Brasil diversifica matérias-primas para avançar produção de biocombustíveis no país


Cana de açúcar, soja e gordura animal são as principais fontes de etanol e biodiesel. O Brasil trabalha para reduzir a dependência das matérias-primas com que são produzidos biocombustíveis, a fim de ampliar a produção e minimizar riscos de desabastecimento caso a produção de algumas delas não corresponda à demanda. Por lei, cinco por cento do diesel deve ser de combustível renovável e a gasolina deve conter 25% de álcool. O objetivo é reduzir o uso de combustíveis fósseis, derivados do petróleo, implementando energias renováveis e que poluem menos o meio ambiente. Hoje, segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME), a maior parte dos cerca de 25 bilhões de litros de álcool anualmente produzidos no país vêm da cana de açúcar; quase 75% dos 2,7 bilhões de litros de biodiesel têm origem na soja; 17% é fabricado a partir de gordura bovina; e o restante vem de óleo de algodão e outras fontes, como o óleo de fritura, por exemplo. Desse modo, a disponibilidade do combustível fica condicionada aos preços praticados e às safras agrícolas. No caso do etanol, pesquisado há 30 anos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Teixeira Souza Júnior, explica que o foco tem sido encontrar meios de ampliar a produção a partir do etanol de segunda geração, em que é necessário um preparo da matéria para obtenção do álcool. Os estudos têm se desenvolvido para que o bagaço da cana, o capim elefante e resíduos de outras culturas, como do arroz, também sirvam para gerar energia. Um passo ainda maior tem sido dado em pesquisas para obter o etanol de terceira geração. Os estudos, que avançaram a partir deste ano, são feitos com microalgas, manipuladas geneticamente. Já o biodiesel, inserido na matriz energética brasileira há 10 anos, chega a uma produção de 2,7 bilhões de litros por ano. A diversificação tem focado em palmeiras, principalmente a que dá o dendê. Além dela, a macaúba e o pinhão manso são outras culturas que podem ajudar a impulsionar a produção do combustível biodegradável, ainda em estudo pelos cientistas brasileiros. Dessas, o dendê é o que está mais avançado: entre 2010 e 2013, a área de cultivo da palmeira duplicou. No entanto, ainda é insuficiente: as plantações não passam de cem mil hectares. Malásia e Indonésia, por exemplo, mais avançadas na cultura, têm 12 milhões de hectares plantados. “A diversificação é importante porque, ao concentrar em uma única matéria-prima, caso haja uma crise daquela produção, o setor sofre maior risco”, explica Manoel Teixeira. Além disso, há interesse também de levar o cultivo para diversas regiões do Brasil e ampliar o número de produtores rurais envolvidos nos projetos: “Quando você desenvolve tecnologias que trazem essa possibilidade, isso gera inclusão social de grupos que antes estavam fora dessa cadeia porque não tinham como produzir determinada cultura”, complementa. Outro desafio é buscar maior eficiência: enquanto a soja rende até 500 litros de biodiesel por hectare plantado, o dendê e a macaúba têm potencial até 15 vezes maior. Os avanços que vêm sendo obtidos estão permitindo o uso de biomassa também pela aviação. O setor, que é responsável por 2% das emissões de gás carbônico na atmosfera, quer estabilizar os índices até 2020, e aposta na bioquerosene como parte da estratégia. Diversos testes já foram feitos por companhias aéreas. No mais recente, em 23 de outubro deste ano, a Gol fez o primeiro voo comercial movido a biocombustível. O querosene teve adição de 25% da substância, feita a partir de bagaço da cana, óleo de milho e gorduras residuais, como óleo de cozinha reciclado. A meta da companhia é realizar 200 voos com biocombustível na Copa do Mundo. Fonte: Agência CNT de Notícias [caption id="attachment_6628" align="aligncenter" width="300"] Foto: Divulgação/Gol[/caption]