Caminhoneiro, artigo raro e valioso


A falta de mão de obra carreteira já era um problema sério para as transportadoras antes da Lei do Descanso (12.619), publicada há pouco mais de um ano. Agora, tornou-se ainda mais grave, uma vez que nenhum motorista (nem os autônomos) pode mais fazer jornadas diárias de até 16 horas, como era comum. Para contornar a situação, as empresas estão se virando como podem: tem patrão pegando novamente no volante, tem gente vendendo frota para os funcionários se tornarem agregados, e até empresa chamando aposentados para voltarem ao trabalho

É a lei da oferta e da procura: quanto mais abundante uma mercadoria, menor valor ela tem; quanto mais rara e disputada, mais valorizada. Essa regra também vale para a força de trabalho. Os caminhoneiros, categoria sofredora e geralmente muito mal paga, estão diante de um bom leque de oportunidades atualmente. Tanto os autônomos quanto os empregados podem se beneficiar da situação, principalmente os mais preparados. Neste mês do caminhoneiro, a Carga Pesada foi às empresas e às estradas para verificar como anda a vida de uns e outros, agora que a Lei do Descanso criou limites de jornadas de trabalho diferentes para as duas categorias: 56 horas semanais para motoristas empregados e até 84 horas semanais para os autônomos. revista-carga-pesada-168-marcelo-teixeira-honorioEm maior ou menor grau, a maioria das transportadoras depende do trabalho de terceiros, embora a frota própria seja indispensável, principalmente para atender clientes mais exigentes. Seja qual for o caso, uma conclusão imediata é esta: nunca a figura do motorista, seja ele autônomo ou empregado, mereceu tanta atenção. Para o motorista Marcelo Teixeira Honório, 43 anos, que aparece na capa desta edição, a vida mudou muito no último ano. Morador de Nova Friburgo (RJ), ele trabalhava na Del Pozo, de Ponta Grossa (PR). A empresa começou a vender caminhões financiados para os empregados (leja mais) e ele comprou um. Tornou-se empresário. Agora, já está pagando o segundo. O primeiro, um Mercedes 2540 ano 2008, custa R$ 5.300 por mês. E o segundo, um Volvo FH 380 ano 2006, R$ 5.200. “Eu faturo brutos uns R$ 35 mil por mês (com o primeiro veículo), o que dá R$ 8 mil de ganho, depois de pagar as despesas do caminhão e a prestação”, afirma Honório. Como empregado, tirava de R$ 2.800 a R$ 3.600. Ele puxa cimento de Cantagalo (RJ) para a capital fluminense – e está contratando outro motorista para dirigir o segundo caminhão. Morador de Xaxim (SC), Laíres Mariane, 41 anos, fez o caminho inverso. Era autônomo, mas passou a empregado há cinco anos. “Autônomo tem que ter um caminhão bom; depois de cinco anos, já dá muita despesa de manutenção”, justifica. O dele tinha sete anos. Com o dinheiro, ele comprou uma casa. Hoje, ganha de R$ 3 mil a R$ 3,5 mil. Laíres conta que a Oswaldo Transportes, para quem trabalha com cargas frigorificadas, “está se adaptando” à Lei do Descanso. “Hoje, eu começo às 6 da manhã e paro às 8 da noite, duas horas e meia a menos que antes”, informa. Apesar de satisfeito com a vida atual, o caminhoneiro catarinense não descarta voltar a ser autônomo. “Vou esperar o ano que vem para ver como fica o mercado.”

Autor: Nelson Bortolin Foto: Leo Horta / Agência Uai Fonte: Guia do Transportador - SP