Ministério vai discutir sobre pontos de parada para descanso em estradas


O Jornal Nacional mostrou, nessa terça-feira (4), um caminhoneiro que foi de São Paulo a Porto Alegre praticamente sem descansar. Na volta, ele cumpriu as novas regras do descanso obrigatório, que serão fiscalizadas a partir de terça-feira (11). Nessas duas viagens, de ida e de volta, o motorista usou medidores de fadiga. Os repórteres José Roberto Burnier e Marcelo Benincassa mostram os resultados.

“Você pensar e olhar para trás ‘pô, mas fiz tanta coisa errada. Imprudência, velocidade’. Não adianta dizer que não faz porque faz. É aquela cobrança do horário, chegar na hora certa no cliente”, diz o caminhoneiro Marciano Hoffmann.

A coisa errada a que Marciano se refere é dirigir muito e descansar pouco. Uma rotina na vida desse caminhoneiro que, como muitos, recebe por frete. Quanto mais viaja, mais ganha.

Só que quanto mais viaja e menos descansa, maior é o risco de acidente. Foi esse cansaço de Marciano que dois sensores mediram.

Os dados foram analisados no laboratório do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo. O doutor Marco Túlio de Mello há muito pesquisa a influência da falta de descanso nos acidentes de trânsito. Primeiro, ele fala sobre a viagem de São Paulo até Porto Alegre.

“O Marciano teve uma jornada muito pesada, um tempo total de trabalho altíssimo, com muito tempo acordado. Isso faz com que a pessoa tenha uma redução muito grande do processo decisório, ou seja, de decidir. Eu preciso frear, eu preciso acelerar, eu posso ultrapassar ou eu não posso. Automaticamente isso leva um nível de fadiga e uma sonolência muito grande”, explica o especialista do Centro de Estudo em Sonolência e Acidentes da Unifesp.

A equipe do Jornal Nacional chegou a Curitiba por volta de 4h e percebeu que ele já estava exausto. Mello comenta o risco que o grupo correu naquele momento.

“Altíssimo. Porque esse horário, 4h, é o horário que o nosso organismo está menos preparado para resistir ao sono. É o horário que mais nos favorece dormir”.

Na viagem de ida, um gráfico aponta uma grande zona de risco de acidente para Marciano. Na volta, nada.

“O gráfico é diferente na volta porque ele teve tempo para descansar. Aí se a gente observar nos gráficos, em todo o estudo, ele não entrou, em nenhum momento, em risco”, aponta Mello.

Na comparação, fica claro o benefício da lei. Na volta, a viagem foi 12 horas mais longa, mas Marciano dirigiu bem mais descansado. Ele dormiu mais e melhor do que na ida.

“Nós precisamos dar condição para esses trabalhadores executarem a sua função de uma maneira mais correta. Ou seja, eles precisam ter um lugar de descanso. Não adianta ele estar jogado no meio do mato ou em um posto de gasolina que tem um alto índice de assalto e ainda corre risco porque ele não dorme, ele superficializa o sono. É um sono pobre”, ressalta Mello.

Áreas de apoio com a infraestrutura necessária para o caminhoneiro descansar são muito raras nas estradas brasileiras. Apesar de a lei impor paradas aos motoristas profissionais, o Governo Federal vetou o artigo que obrigava as concessionárias de rodovias a construírem as áreas de descanso.

A justificativa do Ministério dos Transportes é que isso poderia aumentar o preço do pedágio.

“Nós vamos colocar em debate em audiência pública essa possibilidade dos novos concessionários incluírem nas suas obrigações essas instalações de pontos de parada. Nas atuais fica muito difícil porque isso significa rompimento de contrato e rompimento de contrato abre uma brecha para várias outras coisas que viriam por trás disso. Então a gente prefere evitar”, diz o secretário de Política Nacional de Transportes, Marcelo Perrupato.

O médico diz que o mais importante é preservar a vida.

“Para que ele volte para casa e veja a filha dele, a esposa dele, e, principalmente, nós tenhamos um trânsito mais seguro, onde as pessoas que estão trafegando na rodovia possam entender que aquele caminhoneiro que está do lado ali está descansado e não vai colocar a vida dele em risco”, justifica Mello.

Assista ao vídeo da reportagem aqui.

Fonte: Jornal Nacional - 05/09/12