Ameaças que não estão no mapa


Em temporada de viagens, avaliação do próprio Dnit, responsável pela conservação de BRs, indica que 35,5% dos 8 mil quilômetros monitorados escondem riscos para motoristas

Buracos e tráfego pesado: problemas associados em rodovias como a 040

Com a chegada das férias e recessos de fim de ano, quem parte em busca de descanso pode se ver às voltas com armadilhas que não estão nos mapas rodoviários, nem no GPS, mas têm potencial para provocar estragos e até tragédias. Mais de um terço das rodovias federais em Minas estão em condições ruins e demandam cuidado de motoristas que seguem para o interior e outros estados. De acordo com levantamento do Estado de Minas sobre relatório de trafegabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), dos 8.090 quilômetros de 25 vias monitoradas por técnicos regionais do departamento, 2.855 (35,3%) não apresentam condições ideais de segurança, seja por buracos, erosões e obstáculos na pista ou obras de reparos do pavimento. Especialistas criticam a política adotada pelo Dnit, que consideram meramente recuperadora em vez de ser preventiva e promover a ampliação do sistema viário. O levantamento mostra que algumas rodovias, como a BR-154, com 47,6 quilômetros entre Ituiutaba e Crucilândia, no Triângulo Mineiro, e a BR-367, com 217,6 quilômetros entre Jequitinhonha e a divisa com a Bahia, no Vale do Jequitinhonha, têm 100% do traçado comprometido. Em meio ao desafio de controlar o tráfego nessas condições, na sexta-feira, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) lançou a operação Rodovida, para fiscalizar abusos e tentar reduzir os acidentes durante o Natal e o réveillon, quando é esperada ampliação de tráfego em até 40%. Das vias que ligam a capital mineira a destinos no litoral e no interior do estado, a PRF destaca como mais problemáticas a BR-381, sentido Governador Valadares, conhecida como Rodovia da Morte – onde três pessoas morreram em acidente ontem, na altura de Nova União –, e a BR-040, sentido Rio de Janeiro. “A BR-381 inspira mais cuidados, devido ao grande fluxo de veículos que seguem para o Vale do Aço e para os litorais da Bahia e do Espírito Santo. Apesar de ter muitas curvas e traçado de apenas uma pista em quase todo trecho, o número elevado de radares tem reduzido os acidentes”, disse o porta-voz da corporação, inspetor Aristides Amaral Júnior. O que torna a BR-040 no sentido Rio de Janeiro ruim, de acordo com o inspetor, é a má conservação do pavimento, diante do intenso fluxo de automóveis. “É a rodovia federal que cruza a Região Metropolitana de Belo Horizonte que está em pior estado e está recebendo muitas obras nesta época, justamente para melhorar a conservação. Por causa da presença de máquinas e de operários na estrada, e também de alguns trechos precários, é preciso cautela, principalmente entre Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete (Região Central)”, afirma o policial. O inspetor adverte ainda para o risco do excesso de velocidade e das ultrapassagens perigosas, que são as maiores causas de acidentes com mortes. “É preciso muita atenção e planejamento para as viagens. A PRF recomenda uma boa revisão no veículo. Os pneus são muito exigidos e devem estar em bom estado. A parte elétrica é muito demandada, por causa dos para-brisas, e mesmo com chuva fraca, deve-se acender os faróis baixos e redobrar a atenção”, aconselha. Armadilhas antes das férias Para chegar a alguns dos destinos mais procurados pelos mineiros, motoristas enfrentam estradas com crateras, erosões, trincas no asfalto ou operações tapa-buracos emergenciais Rodovias em situação precária estão no caminho dos destinos mais procurados pelos mineiros, especialmente de quem parte de Belo Horizonte. De acordo com o monitoramento das condições das rodovias feito pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), condutores que pretendem chegar ao litoral do Rio de Janeiro pela BR-040 ou a cidades da Zona da Mata mineira, como Juiz de Fora, serão obrigados a enfrentar pelo menos 99,8 quilômetros de asfalto com crateras, trincas, estreitamentos de pistas sobre pontes e operações tapa-buraco em andamento durante o período. A extensão corresponde a 34% dos 295,8 quilômetros sob jurisdição do departamento. Os demais 150 quilômetros até a capital fluminense são privatizados, com cobrança de pedágio, por isso estão em condições melhores e com pistas duplicadas, com acostamentos e separação entre os sentidos de direção. O Dnit recomenda atenção especialmente no trecho que compreende o acesso à cidade de Ouro Branco, entre os municípios de Congonhas e Ouro Preto, na Região Central do estado, no segmento de Conselheiro Lafaiete, e entre as cidades de Barbacena, Oliveira Fortes e Santos Dumont. Nesses locais, os alertas são para buracos e estreitamentos de pista. “O trecho se encontra em obras de revitalização. Sinalização vertical (placas) em bom estado e a horizontal (pinturas e faixas) em estado regular. Durante período chuvoso podem surgir buracos. Operação tapa-buracos em andamento”, informa o departamento responsável pela qualidade das rodovias. No trecho que vai do Anel Rodoviário de BH até as proximidades do trevo de Ouro Preto, uma operação de recapeamento é feita às pressas para tentar recompor o pavimento antes dos recessos de fim de ano e da intensificação das chuvas previstas para o período. No restante do caminho, até Conselheiro Lafaiete, o asfalto antigo está muito desgastado e apresenta fissuras e abatimentos em muitos trechos. Há buracos e também remendos altos, feitos em operações emergenciais. Como os veículos trafegam acima de 80 km/h, velocidade máxima permitida na maioria do trecho, motoristas e passageiros experimentam muita trepidação causada por essas irregularidades. Em certos trechos é preciso desviar de buracos, quando há espaço, para evitar danos a pneus e rodas. Manobras consideradas arriscadas, sobretudo devido ao tráfego intenso de carretas que trabalham em mineradoras ao longo da estrada. “Quando não é o asfalto ruim, cheio de buracos, são os caminhões que trafegam com excesso de velocidade. Com as férias vamos precisar ter o dobro de atenção nesta estrada”, avalia um dos usuários frequentes da rodovia, o vendedor Otávio Guedes, de 36 anos. O circuito das cidades históricas passa justamente pela rodovia BR-040. Com o agravante de que a estrada que se conecta a ela e leva a Ouro Preto e Mariana, a BR-356, se encontra em mau estado em todos os 90 quilômetros do trecho. O Dnit emite alertas de “atenção” e “cuidado” na estrada devido a buracos, trincas e trechos em obras em Nova Lima, Itabirito e Ouro Preto. Uma aventura rumo ao litoral Quem segue para o Vale do Aço, pela BR-381 ou continua depois rumo à Bahia, pela BR-116, ou Espírito Santo, via BR-262, enfrenta 58 quilômetros de estrada em situação crítica, onde o Dnit recomenda ao usuário “cuidado”. O trecho se localiza entre Coronel Fabriciano e os acessos a Jaguaraçu e Santa Maria de Itabira, na região do Rio Doce. O Dnit informa que há buracos nesse segmento, uma grande depressão no km 277,4 e erosão no acostamento do km 284,9. Rejeitada nos leilões de privatização, a BR-262, de João Monlevade à divisa com o Espírito Santo, se encontra em situação péssima, de acordo com o monitoramento do departamento. São 196 quilômetros de muitos buracos, pavimento irregular e erosões que provocam estreitamentos de pista em Martins Soares, Reduto, Manhuaçu, Matipó, Abre Campo, Santo Antônio do Grama, Rio Casca, São Domingos do Prata e Bela Vista de Minas. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) prevê uma saída intensa de veículos de grandes cidades, como Belo Horizonte, mas menos concentrada devido às principais datas, 25 de dezembro (Natal), e 1º de janeiro (réveillon), caírem no meio de semana, em quartas-feiras. “Prevemos uma dispersão mais pulverizada, mas vamos ampliar a fiscalização, porque ocorrerá um incremento importante de tráfego e as chuvas aumentam os perigos para os motoristas”, disse o porta-voz da corporação, inspetor Aristides Amaral Júnior. “O fato de as datas não serem feriados prolongados pode aumentar as viagens com destino a cidades do interior de Minas Gerais”, disse.

Foto: Estado de Minas Fonte: Jornal Estado de Minas