A pressão dos embarcadores sobre as transportadoras


A Federação das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), vem recebendo, com frequência, questionamentos de seus associados sobre diversos aspectos da crise que vem afetando o bom funcionamento do setor e criando situações difíceis para as empresas, em especial sobre ações de grandes embarcadores de Minas Gerais. São empresas sólidas e conceituadas no mercado, que estão postergando para 2016 o pagamento aos fornecedores e transportadores. E isso acontece depois de já terem aumentado os prazos de pagamento.

O assunto causa estranheza, porquanto analisados os balanços dessas empresas não se vislumbra problemas de liquidez; ao contrário, a maioria delas é forte aplicadora no mercado financeiro. Por isso mesmo, relativamente ao setor de transportes, segmento composto de pequenas e médias empresas, a postura dos embarcadores não poderia ser mais inadequada.

Vários fatores têm descapitalizado o setor: diminuição da produtividade em função da nova lei do motorista, paralisações e interrupções de vias e aumento do custo dos insumos, principalmente do diesel, nunca repassado pelos embarcadores aos preços da operação do transporte. Vale lembrar que combustível e mão de obra são dois dos principais componentes de custo do transporte.

Não bastasse isso, hoje e nos meses anteriores, vários embarcadores estão reduzindo os preços de suas tabelas de fretes mesmo levando em conta que em 2014 o repasse de preços foi, na maioria dos casos, igual a zero. Os embarcadores conseguem efetivar estas medidas por manterem contratos de adesão, situação garroteada pela diminuição da demanda que impõe a aceitação de tais condições pelas transportadoras.

Ora, não aceitar implica em perder o cliente e não ter como pagar os investimentos anteriores feitos para operacionalizar a prestação de serviços contratada, cenário ruim para quem já enfrenta muitos problemas. Os grandes embarcadores são associados à ANUT (Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga), entidade que, ao que consta, vem orientando essas práticas para grande parte dos usuários.

As medidas são sempre adotadas por várias empresas do mesmo segmento, em um período definido. É uma situação inversa à cartelização e causa perplexidade e apreensão no segmento do transporte, isso porque eles são compradores de serviços desenvolvendo ações programadas de redução de custos, negativas para a sociedade porque atingem toda a cadeia da operação indo esbarrar nos empregados e nas negociações coletivas, traumatizando ainda mais o já combalido sistema social, depauperado pelas ações governamentais dos últimos tempos.

Com preços abaixo do custo e com prazos dilatados de pagamento, as empresas não têm como manter a regularidade fiscal, investimentos em segurança têm que ser reduzidos e fica difícil cumprir todas as obrigações sociais. Neste ano, três políticas foram adotadas por um grupo de empresas, de forma generalizada e em alguns segmentos: (i) não recompor os custos dos prestadores; (ii) aumentar os prazos de pagamento; e (iii) reduzir a tabela de fretes.

Essas posturas, próprias do mercado concorrencial, seriam normais não fosse o grande desequilíbrio de poder de negociação principalmente porque as empresas já fizeram investimentos para operar em outro ambiente e a realocação é difícil em período de baixa atividade econômica.

Neste momento de crise é preciso que haja bom senso e que não se perca a visão de longo prazo. Ações imediatistas no curto prazo cobram, quase sempre, um custo alto no médio e no longo prazo. Repensar é preciso.

FETCEMG – Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais