A força do poder econômico tem limites?


Estamos acompanhando há alguns anos a concentração do poder econômico nas mãos de grandes grupos, os quais argumentam que a centralização é necessária para dar condições de competitividade ao Brasil. Esse fenômeno aconteceu no sistema financeiro, nas indústrias, no comércio com os atacadistas e hipermercados e também no agronegócio, mas ainda é ausente no setor de transportes, que está espremido por dois gigantes: o embarcador (grandes indústrias) e o recebedor de mercadorias.

Conscientes do poder que podem exercer sobre seus fornecedores e na busca de maiores lucros, e não menores preços para terem competitividade, nos últimos anos os embarcadores praticaram grande redução de tarifas, absorvendo todo o ganho de produtividade do setor de transporte rodoviário de cargas. Agora adotam a prática de imporem a dilatação do prazo de pagamento do frete, que hoje já ultrapassa os 90 dias, em busca de atingirem uma meta de ficar até 150 dias sem pagar pelo serviço recebido e realizado!

Até quando vão conseguir reduzir custos nas costas dos fornecedores?

Uma hora o elo mais fraco da cadeia produtiva pode se romper quebrando o mais fraco, mas desestabilizando todo o sistema.

Vivemos uma tensão com a entrada em vigor da lei do descanso do caminhoneiro, quando foi necessário o repasse de custos para o frete a fim de viabilizar o pagamento de horas extras e o próprio tempo de descanso.

Aproveitamos a promulgação da Proposta de Ementa Constitucional (PEC) que regulamenta o trabalho doméstico para indagar: porque só os motoristas rodoviários vão trabalhar sem receber a justa remuneração? Ficar na fila de carga e descarga não é tempo de espera que precisa ser remunerado? Indagamos também porque o frete para o agronegócio não pode ser reajustado para compensar o aumento do custo da mão de obra do motorista, mas, pode subir até 40% nos períodos de supersafra para evitar que esses embarcadores paguem multa para os navios cargueiros que esperam os grãos? É um contrassenso!

Devemos parar de pensar pequeno, apenas no resultado de uma operação ou safra e unirmos toda a cadeia produtiva para exigir do Governo Federal ações efetivas, e não promessas, de investimento em infraestrutura.

Se tivéssemos silos na origem não haveria filas nos portos, o frete rodoviário poderia remunerar empresas e motoristas e o lucro do agronegócio seria maior. Se tivermos, silos, rodovias, ferrovias, hidrovias e portos competitivos o custo de escoamento da safra poderia ser similar ao praticado nos Estados Unidos, exemplo recorrente para justificar a baixa remuneração do frete rodoviário.

Não é justo colocar nas costas do transportador o ônus pelo alto custo logístico, retirando dos bolsos deles a compensação da ineficiência política de não conseguir investir corretamente em infraestrutura.

Vamos pensar grande exigindo investimentos capazes de remunerar toda a cadeia produtiva, pois sem caminhão o Brasil pára e a safra apodrece no campo. Não podemos deixar nenhum elo da cadeia se romper, pois todos são necessários.