Desafio da Sucessão Familiar nas Empresas, especialistas comentam o tema


É mais comum do que se imagina, não é apenas no Brasil, é no mundo inteiro – negócios, empresas e grandes corporações que surgem no núcleo familiar. Normalmente são fundadas pelo patriarca. O grande desafio é fazê-las sobrevirem à segunda, terceira geração. No setor do Transporte de Carga Rodoviário não é diferente.

Foi pensando nesta demanda, que os coordenadores da COMJOVEM Belo Horizonte, Daniel Simas e Antônio Lodi, convidaram especialistas no assunto para ministrarem workshop na manhã do dia 10/07, na sede da Fetcemg. “Empresa familiar é uma empresa próspera, desde que ela se qualifique”, relembra Daniel Simas sobre o conteúdo que aprendeu na palestra de John David, referência mundial neste segmento, em evento realizado pela CNT, em Brasília, no início de junho.

Os palestrantes foram Juliana Costa Gonçalves, especialista em sucessão familiar e Partner Kfamily Business; e Bruno Ribeiro Carvalho, sócio do escritório Martinelli Advogados e especialista na área Societária.


GOVERNANÇA CORPORATIVA

A empresa familiar tem uma importância significativa para o desenvolvimento econômico das cidades, estados e do país. Elas geram ¾ dos empregos e é responsável pela metade do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Na outra ponta, números sobre a mortalidade das empresas familiares chamam atenção. “Apenas 4% chegam a quarta geração. É um dado alarmante”, afirma a especialista em sucessão familiar e Partner Kfamily Business Juliana Costa Gonçalves.

De acordo com consultora e professora associada da Fundação Dom Cabral durante maisd e 14 anos, é preciso dar às famílias empresárias condições, maturidade, conhecimento e condições de desenvolvimento para que elas possam perpetuar os seus negócios e ter uma longevidade perene.

Sabe aquela imagem da secretária que também organizavas festas de aniversário da filha do patrão; o rapaz da informática que faz reparos técnicos dos sócios da empresa? Pois é, usar patrimônio da empresa para questões familiares não existe mais”, afirma a palestrante. “Misturar isso é um problema. É até por questão de segurança”, diz. Juliana Costa Gonçalves destacou a importância da governança corporativa nos negócios e elencou família, patrimônio e empresas como estruturas fusionadas neste tipo de organização. Por isso, pontou a importância de separar bem cada um destes três sistemas.

Ela explica essa mudança de cultura. Há 20, 30, 40 anos o nome do fundador ou fundadora era o nome que tinha crédito no banco e onde começava a fazer tudo envolvendo o próprio nome e os negócios da empresa. “Por isso falamos que o patrimônio, a empresa e a família estão fusionados num sistema de todos juntos. A medida que as novas gerações vão chegando, em que a empresa vai crescendo e desenvolvendo, é fundamental separar o que é o que”, explica.

Segundo ressalta, a família precisa entender que ela não pode misturar, no mesmo lugar, as contas e necessidades particulares. “A empresa não está à disposição da família. Isso é um conceito muito errado. A família é que deve estar à serviço da empresa. E não o contrário”, distinguiu.

COMO SOBREVIVER ÀS BRIGAS FAMILIARES

Família, por ser família, presume-se conflitos internos, brigas. A palestrante mostrou dados que apontam que 60% das empresas familiares fecham por dificuldades e conflitos familiares e, o pior, 50% dessas divergências poderiam ser evitadas.

Segredo para separar isso do mundo dos negócios? Juliana elenca como primeiro passo separar as coisas. “Ao separar o que é família, é família, o que é empresa. é empresa, os conflitos familiares do dia a dia não vão entrar na reunião de segunda-feira. Esse é o primeiro ponto: separar os três sistemas”.

O segundo ponto, conforme enumera, é criar regras – ou seja – aquilo que pode e não pode. Desde uso de bens da empresa (plano de saúde, carro, celular, viagem), passando a até por questões maiores como planejamentos estratégicos. Ela exemplifica: “Antever agora, tudo aquilo que pode impactar no futuro e decidir, neste momento, quais são as decisões: as novas gerações, os novos genros poderão trabalhar na empresas? Em quais condições? Qual o nosso caminho para um processo sucessório?”.

“Sucessor é diferente de herdeiro”, deixa claro. O processo sucessório de muitas empresas ocorrem, conforme pontua, de maneira abrupta: doença ou morte. “Chefes de empresas dedicam 80 mil horas aos seus negócios e apenas 6h à sucessão. É preciso pensar nela, é preciso prepara a sucessão e o sucedido”.

ASPECTOS JURÍDICOS DA SUCESSÃO FAMILIAR

Ao tratar sobre os desafios da sucessão familiar sob um ponto de vista jurídico-legal, no workshop promovido pela COMJOVEM Belo Horizonte, o advogado Bruno Ribeiro Carvalho enfatizou a importância de separar aquilo que é atividade do contador, daquilo que é atribuição específica do advogado.

O erro, por assim dizer, é mais comum do que se imagina e é uma burocracia que pode gerar muita dor de cabeça. “Na construção da empresa, via de regra, o fundador tem os seus assessores de confiança. E no estágio mais preliminar do negócio, é muito comum que o assessor de maior confiança seja o contador, por exemplo. Ao longo da vida vão aparecendo outros”, destaca o sócio do escritório Martinelli Advogados. “O contador tem um papel fundamental no início das coisas: para fins de regularização e formalização e, obviamente, a contabilidade em si”, elenca.

Entretanto, quando se fala em processos que possuem uma feição jurídica muito pesada, explica Bruno Ribeiro, que se demanda uma técnica muito específica para atingir os objetivos planejados pelo fundador e pela família, se faz necessário trabalhar com os profissionais mais qualificados para aquelas questões. “O contador continua, ao longo da vida inteira da organização, tendo um papel muito fundamental, inclusive no próprio planejamento da sucessão de gestão e patrimonial, porque os números costumam ser um driver muito importante com relação a tomada de decisão com relação a isso tudo, até mesmo para a parte tributária”.

ACORDO DE BOCA, EXCESSO DE CONFIANÇA

Acordo fechado apenas na palavra, de boca, entre membros familiares, do dono com sócios, fornecedores, clientes, precisa ser revisto dentro das organizações. Isso porque, explica Bruno Ribeiro, a pessoa traz uma mentalidade de uma cultura de quando o empreendimento era menor, quando se tinha contato mais próximo com aqueles públicos.

Com o crescimento dos negócios, essa falta de formalidade se torna um problema. “Porque o combinado possui muitas vias para ser quebrado. E uma via de quebra do combinado representa um sério risco ao plano como um todo que foi estabelecido”, destaca.

Excesso de confiança no relacionamento ou de conservadorismo financeiro são duas vias de resistência das organizações para se sentar com o escritório de advocacia e formalizar situações. Mas isso, não é uma unanimidade. “A gente percebe no mercado o começo de uma mudança de cultura, principalmente com o envolvimento de gerações mais jovens”, afirma o advogado.