Rodovias federais sem inversões necessárias


União investiu em 2012 valor equivalente a menos de 65% do total previsto para o exercício.

Em 2012, o governo de Minas Gerais investiu quase o dobro do governo federal nas estradas mineiras. Enquanto o Estado destinou R$ 2,187 bilhões (dados da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas - Setop) nas rodovias estaduais, a União, segundo informações do Ministério dos Transportes, desembolsou R$ 1,2 bilhão para melhorias na malha rodoviária de sua competência. O valor equivale a menos de 65% do total que estava previsto para o exercício no orçamento federal: R$ 1,9 bilhão.

Minas Gerais é detentora da maior malha rodoviária do país, com mais de 10,6 mil quilômetros de estradas federais. Mesmo com algumas das mais importantes rodovias brasileiras - como a BR-381, conhecida como a Rodovia da Morte no trecho que liga Belo Horizonte a Governador Valadares e, no sentido contrário, é a principal ligação entre as regiões metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte -, Minas está longe de ser campeã em investimentos.

De acordo com a última pesquisa da Confederação Nacional de Transportes (CNT), o Estado é o 13º no ranking de investimentos do Ministério dos Transportes. Os recursos são destinados à realização de obras e recuperação e manutenção das vias. Ao todo, em 2012, foram destinados pouco mais de R$ 113,2 mil por quilômetro sob responsabilidade do governo federal em Minas. Já o Estado, com menor capacidade de investimento, possui cerca de 23,6 mil quilômetros de rodovias - 60% delas pavimentadas - e investiu R$ 92,26 mil/km. Os dados são do portal do governo de Minas.

De acordo com especialista em trânsito, transportes e assuntos urbanos e presidente da ONG SOS Rodovias Federais de Minas Gerais, José Aparecido Ribeiro, a realidade das estradas federais é muito pior do que as de responsabilidade do Estado, "em função de sua importância infinitamente maior tanto no que diz respeito à economia do país, quanto no tráfego de veículos".

"Os gargalos estão todos na malha federal. O Estado, dentro do possível, tem feito a sua parte, com investimentos importantes nas estradas regionais e viscinais. O que parece cada dia mais distante é uma solução real para situação das BR’s", afirmou Ribeiro.

Segundo ele, o que acontece atualmente com a BR-381, é um exemplo da falta de vontade política. A pouca representatividade da bancada mineira no Congresso, somada a projetos ruins e licitações mal feitas, tem feito com que a duplicação da rodovia continue no papel.

"As obras são usadas de forma eleitoreira. Os investimentos são direcionados conforme o bônus político que eles possam trazer. Para o governo federal, em Minas, esse bônus não existe. Chegou-se num nível insustentável", disse.

O professor e doutor em transportes da Fumec, Márcio Aguiar, concorda com Ribeiro. Para ele, é alarmante quando uma política de transporte é transformada em uma "política de transporte partidária". "Existe uma predisposição em não se fazer melhorias que possam beneficiar grupos de partidos oponentes", ressaltou.

De acordo com Aguiar, as rodovias federais mineiras sofrem com mais de 30 anos de atraso, de déficits de investimentos. Na opinião do professor, além da falta de investimentos, há gestões incompetentes, além de problemas históricos no Dnit. "Os projetos são precários", reforçou.

Neste ano - Para 2013, é provável que a realidade das rodovias mineiras não mude. O governo federal prevê R$ 1,3 bilhão para as rodovias mineiras. Já o Estado não divulgou os gastos previstos somente para o atual exercício. Segundo a Setop, serão destinados cerca de R$ 7 bilhões para melhorias nas rodovias estaduais entre 2013 e 2017.

Foto: Alisson J. Silva

Fonte: Jornal Diário do Comércio