Custo pode cair R$ 13,1 bi por ano


Estudo da CNI mostra que seriam necessários aportes de R$ 54,7 bi no Sul, Norte e Nordeste do país

Para alcançar uma redução de R$ 13,1 bilhões anuais no custo logístico de transporte das mercadorias que passam pelo Sul, Norte e Nordeste do Brasil, seriam necessários investimentos de R$ 54,7 bilhões nas rodovias, ferrovias, portos e hidrovias locais. Porém, apenas 24,6% do valor necessário estão sendo alocados nos projetos em andamento, que somam apenas R$ 13,5 bilhões. O restante - R$ 41,2 bilhões - não saiu do papel ou sequer foi transformado em projeto. A melhoria da infraestrutura nessas regiões beneficiaria diretamente os negócios da indústria mineira, em decorrência do fluxo comercial dentro do país.

O estudo foi divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e tem como objetivo elaborar um planejamento estratégico de infraestrutura, de modo a aliviar um dos mais elevados custos do setor em todo o Brasil, que é o de transporte, segundo a analista de Políticas e Indústria da entidade, Ilana Dalva Ferreira.

Inicialmente, foi detectada a necessidade de elaboração de projetos em 524 trechos nessas três regiões, incluindo todos os modais. Nesse caso, o gasto seria de aproximadamente R$ 193 bilhões. Porém, foram elencados 205 projetos prioritários, levando-se em conta custo e retorno, que demandariam R$ 54,7 bilhões em investimentos. "Nós selecionados alguns projetos principais porque sabemos que a efetivação de obras em 205 trechos seria impossível", afirma a especialista.

Conforme o levantamento, a região Nordeste é a que mais necessitaria de investimentos, com um total estimado em R$ 25,8 bilhões. No Sul seriam demandados R$ 15,2 bilhões e no Norte R$ 13,7 bilhões. Do total, R$ 24,8 bilhões seriam gastos na melhoria e construção de ferrovias; R$ 16,2 bilhões em portos; R$ 9,4 bilhões em rodovias; e R$ 4,2 bilhões em hidrovias.

Caso esses aportes se tornem realidade, levando-se em conta o fluxo estimado de mercadorias em todo o país e que percorrerão essas regiões em 2020, haveria uma redução de R$ 13,1 bilhões no custo logístico de transporte. No Nordeste, espera-se um gasto de R$ 69,4 bilhões para movimentar o volume estimado de produtos. Com as alterações nos modais, espera-se reduzir em R$ 5,9 bilhões, alcançando R$ 63,5 bilhões. Na Amazônia Legal, a queda seria de R$ 3,8 bilhões, saindo de R$ 33,5 bilhões para R$ 29,7 bilhões. E no Sul a redução seria de R$ 3,4 bilhões, ao passar de R$ 47,8 bilhões para R$ 44,4 bilhões.

Descompasso - Apesar de a indústria local precisar do investimento imediato em infraestrutura para aumentar sua competitividade, na prática os aportes não têm acompanhado a necessidade. Para se ter uma ideia, apenas 24,6% dos projetos levantados no estudo estão em andamento, com gastos da ordem de R$ 13,5 bilhões. Para o especialista em trânsito, transportes e assuntos urbanos e presidente da ONG SOS Rodovias Federais de Minas Gerais, José Aparecido Ribeiro, dificilmente os projetos sairão do papel. "Falta vontade política, porque obras em infraestrutura não trazem retorno imediato e não podem ser usadas de forma eleitoreira. Os investimentos são direcionados conforme o bônus político que eles possam trazer", critica.

Os dados específicos da região Sudeste ainda estão sendo levantados, mas a indústria mineira já sofreria os impactos positivos dos investimentos nas demais regiões. O economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) Paulo Casaca explica que há um fluxo comercial entre todas as regiões do país, o que equivale dizer que os custos de transportes das empresas locais também são onerados por problemas na infraestrutura de outras regiões.

Para o consultor da área de relações com o mercado do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Luciano Medrado, só o investimento em infraestrutura não seria suficiente para reduzir o custo logístico do transporte. "Existem questões como a burocracia para desembarque de mercadorias nos portos e a falta de mão de obra qualificada nessas estruturas que também precisam ser revistas", afirma. Ele explica que para desembarcar um contêiner nos portos nacionais o tempo de espera é de 13 dias, enquanto que em Cingapura, por exemplo, é de apenas dois.

Fonte: Jornal Diário do Comércio Foto: Alisson J. Silva