Adoção do novo diesel é pequena em Minas


A transição dos frotistas mineiros para o motor Euro V, com a substituição do diesel dos tipos S-500 e S-1800 pelo S-10 (com menor teor de enxofre), deverá ser mais demorada do que nos estados limítrofes. A principal explicação é o fato de a economia mineira ser pautada prioritariamente por produtos de baixo valor agregado, o que inviabiliza um aumento dos fretes para cobrir a elevação dos custos na utilização do transporte de carga. Com a pouca demanda, o preço médio do novo combustível em território mineiro é o mais baixo da região Sudeste, mesmo com a tributação incidente sendo a mais alta.

"As empresas que já começaram a utilizar os caminhões com motores Euro V os usam para o transporte de produtos com alto valor agregado porque dá para cobrar um frete mais caro. Mas, no caso de Minas Gerais, a realidade é diferente da encontrada em São Paulo, por exemplo, porque nossa base de produtos é basicamente primária", afirma o consultor da área de relações com o mercado do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcemg), Luciano Medrado.Para ele, a renovação da frota mineira deverá demorar mais de 25 anos para ser efetivada por completo. Isso porque, assim que souberam que haveria uma alteração na legislação, com a obrigatoriedade do novo motor em todos os novos veículos vendidos a partir do início de 2012, os frotistas se anteciparam e ampliaram a frota, adquirindo caminhões com o motor antigo, compatível com o diesel dos tipos S-500 e S-1800. Dessa forma, foram comprados mais veículos do que a real necessidade, o que reflete também na redução da compra de caminhões ao longo do ano passado. " preciso ser feito um programa do governo que estimule essa renovação da frota, senão a realidade não se alterará a curto prazo", afirma. O principal empecilho para a utilização do novo combustível são os custos. Primeiramente, os caminhões com o motor Euro V custam cerca de 15% mais do que os modelos antigos. Aliado a isso, em Minas Gerais, o diesel S10 custa em média 3,4% mais caro do que o comum, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O movimento de baixa procura pelo novo combustível é um dos fatores para que Minas Gerais esteja neste mês com os preços mais baixos de diesel S10 em todo o Sudeste. Enquanto nos postos mineiros o combustível é comprado por uma média de R$ 2,432 o litro, no Rio de Janeiro o valor passa a ser de R$ 2,475; em São Paulo, de R$ 2,448; e no Espírito Santo, de R$ 2,487. Porém, o combustível que é de fato muito usado entre os frotistas mineiros, o diesel comum, apresenta um quadro oposto ao S10. Também segundo dados da ANP, o combustível em Minas Gerais apresentou o maior preço médio do Sudeste e ficou na casa dos R$ 2,350. Já no Rio de Janeiro o valor é R$ 2,305; em São Paulo, R$ 2,280; e no Espírito Santo, R$ 2,320. Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), Paulo Miranda, o preço mais alto do diesel normal no Estado é resultante, principalmente, dos impostos embutidos. Ele explica que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) incidente sobre o diesel mineiro é de 15% enquanto nos demais estados da mesma região é de 12%. Logística - Além disso, também pesam sobre o valor questões logísticas. A primeira delas é o fato de a maior refinaria estar localizada em São Paulo, o que colabora para que os preços sejam mais baratos no estado vizinho por causa da alta escala de produção. E, segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires, o custo para a entrega do diesel em Minas Gerais também é maior. Em decorrência da grande extensão territorial, o custo do frete para entregar o combustível sai mais caro, o que acaba sendo repassado para o produto. Para o diretor da área de comitês técnicos da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), Luso Ventura, ainda existem outros empecilhos, além do preço, para a transição total para o S10. O primeiro deles é a produção e disponibilidade do combustível em todas as regiões do país. "Sabemos que o país é grande e não é em todas as regiões que temos a mesma disponibilidade de diesel. E isso é um problema, que afeta inclusive os preços por questões de oferta e demanda", explica.

Fonto: Alisson J. Silva Fonte: Jornal Diário do Comércio.