Artigo - As fortes pressões sobre os custos em 2015 - Por Antônio Lauro Valdívia Neto


A economia brasileira não passa por um bom momento neste ano de 2015. Essa é uma afirmação fácil de comprovar observando os dados econômicos divulgados diariamente. Contudo, a atual situação não pode ser considerada uma surpresa, pois 2014 já não foi um ano dos melhores e já se ouvia de alguns empresários do setor de transporte que, em 2015, o setor iria sentir saudades de 2014.

O cenário de 2015 começou a ser desenhado no final de 2014 quando foi anunciado aumento dos combustíveis. Já no início do ano veio outro (os dois reajustes do diesel somados alcançaram 12,5%). E, não parou por ai, em seguida, houve o reajuste das tarifas de energia elétrica que, em alguns casos, chegou a atingir 50%. Para piorar a situação, houve algumas manifestações de caminhoneiros promovendo paralisações nas rodovias no mês de fevereiro.

Mesmo o ano tendo se iniciado com vários aumentos de custos, o volume de carga transportada estava em um patamar razoável, pelo menos até março, quando a situação piorou bastante. Há relatos de queda de mais de 30% no volume de carga transportada em abril e maio, principalmente, para as empresas que atuam no transporte de produtos industriais. Apesar disso, há segmentos onde a situação não é tão ruim. Por exemplo, estima-se um aumento da safra de grãos entre 4 a 5% este ano. Neste caso, o problema não está no volume de carga, mas no frete, que ainda não atingiu um valor satisfatório, consequência da oferta excessiva de caminhões existente.

E, sem querer ser taxado de pessimista, mas sendo apenas realista, é importante que as empresas que atuam ou usam o transporte rodoviário de carga, entendam que as perspectivas não são boas. Até o final de 2015, deverá ocorrer mais pressão para o aumento do custo do setor. Abaixo, citam-se os principais deles.

Dissídio salarial em maio e junho

As negociações salariais já estão em curso e, apesar de não existir uma forte pressão para aumentos reais dos salários como ocorreu em anos anteriores, há de se considerar a recomposição da inflação ou parte dela, que está batendo em pouco mais de 8,0% no acumulado dos 12 meses.

Essa é uma despesa que, para algumas operações, tem peso considerável, chegando a uma participação de quase 50% dos custos, sendo que em geral ela gira em torno de 20 a 30%.

Desoneração da folha

O governo está lutando para, praticamente, acabar com a desoneração da folha de pagamento concedida no ano passado para o setor. Nesse caso, se ele tiver êxito, haverá um aumento considerável, pois a proposta é que a alíquota que hoje está em 1% do faturamento, passe a ser de 2,5%. A NTC vem trabalhando firmemente no sentido de sensibilizar o governo para o impacto negativo que essa medida, uma vez aprovada, trará para a atividade de transportes; ainda assim é um risco que precisa ser considerado.

Aumentos de combustível

Também é provável que ocorram até o final do ano mais um ou dois aumentos de combustível. Razões para essa conclusão não faltam. Basta citar apenas uma: a situação da Petrobras com o seu caixa baixo e as suas dívidas. O governo já deu sinais claros que esse reajuste deve acontecer em breve, quando não quis se comprometer com os caminhoneiros por mais seis meses sem reajuste, durante as manifestações no início do ano.

Esse também é um insumo cuja participação é grande nos custos das empresas transportadoras, em especial, nas operações onde os veículos tem uma quilometragem rodada alta.

Aumento da participação dos custos fixos

A maior pressão sobre os custos do transporte vem mesmo do “aumento” do custo fixo. Resultado da retração do mercado, cuja consequência é a diminuição do volume de carga transportada, que, junto com a impossibilidade de diminuição dos custos fixos na mesma proporção, provoca aumento da participação desses custos nas unidades transportadas, encarecendo assim o serviço de transporte.

Há ainda, uma boa chance de que o ajuste do Governo imponha aumento em outros impostos e contribuições como PIS, COFINS e IOF entre outros.

Enfim, o ano não deve ser bom. Portanto, os empresários do setor devem ter o bom senso, apesar de o mercado não favorecer essa atitude, de trabalhar forte na valorização do seu serviço, na redução dos custos, eliminando os desperdícios, e no aumento da produtividade. É importante, neste momento, que se tome muito cuidado com os acertos comerciais para que esses não contribuam para a piora de uma situação, que já está, e tende a ser, muito mais complicada.

Aproveitamos para convidá-lo para discutir sobre este assuntos e outros de grande importância para o setor no CONET em 6 de agosto.

*Especialista em transportes; Engenheiro de Transportes, pós-graduado e Mestre em Administração de Empresas. Assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas – NTC.