Anel Rodoviário fechado eleva frete
A restrição à circulação de veículos de carga no Anel Rodoviário, proposta pelo prefeito Alexandre Kalil (PHS) na última segunda-feira, em uma tentativa de reduzir o número de acidentes na via, pode afetar diretamente o bolso dos belo-horizontinos. A tendência é a de que o preço de produtos de menor valor agregado, como alimentos, aumente devido à elevação do frete. Isso significa que colocar comida na mesa deve ficar mais caro.
A participação do frete nos hortifrútis, por exemplo, gira em torno de 15% do valor final, conforme afirma o vice-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais, Vander Costa. Embora ele não mensure o índice do reajuste, a expectativa é a de que haja um aumento considerável nos produtos. “Não sabemos precisar o impacto real do frete porque depende do tipo de produto, de quanto ele custa e de onde ele vem. Mas sabemos que quanto mais barato o item, maior o impacto. Os alimentos vão sofrer mais”, diz.
O custo deve aumentar devido à necessidade de as empresas se readequarem às novas regras de circulação na via. As normas estão em elaboração pela Prefeitura de Belo Horizonte. Apesar de a mudança ainda não ter sido detalhada, sabe-se que caminhões ficarão proibidos de transitar entre os quilômetros 536 e 544 do Anel Rodoviário, no trecho entre o bairro Olhos d’Água e a avenida Amazonas. A previsão é a de que a interdição aconteça nos horários de pico.
Sem possibilidade de acessar a cidade, os caminhoneiros precisarão, muitas vezes, parar na estrada por um determinado período. Devido aos equipamentos eletrônicos de monitoramento de viagens, o presidente do Fetcemg acredita que não será necessário interromper as viagens por muito tempo. Mas paradas, mesmo que breves, serão inevitáveis. E, como diz o ditado, “tempo é dinheiro”. “Hoje, conseguimos mapear com facilidade a viagem dos motoristas. Sabemos a velocidade média por hora, temos todos os detalhes. Dessa forma, conseguiremos fazer com que ele saia em um horário que permita a chegada dele após a interrupção no tráfego, ou um pouco antes. É possível minimizar o problema, principalmente se for para poupar vidas”, diz.
O gerente de logística da Expresso Nepomuceno, Bernardo Rodrigues, concorda que a medida é válida para evitar acidentes. Mas ressalta que a improdutividade dos caminhões vai encarecer o frete. “Quem depende da via vai perder produção. Será necessário reduzir o número de viagens e o custo será repassado. Estamos aguardando os detalhes para saber o tamanho dos caminhões que serão proibidos de entrar na cidade”, diz o gestor. Com sede em Lavras, a frota da Expresso Nepomuceno conta com 2,7 mil veículos.
Para o diretor de Operações da Tora Transportes, Altair Alvim Júnior, é necessário que haja esclarecimentos sobre as estruturas que serão oferecidas aos trabalhadores. “Se o caminhão precisar parar antes do ponto de interdição, haverá banheiros e vestiários? Precisamos de um ponto de apoio para os motoristas. Não é só falar que vai fechar”, cobra.
CNT aponta que 69,8% das rodovias no Estado são regulares, ruins ou péssimas
Além dos gastos com a paralisação do tráfego no Anel Rodoviário, as más condições das vias têm reflexo direto no preço dos produtos vendidos ao consumidor. Conforme pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) sobre as Rodovias, realizada este ano, vias em condições precárias, esburacadas e sem sinalização, por exemplo, podem impactar em alta de 32,4% no frete. Ainda s segundo o levantamento, 69,8% das rodovias que cortam o Estado foram classificadas como regulares, ruins ou péssimas.
O investimento necessário para corrigir os erros indica o tamanho do problema. Em caráter emergencial, R$ 9,2 bilhões precisariam ser aportados para solucionar as falhas mais aparentes e melhorar as condições das vias. Vale ressaltar que o valor, estimado pela CNT, não inclui obras estruturais.
Minas Gerais possui a maior malha rodoviária do país. São 15.076 km de estradas. Quando considerada apenas a pavimentação das vias, 58,1% foram classificadas como regulares, ruins ou péssimas. A grande quantidade de buracos, conforme vice-presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Minas Gerais, Vander Costa, acarreta em gasto excessivo de combustível e maior necessidade de manutenções. “As rodovias que cortam Minas estão muito ruins. E o impacto é grande. Quando há interrupção da via para manutenção, o caminhão que faria quatro viagens acaba fazendo três. Ou seja, o custo que poderia ser divido por quatro, agora é divido por três. E é isso que vai acontecer com a paralisação no Anel”, diz Costa.
Outro ponto que encarece o custo da carga são os erros de geometria das vias. Conforme a pesquisa da CNT, 84,5% das estradas pesquisadas não possuem condições satisfatórias de geometria, que incluem tipo de rodovia (pista simples ou dupla), presença de faixa adicional da terceira faixa, pontes, viadutos, curvas perigosas e acostamentos.
A sinalização também chama a atenção. O estudo apontou que há problemas em 57,8% da extensão avaliada. A pesquisa identificou, ainda, 13 trechos com erosões na pista, sete com buracos grandes e três com quedas de barreira que colocam em risco o condutor ao trafegar pelas rodovias mineiras.