Logística: em busca do tempo perdido


É chover no molhado dizer que a competitividade que o Brasil tanto tem buscado implica desatar os nós de sua infraestrutura, reduzir o chamado custo Brasil, ampliar e interligar de modo planejado a malha dos modais de transporte, reduzindo assim o transit time e o custo das operações logísticas que refletem no custo final dos produtos. Seria, caso este texto fosse assinado pela indústria, que vem sofrendo para somar competitividade com tantos custos e entraves. Porém, isso dito por quem opera a logística pode soar, no mínimo, inusitado. Muito da atuação do operador logístico está em gerir toda uma cadeia, desde a chegada do insumo até a entrega do produto final em seu destino, no menor tempo e com o menor custo para o importador. Sendo assim, imagina-se que com a quantidade de entraves que a infraestrutura logística de transporte do Brasil apresenta – em portos, aeroportos, fronteiras, rodovias, ligação entre os modais –, cada vez mais a presença do especialista se faz necessária. Quanto pior o cenário, melhor para o especialista, que buscará soluções para as dificuldades. Na verdade, os entraves logísticos compõem o custo Brasil e reduzem a competitividade do produto brasileiro. Se hoje o operador é necessário, em função das dificuldades que a indústria encontra para gerenciar o door to door em menor tempo e com o menor custo, em um cenário mais funcional, o papel do operador será ainda mais estratégico na busca do diferencial de mercado para cada produto. O compromisso do Brasil com o desenvolvimento sustentável foi reforçado pelo governo federal, com o anúncio de projetos práticos de investimento na infraestrutura. Tais medidas visam atender as necessidades de aumento quantitativo e qualitativo considerável da malha de transportes já a curto prazo para os dois eventos que serão sediados pelo Brasil em 2014 (Copa do Mundo) e em 2016 (Olimpíadas), de início, porém com um legado maior, de crescimento sustentável. O país cresceu na última década e a malha de logística não acompanhou esse crescimento. Hoje ela claramente não é mais suficiente ou adequada à demanda. Em agosto, o governo federal lançou a primeira etapa de um novo pacote de concessões para incentivar investimentos na infraestrutura do país. Esta primeira fase do chamado Programa de Investimentos em Logística prevê a aplicação de R$ 133 bilhões na reforma e construção de rodovias federais e ferrovias. Com concentração excessiva no transporte rodoviário de cargas (mais de 75% das mercadorias vão por rodovias), as barreiras desse modal são as condições das estradas, as variações no preço do combustível, e a incidência de roubo de carga, fatores que acabam encarecendo o frete. Já no caso dos aeroportos nacionais, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que 17 dos 20 principais aeroportos do país, ou 85%, estão em situação crítica. Nos portos, a situação é parecida: o contrato de mais de 77 terminais portuários em 15 portos – entre eles os de Santos e Rio de Janeiro – vencerão no ano que vem e não serão prorrogados. Há que se evidenciar melhorias na malha ferroviária, a partir de investimentos privados. Porém, pelas dimensões do país, ainda há muito que fazer. É preciso pensar também na questão da mão de obra qualificada para atender todo esse “desenvolvimento e aprimoramento logístico”, que vai muito além da simples ligação entre sistemas modais. É possível até que, num primeiro momento, o país precise buscar profissionais no exterior ou quem sabe enviar nosso pessoal para se capacitar lá fora. Esta é a hora e a vez de o Brasil mostrar a que veio, principalmente quanto ao nosso preparo a fim de ampliar a competitividade nacional. O importante é não perder de vista a ligação entre infraestrutura, operação e logística, sabendo sempre que uma depende da outra para chegar ao próximo porto, aeroporto, rodovia e ferrovia, sempre pensando no menor custo e melhor atendimento. É como dizem, vamos arregaçar as mangas e correr literalmente atrás do tempo perdido em busca de um presente melhor e mais alinhado para todos. Fonte: Estado de Minas - 29/10/2012