido como o processo que combina baixo crescimento com inflação e desemprego elevados.

Espaço - O embate sobre a recessão, definida como quedas sucessivas do PIB, já tem espaço garantido na pauta de discussões até o fim do primeiro turno das eleições, pelo menos. Para parte dos analistas, os números do primeiro trimestre (-0,2%) e do segundo (-0,6%) caracterizam adequadamente o processo recessivo. Para outros, o estágio ainda é de uma recessão técnica, um passo anterior ao diagnóstico mais negativo. No fundo, tudo vai girar em torno das expectativas. Se os dois trimestres somam um fato temporário ou o início de uma série.

No último domingo, o editorial de um siteespecializado do mercado de capitais dizia que "o cenário de estagflação se instalou". A tese pode ganhar vigor diante do registro de informações sobre setores que estariam iniciando processos de demissão, com destaque para indústria e comércio. Os dados mais recentes da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, confirmam a perspectiva de desaceleração do mercado de trabalho. Para o governo, os argumentos não se justificam. A equipe econômica argumenta, contra a tese da estagflação, que a inflação ainda está dentro da meta, com tendência de perder fôlego. E o desemprego permanece baixo, com possibilidade de elevação apenas moderada.

Fonte: Diário do Comércio