Brasil perde competitividade por problemas na infraestrutura
Relatório do Fórum Econômico Mundial aponta problemas no sistema de transportes. Tema foi debatido no Congresso da ABTC. O Brasil perdeu seis posições no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial. Segundo o Relatório de Competitividade Global para 2013-2014, divulgado pela organização nessa quarta-feira (4), o país caiu do 48º para o 54º lugar no índice global. Por trás da piora, um dos fatores é a má qualidade da infraestrutura. Neste quesito, o país ficou em 114º lugar e a deficiência foi apontada como principal problema para se fazer negócios no Brasil. E quando o assunto é transportes, a colocação piora ainda mais: em qualidade de rodovias o Brasil alcançou a 120ª posição, de portos a 131ª, de aeroportos a 123ª e de ferrovias a 103ª colocação. O estudo avalia 148 economias com base em dados de 5,6 mil organizações internacionais. “O transporte é parte fundamental dos custos de produção e fator determinante para ganho de competitividade frente a outras nações”, diz o economista, professor da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Arbache. Segundo ele, “o transporte aumentou a participação nos custos das empresas, o que é algo muito sério para um país que tem que se fortalecer para enfrentar um mundo em transformação”. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que o custo logístico no Brasil chega a 6,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Para uma comparação, nos Estados Unidos, por exemplo, o valor fica em aproximadamente 4%. Em contrapartida, o investimento feito no sistema de transportes aqui no país é de aproximadamente 0,6% do PIB, enquanto nos EUA chega a 7,7%. “Para dar resposta à demanda, deveríamos multiplicar por cinco o que investimos hoje em rodovias, portos, aeroportos e ferrovias”, diz o coordenador de Infraestrutura do Ipea, Carlos Campos. Segundo ele, o Brasil tem aplicado, em média, R$ 25 bilhões anuais nesta área. O governo federal prevê R$ 470 bilhões para melhorar a infraestrutura nos próximos anos, sendo R$ 242 bi para logística. Os números estão no último relatório “Economia Brasileira em Perspectiva”, divulgado pelo Ministério da Fazenda em abril deste ano. Na prática, os especialistas reconhecem que a dificuldade enfrentada hoje não é falta de recursos, mas sim execução da verba disponível. Carlos Campos explica que, entre 2003 e 2012, o país poderia ter aplicado R$ 167 bi em transportes, mas conseguiu realizar R$ 100 bi. “Estamos deixando de usar recursos orçamentários por razões como marcos regulatórios inacabados e com freqüentes mudanças, emissão demorada de licenças ambientais, desapropriações que acabam judicializadas e projetos deficientes. O que eu chamo de fase pré-obras tem demorado anos, e a sociedade não consegue ver os benefícios dos programas de investimento”, diz o economista. O diretor de Planejamento e Avaliação da Política de Transporte do Ministério dos Transportes, Francisco Luiz Batista Costa, reconhece as dificuldades. “Estamos pagando o preço de décadas sem investimento. Quando conseguimos equacionar a questão financeira, nos deparamos com a falta de capacidade de execução”, diz. Mas salienta que o problema é tanto do setor público quanto do privado, que enfrenta, por exemplo, falta de pessoal qualificado para desenvolvimento dos projetos. “Nós estamos num processo de reaprendizado, de montar uma nova estrutura para retomar o desenvolvimento dos transportes no Brasil”, afirma Costa. Segundo o Ministério, a prioridade é ampliar a integração intermodal para reduzir a dependência do sistema rodoviário, aumentar a integração regional e tornar o transporte mais eficiente do ponto de vista econômico, energético e ambiental. O Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) prevê que quase 60% dos R$ 172,4 bi disponibilizados pela iniciativa irão para ferrovias e hidrovias. As dificuldades enfrentadas pelo setor de transportes com a infrestrutura deficiente foram debatidas nessa quarta-feira (4), durante o XIV Congresso Nacional Intermodal dos Transportadores de Cargas, realizado na sede da Confederação Nacional do Transporte (CNT), em Brasília. As propostas para melhorias no setor foram compiladas na Carta de Brasília, documento elaborado ao final do evento, que contém, também, um resumo das discussões realizadas durante o Congresso. Agência CNT de Notícias [caption id="attachment_5688" align="aligncenter" width="300"] Foto: Julio Fernandes/Agência Full Time[/caption]