Alto risco
A falta de fiscalização pelo poder público e a imprudência e a negligência de motoristas aumentam o risco de acidentes como o ocorrido no Rio de Janeiro, na terça-feira, que matou cinco pessoas depois de um caminhão com a caçamba levantada derrubar uma passarela. O perigo ronda vias como o Anel Rodoviário e a BR-356. Recentemente, foram registradas em BH ocorrências semelhantes à da capital fluminense. Para complicar, algumas estruturas não têm nem sequer placa informando a altura, o que agrava o risco.
O EM flagrou várias passarelas sem aviso de altura. Motoristas que seguem da Savassi para o Bairro Betânia, na Região Oeste, passando pelo Anel, verão indicação desse limite em apenas duas estruturas: na passagem de pedestres da Avenida Nossa Senhora do Carmo, próximo à Igreja do Carmo, Centro-Sul, e na BR-356, perto dos motéis - ambas com 6m de altura. Em outros cinco trechos não há sinalização: na altura do número 1.900 da Nossa Senhora do Carmo; na passarela de acesso ao BH Shopping, na BR-356; e em três pontos no Anel (bairros Olhos D'Água, Bonsucesso e Betânia). No Bonsucesso, no Barreiro, a travessia está amassada, sinal de que já foi alvo de algum caminhão. Tanto a 356 como o Anel são rota de veículos de carga.
A BHtrans informou que na via urbana a sinalização de altura é obrigatória. Nos trechos de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o supervisor da unidade de Contagem, Davidson Matos Carvalho, informou que as estruturas foram projetadas para indicar a altura e atribui a possíveis furtos a falta de algumas placas: "É aconselhável que qualquer obstáculo com restrição de altura tenha essa indicação, pois o condutor precisa saber."
A altura mínima de passarelas em vias urbanas é de 4,5m e, em área de rodovia, de 5,5m. Os caminhões, por sua vez, segundo resolução do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), devem ter, no máximo, 4,4 m, incluindo a carga. No caso de cegonheiras, o limite sobe para 4,95m. Por isso, quando transportada carga especial, cujo tamanho ultrapassa as medidas padrões, a empresa responsável deve procurar os órgãos de trânsito para traçar a rota. Só no Anel são 24 passarelas. As mais baixas, com 5,40m, ficam no Bairro Santa Maria e no Dom Bosco, Noroeste de BH. A mais alta, com 6,97m, está no km 538, na passagem do viaduto da Via do Minério, no Barreiro.
O supervisor do Dnit relata que avarias nas estruturas causadas por veículos de grande porte são comuns - geralmente, provocadas por esbarrão. Quando o motorista acha que dá para passar ou ignora a altura quando ela é informada, a conta dos reparos acaba ficando para os cofres públicos. Isso porque, se não for um acidente que cause a retenção do veículo, dificilmente o infrator é identificado. "Falta fiscalização. Não temos como saber quem causou o dano ao patrimônio", lembra. Quando o condutor é localizado, é feito boletim de ocorrência e, depois de recuperado o dano, a fatura é enviada para quem o causou. Se houver recusa do pagamento, o problema é resolvido na Justiça.
"Existem cargas mais altas e, por isso, às vezes, ela bate em passarelas e viadutos. Esse tipo de material tem autorização especial, mas o motorista erra o calculo e acaba batendo, ressaltou o tenente Geraldo Donizete, da Polícia Militar Rodoviária (PRMv).
CONTROLE
O consultor em trânsito Osias Batista atribui a imprudência e a negligência à falta de rigor no controle policial. "Ocorrem vários acidentes desse tipo na Europa, de a caçamba abrir ou o equipamento falhar. Mas como conseguir parar o motorista na hora? É preciso fiscalização pesada." Segundo ele, "o brasileiro não tem a cultura de que é preciso tomar todas as precauções, porque está manuseando equipamento de alta periculosidade, que é um carro ou um caminhão. "O mais importante é obedecer as regras, não só porque são passíveis de multa, mas porque aquilo mata. Ter isso em mente, primeiro, para não matar e, segundo, para estar ciente de que será punido severamente se matar", afirmou.
Fonte: Jornal Estado de Minas