Direito de descanso dos motoristas


Estamos repetindo o tema do direito de descanso dos motoristas profissionais, já abordado nesta coluna, mas que continua sendo objeto de pressão política por parte de alguns embarcadores. Por isso, é necessária a utilização deste espaço para esclarecimentos que seguem.

Hoje quem é contra a nova legislação que determina, em outras normas, a jornada de trabalho dos motoristas profissionais, é apenas um grupo de embarcadores poderosos ligados ao agronegócio e parte do governo que querem continuar se beneficiando de um frete rodoviário barato para aumentar seus lucros em detrimento da sociedade que paga a diferença.

Não podemos andar na contramão do desenvolvimento. Defendemos uma melhor remuneração para os agricultores através do investimento em infraestrutura adequada ao transporte da safra brasileira, com o deslocamento do transporte do modal rodoviário para o aquaviário e ferroviário.

Nossos agricultores merecem todo o reconhecimento pelo mérito que tem em desenvolver a tecnologia e fazer de nosso cerrado terra fértil para produzir grãos de alta qualidade e em quantidades cada vez maiores e aferirem lucro nesta atividade. No entanto, vemos que não basta o desenvolvimento da tecnologia em plantio e colheita, mas é necessário buscar inteligência para todo o processo produtivo que vai da compra das sementes e insumos até a entrega ao consumidor de seus produtos.

Pensando assim, ao criar novas fronteiras agrícolas no centro oeste brasileiro é necessário e urgente exigir do governo a infraestrutura logística para o escoamento da produção. É preciso além da infraestrutura de transportes adequada, o investimento em silos para armazenamento de grãos e outras providências. O caminhão não é lugar adequado para armazenar a safra.

Querem comparar o custo de deslocamento do Brasil com os Estados Unidos e elegeram o motorista de caminhão para pagar a diferença. Lá eles têm silos para estocarem três safras, aqui não existe nem para uma. Nos Estados Unidos o transporte é efetuado por rios e ferrovias, sabidamente mais barato que as rodovias.

Os embarcadores se calaram diante da falta de investimento em infraestrutura e querem colocar nas costas dos motoristas o custo da ineficiência na movimentação da safra de forma equivocada. É hora de pensarmos de forma construtiva, reconhecendo o direito de descanso dos motoristas e unindo forças para reivindicar do governo ações efetivas na construção de infraestrutura no Brasil que viabilizem o crescimento sustentável. Para reduzir custos logísticos no transporte da safra é preciso termos silos nas regiões de produção para o transporte ser realizado no tempo certo evitando filas nos portos como acontece em Santos e Paranaguá. É preciso convencer o governo a investir em ferrovias e no transporte aquaviário, sem tirar verbas do rodoviário que vive sem investimento nas últimas décadas.

Precisamos acabar com o mito de que o Brasil privilegia o transporte rodoviário. Na verdade o Brasil nas últimas décadas não investiu nada em nenhum modal de transporte. Os empresários do transporte rodoviário vêm buscando alternativas, por conta própria, para transportar o que é produzido a qualquer custo, e agora ficamos conscientes de que não podemos sacrificar nossos motoristas que precisam ter o direito ao descanso.

Contamos com o apoio de toda a sociedade, principalmente de nossos deputados e senadores, para barrarem a vontade da bancada ruralista, que tem o apoio da Casa Civil, e quer continuar explorando os motoristas impondo-lhes jornadas de trabalho de dois ou três dias sem descanso.

Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais