Arrocho no crédito pode atrasar obras de aeroportos e rodovias


O arrocho no crédito pode comprometer o cronograma de obras das concessões de rodovias e aeroportos. As empreiteiras que precisam de empréstimos de longo prazo para tocar as obras estão tendo dificuldade para fechar financiamentos. Um dos grandes problemas é conseguir a carta fiança de um banco privado para garantir o empréstimo de longo prazo no BNDES.

As restrições se avolumaram. As cláusulas que preveem o vencimento antecipado da dívida exemplificam bem a situação. Antes, limitavam-se a casos de inadimplência ou redução de nota de classificação de risco. Agora incluem uma novidade: o banco pode antecipar a cobrança da dívida se o tomador for incluído em investigações da Polícia Federal e do Ministério Público ou condenado, mesmo que em primeira instância, na Justiça, a pagar credores.

Mesmo com o crédito secando , há quem acredita que é questão de tempo para o cenário melhorar. O importante é resistir. Esse é o caso da UTC. A empresa tem um volume considerável de negócios no setor de óleo e gás, está na lista das 25 empresas que estão sob quarentena na Petrobrás e o seu presidente permanece preso. Ainda assim, garante que não tem ativo à venda - apesar de a reportagem conversar com interessados em sua participação no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). Em nota, também disse serem "infundados” os boatos de que pediria recuperação.

Banco chinês.

Outra construtora, considerada frágil, mas que trabalha para se preservar, é a Engevix. Um dos principais executivos da empresa, José Antunes Sobrinho, diz que, com a venda da participação que o gru- po detinha na Desenvix, do setor de energia, por R$ 500 milhões, está sendo possível reestruturar a dívida da empreiteira. Além disso, parte dos recursos está sendo destinada à construção da usina hidrelétrica de São Roque, em que havia exigência do BNDES de aporte de recursos para liberação do financiamento de longo prazo.

Segundo Antunes, a Engevix tem negociações avançadas com um banco chinês que não está preocupado com a Lava Jato e exige em troca dos recursos o uso de equipamentos da China no projeto. Para Antunes, no entanto, seria importante para o grupo fechar o acordo de le-niência proposto pelo governo. Assim, a empresa colabora com as investigações, se livra de possíveis processos por improbidade e destrava o crédito.

O que preocupa é que as restrições ao crédito têm atingido todas as empresas, mesmo as maiores, como Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. "Obras na fase inicial exigem grande volume de investimento: sem financiamento será complicado para qualquer uma cumprir o cronograma e vamos assistir algo com o filme ‘OHL -A missão”’, diz um executivo, numa alusão a empresa espanhola que não conseguiu cumprir as obras previstas e vendeu as concessões sem cumprir a maioria dos contratos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Foto: Arquivo CNT