Artigo - Licitações não reduzirão prejuízos na BR-381


Serão necessárias muitas ações para acabar com as imprudências

A tão sonhada redenção da rodovia da morte ainda não irá acontecer, apesar da conclusão da licitação de quatro dos 11 lotes previstos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para da duplicação da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares. Não é apenas a baixa representatividade numérica dos trechos licitados na última semana (68 quilômetrosdos303 quilômetrosque devem ser duplicados ao todo) que desanima. É, principalmente, o fato de os locais que terão as obras iniciadas em outubro não serem considerados os mais perigosos a exemplo dos que mais matam como o segmento entre João Monlevade e o Rio Una e o trecho entre Caeté e o entroncamento com a MG-020, ambos sem data para assinatura de contratos.   Venceram as licitações os consórcios que apresentaram a melhor combinação entre preço e preparação técnica, com isso, o Governo Federal conseguiu uma economia de R$ 40,8 milhões diante do teto estabelecido para os trechos. Ironicamente, nema economiagerada nos cofres públicos é capaz de reduzir as perdas econômicas que a sociedade ainda terá na rodovia. Quão mais tardias forem as licitações e mais espaçadas as obras entre um trecho e outro, maior serão os engarrafamentos, os desvios de rota, acidentes e óbitos.   Um estudo que realizei mostrou que quanto menor a dimensão deslocada, maiores são os custos operacionais causados por horas paradas em viagens. Esse impacto pode ultrapassar 80% de acréscimo para uma viagem de 50 km. E esse aumento das despesas no transporte das mercadorias atinge diretamente a sociedade que comprará produtos mais caros ou deixará de ser abastecida.   Esses pontos não querem dizer que as licitações de apenas quatro trechos são ruins, longe disso. As intervenções são necessárias e urgentes. Mas é importante apontar que o planejamento é necessário e que não pode tardar o início das obras dos sete trechos que ainda permanecem em fase de recursos e outras disputas administrativas, que nem o DNIT e nem o Governo Federal sabem quando serão concluídos.   A demora gera descrédito naqueles que dependem da rodovia para se deslocar, apesar de sinalizar que há esperança, se considerado que há mais de uma década tem-se falado em sanar o problema da referida BR, a qual coleciona obstáculos e curvas. E o que não falta são expectativas. A previsão é que a duplicação total da BR-381 reduza diariamente em até 60% o número de mortes associadas no local aos acidentes com colisões frontais e transversais, de acordo análise dos dados do Anuário Estatístico do DNIT.   Assim, entre promessas não cumpridas, prazos incertos e expectativas, fica o alerta para que, quando todas as obras forem finalizadas, ainda permaneçam as intervenções na via. Afinal, serão necessárias muitas fiscalizações e ações educativas para que a boa qualidade do trecho entre Belo Horizonte e Governador Valadares não seja cenário de imprudências.   Renato Marques - Consultor do Setcemg (Artigo publicado no jornal O Tempo - 03/09) [caption id="attachment_5663" align="aligncenter" width="300"] Foto: Portal Uai[/caption]